quarta-feira, 7 de março de 2012

O NORTE FLUMINENSE - 10/01/2012

NAS ASAS DA POESIA
                                                                                            Vera Maria Viana Borges
                   
                    Das Artes a música é a que mais sublima a alma. Há uma simbiose entre música e poesia. A poesia Clássica tem cadência, ritmo, rima. Ela é cantante. Quando cantarolamos alguma melodia, imediatamente a associamos à letra, no caso uma bela poesia e ainda nos remetemos ao seu autor que naturalmente será um poeta.
                    Quando falamos em poesia, não falamos apenas de versos, muitas vezes num texto em prosa pode haver muita poesia. Euclides da Cunha explicando o "gigante nordestino", que com aparente fraqueza se revela diante das adversidades do clima, do tempo, da vida, em "Os Sertões" poetiza: " O sertanejo é, antes de tudo um forte.
                    François Voltaire que viveu de 1694 a 1778 já dizia: "A poesia é necessária ao ser humano. Quem não gosta de versos possui um espírito seco e pesado, visto que os versos são realmente a música da alma." E eu sempre digo: Cultivar as letras é trabalho pela grandeza e glória de um povo. Vivenciar a literatura é fugir das tribulações terrenas, é sublimar-se, ufanar-se, elevar-se às regiões da alma, da sensibilidade; é cultivar o espírito, é libertar a inteligência, libertar da massificação, da violência, do mal-estar dos problemas sócio-econômicos, da discórdia, levando o ser humano a um estágio de paz, a um verdadeiro oásis de amor. A poesia é bálsamo, é lenitivo para a alma. E, quando o poeta sonha vivendo suas emoções, pode-se acreditar que ele mergulha neste oceano de paz e de amor. Ao poeta que sonha, tudo é permitido e seus versos poderão ser faróis a iluminar as trevas da dor, do sofrimento, da angústia e transportar o ser humano a um estágio de paz interior, afastando-o das depressões, neuroses, descrenças. O poeta é arrebatado, transmutado pelo êxtase poético. Então ele será capaz de mudar o mundo, poderá mudar os rumos da humanidade. A palavra tem muito poder. E eu afirmo em uma de minhas trovas: Se de versos fosse a guerra,/ Se canhões soltassem flores,/ Por certo seria a Terra/ Feita de Paz, Luz e Amores. Gostaria de lembrar que o Poeta nasce, mas o escritor de poesia ou prosa, tem que ser feito, para se escrever bem tem que haver estudo para seguir normas gramaticais, normas poéticas. É obrigatório conhecer bem a língua.
                      Rogo aos céus, ao Deus Pai Todo Poderoso para que eu possa usar as palavras e este dom que Ele me proporciona, apenas e tão somente em temas construtivos e que eu me comprometa apenas e simplesmente com o "Belo", o "Bom" e o "Bem". Que meu compromisso seja com Deus, com a Família e com a Pátria.
                    Nós, os poetas costumamos ter nossa vida real e uma vida "subjetiva"... Essa viagem ao imaginário posso explicá-la com nossos refúgios, saídas da realidade... "Macondo é o lugarejo onde os "Cem anos de Solidão" de Gabriel García Márquez são contados. "Macondo é uma cidade fictícia, sugere um lugar que ainda não existe, mas que é construído em sua imaginação; assim como "Pasárgada" de Manuel Bandeira... Queiramos a construção de um lugar que não seja material, mas que tenha o poder de gerar um novo comportamento. Queiramos a Poesia, se você não escreve, LEIA! Ler é um excelente exercício; muito bom para a mente, para a alma e para o coração. Queiramos a Poesia, o Templo da Reflexão, só a reflexão nos faz lançar luzes sobre o que vivemos, sobre cada momento...
                    Já na infância tinha paixão pelas palavras escritas ou faladas. Consumia a Revista "Tico-Tico". Lia e relia. Cinquenta anos após, dentre meus correspondentes o velho e valoroso Poeta Sólon Borges dos Reis que editava e escrevia naquela revista que forrou o imaginário dos meus sonhos. Sonhava com aqueles livros de lombadas atraentes e capas coloridas...
                   Nasci em 1944, já há muito a "Farmácia Normal" de propriedade do Sr Antônio de Souza Dutra, pai de nossa diletíssima Professora - Maria Aparecida Dutra, era ponto da intelectualidade bonjesuense. A cultura literária de Antônio Dutra era conhecida e admirada não só em Bom Jesus, mas em toda a região. Tradutor emérito. Suas traduções do francês, do espanhol, do italiano eram dignas dos originais, eram perfeitas. Foi um dos destacados membros do Conselho Municipal de Cultura do qual é Patrono. Foi poeta, historiador, cronista e jornalista. Possuia a maior Biblioteca de todo o Norte do Estado onde algumas vezes estudando com D. Aparecida eu me extasiava com as estantes de madeira com portas de vidro em todas as paredes, onde se mostravam as atraentes lombadas; uma enorme mesa com cadeiras ao centro. Não devia nada às belas Bibliotecas dos filmes, faltava apenas a escada corrediça. Ele é o Patrono da Cadeira nº 07 da ABDL (Academia Bonjesuense de Letras).
                    Desde a minha mais tenra idade me envolvi com livros, lápis e papel.Todos os meus sentimentos são registrados em prosa e verso; isto faz parte da minha vida. Escrever me traz muito prazer, se às vezes me aborreço, no papel derramo todas as mágoas e acontece uma verdadeira catarse e ainda nasce daí um soneto, um poema, uma crônica. Nem tudo são flores, precisamos ir à luta. Não descuidemos dos nossos sonhos, eles se tornarão reais, mas sejamos comedidos, nem tanto ao feijão, nem tanto ao sonho. A mulher moderna num inaudito esforço, ama, cria filhos, trabalha, estuda, escreve e cultiva arte. Se a cada momento fôssemos rever a nossa situação no mundo, talvez tivéssemos revolta e dor. Mas a alma feminina é muito forte e tem forças e reações de imprevisível capacidade. Assim, com o vigor da alma e como testemunhas do nosso tempo, estamos aqui, lutando por um mundo melhor.
                    Nos arroubos da juventude, desejava conhecer lugares, artistas, escritores, poetas, participar de tertúlias, saraus aqui e acolá. Mas, o amor me fisgou muito cedo, graças a Deus, fui viver a vida real deixando de lado o mundo dos sonhos. Mas "Nas Asas da Poesia" rompi fronteiras, visitei lugares jamais visitados , percorri distâncias abissais sem arredar pé do meu chão, desta terra que tanto admiro, da família que tanto amo.