sexta-feira, 9 de novembro de 2018

MÉDICOS DE HOMENS E DE ALMAS (Publicado no Jornal O NORTE FLUMINENSE - 31 de outubro de 2018)

MÉDICOS DE HOMENS E DE ALMAS   
                                                                                                  Vera Maria Viana Borges
               
                Dezoito de outubro, Dia de São Lucas e Dia do Médico.
            Os médicos que cuidam de nós fazem parte de nossa vida como se fossem de nossa família. Aos sacerdotes apenas confidenciamos as questões de nossas almas mas a eles revelamos os problemas do corpo e da alma. Abrimos para eles as portas de nossos lares, entregamos as nossas queixas e os nossos padecimentos, assim como os dos que nos são caros, e eles com a Ciência, com discrição plena, com dedicação ímpar, proficiência, finura de trato, mitigam as nossas dores. Amigo das horas difíceis que com carinho e desvelo assiste na hora angustiosa da enfermidade.
           Lucas nasceu em Antioquia da Síria e era médico de profissão. Estava muito bem preparado na ciência do seu tempo e conhecia bem a língua e literatura gregas. São Lucas, Lucas ou simplesmente Lucano  autor de um dos quatro Evangelhos da Bíblia e também dos Atos dos Apóstolos  foi o único apóstolo que não era judeu, nunca viu Cristo e tudo o que está escrito em seu Evangelho foi adquirido por meio de pesquisas e do testemunho da mãe de Cristo, dos discípulos e dos apóstolos. Ele nos fala através de seus escritos da “Mansidão de Cristo”.
       “Médicos de Homens e de Almas” conta a história de São Lucas, é um livro cativante e emocionante, é uma leitura fantástica! A célebre autora Taylor Caldwell revela que o escreveu durante quarenta e seis anos e afirma “este livro trata de Nosso Senhor apenas indiretamente. Não há romance nem livro histórico que possa transmitir a história de Sua Vida tão bem quanto a Santa Bíblia”. A vida do apóstolo São Lucas é muito interessante, é um verdadeiro exemplo de fé, força e coragem. Vale a pena viajar na narrativa bem elaborada, rica em detalhes. Sou apaixonada por esta obra, recomendo a leitura; eu particularmente, já fiz várias releituras.
          Momento de muita emoção que merece ser lembrado é o encontro de Lucano com o seu irmão Prisco, o soldado romano que recebeu a incumbência da crucificação de Jesus. Os oficiais de Prisco viram-no desconcertado perante tamanha corvadia.  Viam o seu desespero, os seus olhos apavorados, a sua expressão  tensa e sua ansiedade, enquanto aguardavam a sua decisão. Olhando para o prisioneiro, vendo o seu absoluto sofrimento, exclamou: Vamos acabar com isto em nome dos deuses! Pediu que lhe trouxessem  o vinho,  a taça e também ópio, desejando suavizar a dor do condenado. Gaguejando pediu-lhe que bebesse. Jesus sacudiu a cabeça em negativa, mas olhou-o com gratidão, com olhar suave da mais incrível delicadeza e bondade, assim, Prisco sentiu-se ainda mais aterrorizado. Lançou seu olhar para a cruz do meio com olhos desolados e viu uma única luz na escuridão, enquanto ouvia um jovem oficial dizer com voz trêmula: “Na verdade este homem era um justo!” Prostraram-se de joelhos implorando aos seus deuses auxílio e salvação. Uma enorme náusea tomou conta de Prisco e ele se entregou ao remorso, ficou gravemente enfermo e em fase terminal, relata toda a sua história para o seu irmão Lucano, o magnânimo  médico de homens e de almas. Aflito ele repetia que ficou muito doente e estonteado, que a dor começou no estômago e que ELE o condenou à morte pela parte que tomou em Sua execução. Não, exclamou Lucano, como poderia Deus condenar-te? Ele te amou! Falaste do Seu olhar compassivo, Ele deseja que te aproximes mais, que repouses em Seu coração, e que sejas um com Ele. Ouve, eu te digo que Ele te ama, e que está sempre contigo!”.  Ao narrar, Prisco sentia-se muito cansado. Sua alma sentiu-se aliviada após a narrativa e ele adormeceu enquanto seu irmão juntou as mãos e proferiu longa, sentida e bela  oração, que terminou assim:  “ ...Tem piedade de meu pobre irmão a quem foi ortogado o mérito de ver-te em nossa carne. Ele Te ama e Te conhece.  Dá-lhe paz, dá-lhe alívio para suas dores. Se ele tem de morrer, concede-lhe, então, morte tranquila, sem mais angústia. Não és Tu compassível para com seus filhos? Chamam eles por Ti em vão? Não, jamais eles chamam  por Ti sem Teu auxílio e Teu consolo! Aqui está meu irmão, que Te ama. Sê misericordioso para com ele, e conduze-o para Ti”. Ao sair do quarto os que o aguardavam na sala de jantar espantaram-se e fixaram os olhos nele que brilhava como a lua e exclamou: “Meu irmão conheceu Deus e O viu crucificado e é abençoado por isso!”.  Dois médicos que o assistiam ficaram perplexos com sua cura. Muito depois de todos dormirem, Lucano escrevia o seu Evangelho da Crucifixão.
            Seu encontro com Maria Santíssima é o ápice dos acontecimentos, acontece nas últimas páginas e é o momento mais comovente. Ela fala detalhes desde a Anunciação do Anjo, da visita à sua prima Isabel,  da origem do canto Magnificat, de fatos da infância de Jesus, do amor de seu esposo José pelo Menino, dos brinquedos que ele lhe fazia, e do encontro de Jesus com o anjo do mal, presenciado por Ela. Uma particularidade do Evangelho de São Lucas é o seu amor pela Virgem Maria, nele sobressai o tema mariano. Por isso foi chamado de “Pintor de Maria”, não apenas porque A pintou em tela, mas porque a pintou maravilhosamente no seu Evangelho. 
           Ó São Lucas, glorioso Apóstolo e Evangelista, alcançai-nos a graça de seguir com fidelidade a JESUS que é o Caminho, a Verdade e a Vida. Ó bom e santo médico, que com santas mãos invocando o nome do Senhor, curastes tantos enfermos de tão graves enfermidades, do corpo e da alma, segundo a vontade de Deus, intercedei por nós, por todos os MÉDICOS, para a maior glória, por toda a eternidade. Amém.

sexta-feira, 28 de setembro de 2018

DIAS MELHORES HÃO DE VIR (Publicado no Jornal o""O NORTE FLUMINENSE" - 28 de setembro de 2018)

DIAS MELHORES HÃO DE VIR
                                                                                                          Vera Maria Viana Borges
         É outra vez PRIMAVERA! Tudo passa muito rápido, o tempo é implacável. Dias, noites, anos, horas, minutos e segundos se sucedem. Os pássaros se animam. Ocorre o florescimento de várias plantas. A temperatura vai aumentando e fica mais amena. A natureza se enfeita tornando-se ainda mais bela com coloridas e perfumadas flores. Rosas, girassóis, margaridas, orquídeas, jasmins, hortênsias, helicônias, alamandas, gérberas, hibiscos, lágrimas-de-cristo, bocas-de-leão, crisântemos, violetas, damas-da-noite e outras,  prosperam abundantemente. O cenário é tão belo que nos extasia, nos enleva e nos coloca em sintonia com o Universo. Nasci em meio a encantáveis flores, na terra das mais belas rosas.
        Na sucessão dos dias e das noites, quatro anos se foram e vemo-nos em plena campanha eleitoral. Fecho os olhos e me sinto criança. Mergulho-me na política rosalense. Em 1950 Getúlio Vargas se apresenta como candidato à Presidência pelo PTB, juntamente com Eduardo Gomes (UDN), Cristiano Machado (PSD) e João Mangabeira (PSB). Apoiado também pelo Partido Social Progressista chefiado pelo paulista Ademar de Barros é eleito para o mandato que deveria se estender até 31 de janeiro de 1956, mas foi violentamente interrompido no fatídico 24 de agosto de 1954, com o suicídio do presidente. O rádio mais uma vez nos trazia as notícias. Ficara impressionada com o episódio! No meio da cozinha, atônita, aos seis anos, perplexa, prestava atenção à notícia...
      A política falava “alto” no coração de nossa gente. Tínhamos representantes no legislativo: Abílio de Sá Viana, Carlos Brambila e um outro filho, Gauthier Pontes Figueiredo, rosalense de garra, vereador de 1947 a 1950, com tão vibrante atuação que em 1950 em pleito renhido se elegera prefeito passando a conduzir os destinos do município, tendo sido o segundo prefeito eleito, sucessor  do Coronel Alfredo Ribeiro Portugal.
      Como vibrava o povo rosalense mediante todos estes fatos. “Cabos eleitorais” arregimentavam eleitores, os chamados eleitores de cabresto, para quem executavam permanentes tarefas como registro de filhos, ou outros favores quaisquer. (Capitão Anselmo Nunes)  X   (Gauthier)  X  (Abílio Sá Viana). (PSD)  X  (PTB). Eram acirradas lutas, com discussões, discórdias, disse-me-disse, escutas telefônicas (havia em três fazendas e em dois pontos comerciais na Vila, aqueles telefones antigos de parede), discursos inflamados, boca-de-urna e foguetes. Muito comum após os resultados, ao término das apurações, os mais exaltados soltarem fogos nos telhados, defronte às residências ou até mesmo embaixo dos bancos da praça, ou onde se encontrassem adversários. Depois de tudo passado, tudo voltava naturalmente ao normal e o povo simpático, amigo, hospitaleiro e acolhedor se irmanava unindo forças para a conquista de melhores dias para a amada terra. Anos dourados aqueles! Uma saudade imensa dói, corrói o peito e em remígeo, num suave devaneio, das doces lembranças que me invadem a alma, surgem-me estas reminiscências.
        Hoje estupefata, quase sem ação, vejo o Brasil mergulhado no caos, em momento delicado,  doloroso e difícil. Atravessamos tempestuosos momentos em que somos arrastados por uma política repugnante, repleta de atropelos, num país cheio de incertezas, onde vigora miséria, mentira, roubo, licenciosidade, crime, corrupção e violência. A este tipo de política, eu chamo de politicagem, mesquinha, estreita, de interesses pessoais formada por um conjunto de políticos inescrupulosos e desonestos, salvo poucas exceções.  Já foi dito por Rui Barbosa: “Política e politicalha não se confundem, não se parecem, não se relacionam uma com a outra. Antes se negam, se repulsam mutuamente. A política é a higiene dos países moralmente sadios. A politicalha, a malária dos povos de moralidade estragada.” 
           Tempo de desentedimentos por divergências que acabam se sobrepondo a relações de amizades, profissionais e familiares. As posições divergentes tornam-se embaraço ao convívio harmonioso entre as pessoas. Afinal, valerá a pena se colocar em defesa de uma posição política em detrimento de uma amizade? Essas picuinhas valem muito menos do que o respeito e estima de amigos sinceros e leais.
              A política sem dúvida é uma arte difícil. Exige qualidades incomuns de coragem, abnegação, descortínio e CARÁTER. É uma necessidade e deveria ser baseada em harmonia, respeito e  bem estar social. A politicagem é a pretensão de se levar vantagem, menosprezando o bem-estar comum e os deveres e obrigações para com o próximo. Hoje em dia, com políticos censurados, condenados e desvirtuados fica difícil a escolha. As intenções dos homens são medidas pelos seus atos e não encontramos um nome aureolado de respeito e acatamento para que de olhos fechados possamos dar o nosso voto, sendo assim, precisamos  da Luz Divina para decidirmos. Estejamos cientes que a votação não pode ser arbitrária, existem questões erradas e não podemos votar em candidatos que se propõem a promovê-las. Lembremo-nos, é bíblico e está em PROVÉRBIOS 29, 2: Quando dominam os justos, alegra-se o povo; quando governa o ímpio, o povo geme.” (Leia mais em: https://www.bibliacatolica.com.br/biblia-ave-maria/proverbios/29/). Procuremos escolher o melhor para o BRASIL para que seja sempre honrada a inscrição “ORDEM E PROGRESSO” estampada em nossa BANDEIRA que jamais poderá ser maculada por interesses subalternos. Exerçamos o nosso direito de cidadão com dignidade e firmeza, buscando sempre uma PÁTRIA  livre, amada e feliz onde se possa viver o AMOR em sua plenitude.  Viva o BRASIL!!!
                Alegrem-se nossos corações, sentindo o perfume das flores e ouvindo o canto dos pássaros  nesta PRIMAVERA, com a expectativa do melhor resultado nas urnas. Dias melhores hão de vir.  Que vença o melhor para o PAÍS! 

quarta-feira, 8 de agosto de 2018

O PADRE E O CÃO (Homenagem ao Padre HERBERT DE GIER)


JULHO EM ROSAL

JULHO EM ROSAL
                                                                                                 Vera Maria Viana Borges
              Chega julho, viajo no tempo. As recordações de minha infância em Rosal afloram e daquela época distante rememoro os acordes da Lira ensaiando para o dia de seu aniversário e das belas comemorações, com realce especial às encantadoras “Alvoradas”. Neste ano a amada Lira 14 de Julho completou 96 anos. Não me contive e lhe dediquei os versos que seguem: Ao percorrer altiva a sua trilha,/ Com sopro divinal vai radiosa/ E a cada ano mais e mais rebrilha/ Com alegria infinita e esplendorosa.// Vibra em meu peito e na minh'alma brilha/ A quatorze de julho jubilosa,/ Esplêndida, perfeita maravilha/ Que no compasso segue rigorosa.// Marcha a querida LIRA em alvorada/ Esparzindo os acordes maviosos/ Pelas ruas da nossa terra amada.// Na madrugada fria, sob o orvalho/ Atinge os corações mais ardorosos,/ Com majestoso e artístico trabalho.  Aproximam-se os CEM ANOS,  que eu possa viver para comemorar e que inspiração não me falte para exaltá-la em tão auspicioso acontecimento.
             No dia 26 a Festa de Sant’Ana, nossa amada padroeira, nossa defensora e protetora. Ela mereceu a honra de ser mãe da Virgem Imaculada, avó de Jesus e sogra de São José. Bem pequena, eu acompanhava com mamãe as procissões e recordo com saudade os cânticos dando destaque ao refrão do hino de Sant’Ana: Alegre Sant’ Ana/ Num surto de amor/ Entrega-se ufana/ A lei do Senhor”. A ingenuidade era tamanha que eu entendia - “entrega a sanfona pra lei do Senhor” e assim eu cantava. Fui crescendo, aprendi a cantar corretamente e hoje, é motivo de muito riso. Que nossa Padroeira querida interceda por nossas necessidades temporais e espirituais.
                 No início do mês recebi de amigo muito querido, Dr. Anselmo Júnior Borges Nunes, moço de princípios morais, éticos e cristãos, neto de Sr. Chiquinho Nunes e de Dona Amélia, nossos adoráveis vizinhos lá na santa terrinha, filho do venerando casal Anselmo e Luzia,  um amável  convite para homenagear o Padre Herbert que presta assistência aos  devotos rosalenses, por estar ele completando cinquenta anos de Brasil. Prontamente me pus à disposição. Consultando o travesseiro, imaginei, como escrever algo para quem não conheço? Então pedi ao Anselmo que me falasse algo sobre o homenageado e ele primeiramente me disse sobre Bolton, um lindo cão amigo do sacerdote. Perguntei-lhe se o animal  era o seu fiel escudeiro e ele me disse que sim. Bola rolada, saiu logo o soneto “O PADRE E O CÃO: Zeloso, o sacerdote é timoneiro/ E do dever jamais ele declina./ Do EVANGELHO, ele é o mais fiel luzeiro/ Que nos conduz à fonte cristalina.// Da paz, do amor, da fé é mensageiro,/ Solitário porém após rotina,/ Adota então um cão por companheiro/ E em seu carro com ele peregrina.// Cedinho, ao acender a doce aurora/ E ao pôr do sol na tarde que esmaece,/ Bolton e o Padre partem sem demora.// Com chuva ou sol nas ânsias de uma estrada/ Seguem o rito e o afeto os enternece.../ Bem-sucedidos findam a jornada. 
              Não bastava, precisava algo mais para entrar no clima, no mérito da questão. Anselmo me enviou dados, fatos, fotos e me deparei com uma riquíssima história. Fiquei sensibilizada e encantada com sua trajetória e com sua determinação. Ele tem apenas um irmão gêmeo, ainda residente na Holanda. Herbert De Gier, nasceu aos nove de fevereiro de 1943 em Haia, Holanda, em plena Guerra Mundial. Fez o Ensino Fundamental em Haia e o Ensino Médio em Vught, na Casa de Formação da Congregação dos Irmãos de Nossa Senhora de Lourdes. Consagrou-se à Nossa Senhora em 3 de junho de 1956. Concluiu o Ensino Médio em 14 de julho de 1960. Aos 15 de agosto de 1960, entrou no Noviciado da Congregação e em julho de 1961 começou os estudos para a Formação de Professor. Em 15 de agosto de 1962 fez os votos de pobreza, castidade e obediência. Formou-se Professor em 1965  e trabalhou até 1966 numa Escola de Ensino Fundamental no sul da Holanda. Em janeiro de 1967 chegaram ao Brasil os primeiros Irmãos da Congregação. Em 15 de agosto de 1967 fez a PROFISSÃO PERPÉTUA e em 8 de setembro do mesmo ano recebeu o Diploma do Curso de Professor de Habilitação Completa. Lecionou numa Escola Técnica, em Emmen, no norte da Holanda e ainda no mesmo ano recebeu sua nomeação como missionário no Brasil.
             Há exatamente 50 anos , aos 26 de julho de 1968, na Festa da Senhora Sant’Ana, embarcou no avião e chegou na manhã seguinte em nosso país. De agosto a dezembro fez curso de Língua Portuguesa e Enculturação no Instituto CENFI. Em 1969, matriculou-se no Colégio dos Irmãos Maristas, em Uberaba/MG e fez Curso de Aperfeiçoamento da Língua Portuguesa e História do Brasil com a finalidade de prestar Vestibular na PUC/MG, em Belo Horizonte. No mesmo Colégio ainda em 1969 recebeu o Diploma do 2º Ciclo Secundário em Português, Inglês, Francês e Psicologia. Em 1970, passou no Vestibular e iniciou o Curso de Letras (Inglês e Português). Estudava pela manhã  e dava Assistência Pastoral à tarde numa Capela da Paróquia Sagrados Corações. Em 1974 recebeu o Diploma de Bacharel Licenciado em Letras PUC/MG. Foi arquivista da Cúria em Juiz de Fora. Com um Irmão da Congregação, no Vale do Jequitinhonha deu início a um projeto social na área de ensino, enfermagem e pastoral em Joaíma, Diocese deAraçuaí/MG. Lecionou Inglês e Ensino Religioso. Fazia batizados, casamentos e exéquias. Em 1983 recebeu o certificado de naturalização e em Belo Horizonte iniciou o Curso de Teologia na PUC, formando-se em 1986. Ordenou-se em 22 de fevereiro de 1986 pela imposição das mãos de Dom José Geraldo Oliveira do Valle, então bispo da Diocese de Almenara/MG. Iniciou seu apostolado, como pároco na cidade de Jordânia, pertencente à Diocese de Almenara. Em 2001, veio para a Paróquia Senhora Sant’Ana em Apiacá/ES onde ficou até novembro de 2009 e a partir de então foi morar em Rosal, 3º Distrito de Bom Jesus do Itabapoana/RJ,  atuando na Capela da Senhora Sant’Ana que pertence à Paróquia do Senhor Bom Jesus. 
        Saiu da Holanda sob a proteção de Sant’Ana, no dia de sua festa e não foi coincidência, foi providencial. Ela o amparou em todo o percurso e lhe proporcionou duas comunidades onde é a PADROEIRA, quis que ele ficasse mais junto a ela.  Para as comemorações de tão importante data, escrevi-lhe quatro sonetos. Finalizo com um deles: Cinco décadas há que o missionário/ Desembarcou em terra brasileira,/ Estudou, seguiu seu itinerário/ Tendo a Mãe de Jesus por companheira.//   Fez do seu caminhar todo um hinário,/ Na inabalável FÉ, a luz primeira/ E desfiando as contas do Rosário/ Chegou por certo à Fonte Verdadeira.// À Holanda, dedicamos preces mil,/  Desejamos o bem e agradecemos/ Pela grandiosa dádiva ao Brasil.//   Gratidão! Nós jamais esqueceremos,/ Deu-nos um Sacerdote tão gentil/ E por isto Louvemos e Exultemos. Não existem palavras que possam agradecer a tudo que tem feito pela comunidade rosalense. Por nós, a recompensa de Deus! Que o  Senhor, continue abençoando a sua Vida e o seu Ministério!  
        PARABÉNS, Padre Herbert, pelos 50 anos de Brasil!!! VIVA  SANT’ANA, A NOSSA PADROEIRA!!!

domingo, 1 de julho de 2018

RUMO AO HEXA! (Publicado no Jornal O NORTE FLUMINENSE - 29 de junho de 2018)

RUMO AO HEXA!
                                                                                                   Vera Maria Viana Borges

                           Após abril com suas esplendorosas manhãs e maio de encantáveis tardes, estamos apreciando as fulgurantes noites juninas, comemorando Santo Antônio, São João, São Pedro e São Paulo. Mês consagrado ao Sagrado Coração de Jesus.  Junho chegou sereno e pleno de expectativas trazendo ares do Inverno em clima de Copa.
                    O dia 14 foi diferente, início da Copa do Mundo na Rússia, com abertura rápida e muito simples. Ao soar o apito do juiz a bola rolou no grandioso Estádio Luzhniki em Moscou e os anfitriões venceram de goleada. Foi dada a largada para a 21ª Copa, continuando a bela história iniciada há 88 anos, com 836 partidas que fizeram pulsar bem mais forte os corações de todos os participantes e de todos os torcedores. Aqui e alhures, em cada peito bate um coração patriota, apaixonado por sua Pátria, pelo futebol e por sua Seleção. Em Portugal todos são Cristiano Ronaldo e no Brasil são todos Neymar. A estreia do Brasil não foi muito próspera, tivemos que nos contentar com o empate.  A segunda partida foi angustiante, tediosa, torcemos e aguardamos a bola bater na rede durante todo o tempo regulamentar e nada aconteceu, somente nos “acréscimos” pudemos vibrar com os dois gols [Pl.: gois (p. us.) e golos (lus. e bras., RS.).  É incoerente o pl. gols, para uma palavra aportuguesada. Contudo, parece-nos difícil que se venha a fugir desse barbarismo, tão arraigado está.]. O meia Philippe Coutinho foi o protagonista da partida em São Petersburgo e já se comenta que ele tem tudo para ser o “craque” da Copa. A luta continua, vamos torcer  e entusiaticamente dizer: Pra frente Brasil! Avante S eleção!
                   Com vários jogos por dia e mais as resenhas tem-se uma overdose de futebol e o brasileiro se empolga e se envolve tanto que o país fica em “stand-by”, em tempo de espera, como aconteceu também na “greve dos caminhoneiros” quando tivemos uma pequena mostra da importância de uma profissão que muitas vezes é tão desvalorizada pela sociedade e que é de suma importância para o bom andamento, desempenho e funcionamento do país. Dependemos uns dos outros e somos dependentes de profissionais nobres como varredores, lixeiros, professores, outra classe menosprezada, tão desvalorizada apesar de serem os PROFESSORES, os formadores, os pilares da estrutura, da construção de todas as outras profissões. Se temos bons médicos, bons advogados, juízes, desembargadores, promotores, engenheiros, políticos, presidentes, é porque eles tiveram bons professores. 
                  Os menos entusiastas, lançam mão da crise e fazem inúmeras críticas e lançam muitas “pérolas” nas redes sociais. O povo brasileiro é muito criativo e haja criatividade para arquitetar piadas e comentários maldosos e desanimadores. Costumam dizer que o Brasil é o país do futebol e esquecem que mesmo bem treinado o time entra para competir num “jogo” que é uma atividade física ou mental organizada por um sistema de regras que definem a perda ou o ganho. Quem está na chuva é para se molhar. Podemos perder ou ganhar e além da velocidade, capacidade, eficiência, rendimento, agilidade, autonomia de movimentos, precisamos de SORTE. 
                  Afirmar que o Brasil é o país disso ou daquilo é pouco, o brasileiro tem uma alma que se agiganta nos momentos mais difíceis. Temos passado por maus bocados pois o Brasil enfrenta o seu pior momento socioeconômico e principalmente político-social. Neste clima angustiante, não há como fugir e passar despercebida toda esta problemática. Defrontamo-nos com os acontecimentos e seus efeitos são experimentados amargamente. Só se encontra a solução quando se reconhece o “X” da questão. Muitas e muitas vezes ficamos chorando as consequências e não atacamos a origem verdadeira do problema. Só uma cuidadosa reflexão pode apontar o que tem ou não tem importância.  Apesar de sofrido, desgastado, de toda a desesperança, de todas as mazelas vividas, de toda a crise, de toda a barbárie e corrupção, da pobreza, da falta de Saúde, Educação, de prioridades básicas, sinto e vejo que nosso povo tem ao mesmo tempo uma força vital, a CONFIANÇA e ESPERANÇA em Deus.  Somos alegres e entusiastas, temos um intenso brilho no olhar, temos muitos problemas, sim, mas somos filhos de uma nação cujo “DEUS é o SENHOR”.  “O coração alegre é o melhor remédio”, isto é bíblico, todos os  momentos duros e difíceis que temos vivido só nos levam ao fundo do poço, só nos derrotam, precisamos de válvulas de escape para nos sublimar e elevar o espírito. Há melhor entretenimento que o futebol? Vamos torcer para o Brasil, sim! Vamos desejar e esperar a VITÓRIA. Não nos culpemos, não precisamos fazer gastos exagerados para tal, só necessitamos de um coração PATRIOTA batendo forte no peito. Estaremos torcendo  pelo nosso país e não para os políticos devassos e corruptos. Não deixemos que nos roubem esta alegria. Que venha o tão sonhado HEXA .
              “Há que se cuidar do broto para que a vida nos dê flor e fruto”. “A maior das árvores um dia foi semente”. Incentivemos nossos infantes, que eles sejam educados para um futuro promissor, digno, honrado e feliz, para que assim nosso Brasil seja de fato passado a limpo. Inspiremo-nos nos lindos versos do grande poeta Olavo Bilac: “Ama, com fé e orgulho, a terra em que nasceste! Criança! Não verás nenhum país como este!”.
              Aproximam-se as ELEIÇÕES, “torcer” a cada jogo do Brasil nós já sabemos, precisamos aprender a VOTAR, fazer bem o nosso dever de casa. Que nas chapas apareçam nomes de HOMENS de bem, cidadãos dignos e honrados para que possamos exercer com dignidade a nossa cidadania. Considero que podemos conciliar as duas alternativas, basta AMAR a PÁTRIA e ser BRASILEIRO CONSCIENTE.

quarta-feira, 27 de junho de 2018

PARABÉNS, PIRAPETINGA! (Publicado no Jornal "O NORTE FLUMINENSE - 31 de maio de 2018)

PARABÉNS, PIRAPETINGA! 
                                                                                                            Vera Maria Viana Borges

Imensa e justa foi a minha alegria, pelo honroso convite para participar da I Feira Literária de Pirapetinga que foi sem dúvida a primeira de muitas e muitas, que naturalmente serão sempre repletas de intenso fulgor e deverão refletir profundamente na mística da comunhão de ideais, na pujança do extravasar das mentes e almas, o objeto da mais alta inspiração, que reúne toda a perfeição concebível no nosso imaginário.
Ao pisar o solo de PIRAPETINGA, o berço do sonhar da notável poetisa Iracema Seródio Boechat, lindamente descrito por ela na tão bela poesia intitulada “ALBERGUE MATERNAL”, meu coração encheu-se de júbilo.  Fui envolvida pela paisagem que eu admirava enquanto rememorava os seus versos: “Berço do meu sonhar! Feliz Pirapetinga!/ Paisagem que desejo, ufana, contemplar: / Montanha verdejante, arroio a murmurar,/  Pássaro saltitante à orla da restinga.// Teu céu todo estrelado em doce paz da noite/ E as flores da pracinha à espera do luar,/ Pirilampo, urutau, soturnos a vagar,/ Apontam ao viandante o albergue onde pernoite.// E eterno será este albergue fraternal:/ Motivo da saudade a oprimir e angustiar,/ O filho que partiu do âmago maternal.// Um dia, ausentar-me-ei, terra querida e boa,/ Mas levarei comigo a glória de ser filho/ De solo idolatrado - mãe que ama e perdoa”.  E, ela partiu para a casa do PAI Celestial, de onde hoje certamente intercede, roga pelo seu chão e por sua gente.  Apossou-se de mim, o sentimento do mais puro amor a uma terra de passado nobre, de filhos ilustres que a preservaram e engrandeceram sempre, e de um presente altaneiro, promissor, com grandes feitos de gente não menos nobre, que cultiva as letras e as artes. Berço de gente boa, hospitaleira, amiga e altaneira. Cenário de belezas, de encantos naturais, de passado heróico, marcado por filhos ilustres que com galhardia lançaram a semente que caiu em terreno fértil, fato comprovado pela colheita destes frutos, saboreados pelo povo honrado neste presente glorioso onde se valoriza a Cultura. Isto, nos comprova que o povo desta terra não se acomodou em colchões moles e nem se fez admirar apenas pela força bruta, mas que compreendeu que nem só de pão material vive o homem. 
Durante dois dias, a vila viveu momentos mágicos, intensos e poéticos. Na Praça, vários Estandes com Exposição de Livros e Discos, momentos de apresentação das obras e autógrafos dos expositores. Na abertura, conduzida pela Professora e Psicóloga Jussara Ofrante, a presença maciça das Escolas Municipais Iracema Seródio Boechat e João Catarina, de escritores, poetas, músicos, autoridades, visitantes e o povo daquela amada localidade e arredores.  O Patrono da Feira, médico e escritor filho da terra, Dr. Norberto Seródio Boechat, se emocionou com as homenagens a ele prestadas. Ainda pela manhã aconteceu a Oficina Literária proferida por mim. Ao meio-dia, música com a Banda Black Pepper Acústica. À tarde, a Contação de História contagiou crianças e adultos. As  Academias  Itaperunense e Calçadense de Letras trouxeram brilho à programação. Compareceram o Dr. Laércio Andrade de Souza, Presidente Emérito da Itaperunense e o Poeta Valtinho e Sr. Aderbal membros da Calçadense. Brilhante foi a participação dos alunos e professores da Escola de Música JEMAJ e para encerrar um Show com Valdeir da Sanfona. 
No dia seguinte o AMANHECER COM POESIA no Museu de Imagem de Pirapetinga, mantido pelo Dr. Norberto. Antes do café literário regado a muita poesia, o público ficou fascinado com a visitação ao museu. O debate literário com o escritor e músico Danyel Sueth teve participações especialíssimas de Valber Meirelles, membro da Academia Itaperunense de Letras e da Escritora Elaine Borges. Valber Meirelles além de expositor de seus Discos  também brilhou  com sua voz e violão, ele tem 8 Discos Gravados dentro de uma linha poética, com repertório de sua autoria. O engenheiro metalúrgico, advogado, músico, compositor, arranjador, instrumentista e escritor Beto Travassos  compareceu trazendo o seu livro ALMA & POESIA, suas lindas e espetaculares canções e o magnífico show com sua sanfona. Rita de Cássia Côgo, artesã das mais festejadas, professora e renomada escritora de Guaçuí/ES, autora de vários livros, trouxe  “A BONECA  SAPEQUINHA”.  O INSTITUTO SUPERA promoveu a Palestra - “Benefícios da Leitura na Terceira Idade”. A “Moda de Viola com os Irmãos Oliveira” foi inserida à Programação e agradou em cheio. No encerramento, Show com a Banda Estado de Sítio. O ponto culminante da Feira foi a Palestra do Dr. Norberto Seródio Boechat que narrou com profundidade, minuciosamente a História daquela majestosa terra, encantando a todos. Há de se destacar o “Blog do Frederico TV”  do Frederico Sueth Rangel, que com maestria fez a cobertura completa e a divulgação  da tão extraordinária festa cultural.
Curvo-me aos promotores do evento, em especial ao Júlio César Barbosa, à Diretora Marilaine Coelho e à  Anísia Maria Pimentel, agradecida pela elevada honra a mim concedida, a oportunidade ímpar de participar deste acontecimento que obteve os mais admiráveis resultados,  alcançou grande êxito e foi SUCESSO absoluto. Parabéns a todos. O sucesso de grandes empreendimentos deve-se ao trabalho intenso onde a colaboração de muitos é fator primordial para que tudo dê certo.
Acolhida carinhosamente por todos, senti-me em casa. Emocionou-me o abraço especial do grande homenageado da Feira, o anfitrião, Dr.  Norberto Seródio Boechat, renomado médico geriatra e escritor, filho do ilustre casal Agostinho Boechat, fazendeiro e líder político da região e da Professora, Poetisa e Escritora Iracema Seródio Boechat. Assim como foi de sua mãe, a graciosa vila é sua inspiração e seu referencial.  Autor de várias obras, dentre elas destaco “Me dê a Mão” - contos,  “Memórias Natalinas” - contos, “Lembranças de Escritas”, também contos e “Estradas”, romance bem elaborado.  Senti-me agradecida e gratificada por poder adentrar no mundo mágico e maravilhoso de suas palavras. Percorri as Estradas com o autor e saí em êxtase. Trata-se de obra valiosa, deveras emocionante, movida pelo amor telúrico, pelo amor ao chão de sua infância. Seus livros são lidos com incomum agrado pelo estilo leve e até coloquial que o fazem  um narrador de méritos próprios.  Histórias contadas envolvendo pessoas em cenários específicos com o objetivo de reconstruir a realidade. Longa descrição de ações e sentimentos de personagens reais ou fictícias numa transposição da vida para um plano artístico. Texto ornado com leveza e graça num delicioso desenrolar que encanta pela maneira de imprimir serenidade e elegância em cada assunto, característica do culto Mestre que conjuga palavras na expressão da realidade guarnecida pela visão irreverente do dia a dia. Do fiel repositório da memória, os sentimentos e lembranças são aflorados e relatados com lucidez. Eis um escritor vitorioso! Parabéns ao escritor Norberto Boechat e a todos quantos tenham o privilégio de ler e possuir a sua magnífica obra em sua biblioteca. 
Parabéns, PIRAPETINGA, pelo valoroso evento Cultural!
             

quinta-feira, 8 de março de 2018

BANDA DO INSTITUTO DE MENORES (Publicado no Jornal O NORTE FLUMINENSE - 28 de fevereiro de 2018)

             BANDA DO INSTITUTO DE MENORES 

                                                                                             Vera Maria Viana Borges

                                “Assim diz o Senhor: Eu não perdi o controle da tua vida, está tudo no meu tempo. Não há nada atrasado.” Nada acontece por acaso e para tudo há o tempo certo. Hoje em dia ouve-se com frequência, “temos que viver o presente, o passado é passado e o futuro a Deus pertence”, mas, não se faz História sem resguardar o passado. E o futuro, como ignorá-lo? Temos que fazer projetos e executá-los para que a oportunidade nos encontre preparados.
                         Em 1962, aos dezessete anos prestei Concurso para o Magistério e iniciei a minha Carreira Profissional na Escola Maria da Conceição Pereira Pinto, na Usina Santa Maria, em Bom Jesus do Itabapoana/RJ.  Em 1964 fui removida para o Instituto de Menores Roberto Silveira na sede do Município, instituição mantida pelo Centro Popular Pró-Melhoramentos de Bom Jesus. A princípio, a professora era paga pelo Centro Popular que conseguiu do então Secretário de Educação a designação de duas professoras contratadas pelo Estado para ter exercício naquele estabelecimento, uma boa economia e também ótimo aproveitamento para os alunos que tinham apenas uma professora. Quando cheguei, concursada, trabalhei com a saudosa Mestra Alcélia Diniz e com Sucena Maria Seródio Amim. Dois anos de muito aprendizado, acho que mais aprendi do que ensinei. Havia muitos garotos levados, mas a maioria com olhos ávidos e ouvidos atentos buscavam através da aprendizagem alcançar um futuro promissor, uma vida melhor e felizmente muitos aproveitaram a oportunidade e são mais que vencedores. Muitas saudades daquele tempo. A ordem era mantida e era muito rígido o sistema. Após as aulas eles se dirigiam ao refeitório onde era servida uma deliciosa refeição feita pelas cozinheiras Zeny e Amélia. À tarde iam para o Ensino Profissionalizante. Havia muitas oficinas em funcionamento e mesmo com embaraços por falta de recursos para a aquisição de matéria prima,  estiveram em atividade a aprendizagem de marcenaria, de fabricação de malas, de vassouras, de encadernação, de funilaria e sapataria, com um índice de aproveitamento bastante satisfatório.  Atuavam também na Granja, onde recebiam ensinamentos práticos de agricultura. Para o coroamento de todas estas disciplinas, havia aulas de Música ministradas pelo ilustre Maestro Raul Lopes da Costa que ali formou a BANDA DO INSTITUTO DE MENORES que também faz parte da História Musical de Bom Jesus do Itabapoana.
                          Recebi, dias atrás, uma solicitação de amizade no Facebook. Certifiquei-me e reconheci um querido ex-aluno do Instituto, Domingos José dos Santos. A sua aproximação fez-me reviver aqueles bons tempos do Instituto de Menores. Em nossa primeira conversa ele já se expressou: “Jamais me esquecerei de cada experiência vivida naquela “Instituição Mãe” que me trouxe benefícios imensos durante os dez anos em que lá estive. Para começar, meus parabéns por ser colunista de uma Organização tão expressiva e conceituada, como o nosso “O NORTE FLUMINENSE”,  onde tive o meu primeiro emprego quando me desliguei do Instituto de Menores. Ali, eu fui encadernador (profissão que aprendi com o Professor Arnaldo de Jesus) a convite do grande bonjesuense Dr. Luciano Bastos, meu particular amigo”.
                      Além de aluno da MARCENARIA, Domingos dedicou-se também aos estudos de Música e fez parte, da surpreendentemente bela e encantadora Banda. Enchia de alegria e satisfação a todos que ouviam e viam os meninos, uniformizados, elegantemente perfilados, de peitos estufados executando as mais variadas e maviosas melodias, desfilando pelas ruas de nossa cidade. Faziam parte da Corporação os alunos Francisco Theodoro, José Sezareth, Cipriano Soares,  Flávio Panes Barbosa, Humberto Diniz, Eclayton Panes Barbosa, José Teles dos Santos, Sebastião Galdino, Francisco Piolho, João Batista Lauriano, Trilhinho, Joaquim José, William, Antônio de Souza, Luís Carlos Camilo, Raimundo,  Domingos, Rolinha, Adalmir,  Antônio de Souza, Elias da Conceição e Carlos Alberto Pinto. Muitos deles se sobressaíram: Francisco Theodoro foi para a Banda da Polícia Militar de Minas, William, para a Banda da Polícia do Estado do Espírito Santo e Adalmir foi para a Banda do Exército. Antônio de Souza, Elias da Conceição e Carlos Alberto Pinto foram para o Exército, seguiram carreira, mas, não como músicos.
                     Domingos foi para o Exército, onde tocou na Banda por 14 meses. Deu baixa no Exército e voltou para o Instituto e ajudou o Maestro Raul, como sub-regente. Nesse período participou das Bandas de Bom Jesus, de Apiacá, São José do Calçado, Natividade e Itaperuna, mas sempre dando prioridade aos trabalhos da nossa inesquecível Banda do Instituto. Conseguiu uma vaga gratuita no Conservatório de Bom Jesus e estudou segundo ele, com o maior músico e maestro que já conheceu, o saudoso Professor José Carlos Ligiero, seu grande inspirador. Contou-me de uma outra grande professora e amiga que passou pelo Instituto, Maria Eliza Borges Figueiredo que lhe deu a maior oportunidade de sua vida, como músico. Seu marido, o saudoso Evandro Figueiredo o levou para fazer uma prova na Banda da Polícia Militar de Niterói. Foi aprovado e aos 21 anos se incorporou àquela banda que na época era regida  pelo itaperunense Édimo de Abreu. Resolveu deixar a carreira militar e seguir novos caminhos profissionais, mesmo tendo na música a sua maior forma de expressão. Formou-se em Administração de Empresas, Gestão Imobiliária e trabalhou durante 22 anos no ramo da Hotelaria e Turismo, mas a música nunca saiu de sua alma e nem de seu coração. Voltou a estudar e bacharelou-se em Regência pela  Academia de Música Lorenzo Fernandez/RJ.  Atualmente exerce a função de Professor de Música na Rede Pública, tanto Municipal quanto Estadual, em Duque de Caxias, preparando Bandas, Fanfarras, Orquestras de Câmara com flautas doce e Canto Coral. Atua também como Coordenador Geral de um grande Colégio particular e como regente e formador de Coro em várias Igrejas daquele Município da Baixada Fluminense.
                        Carinhosamente ele conclui: “Quanto a minha vida de orfandade, antes da ida para o Instituto de Menores, eu me lembro pouco. Sei que aos dez anos de idade, por ordem do juizado de menores, eu fui para lá. Mas isto não me importa. A verdade é que ali eu pude conviver com grandes educadores que direta ou indiretamente, trouxeram grandes benefícios para a minha formação: Dona Ledyr do Canto Mascarenhas, que foi uma espécie de segunda mãe para todos nós daquela época,  Dona Thieria Gomes Faial, Dona Cenira Fontes Feitosa, Salvador de Moraes, Wenceslau Caetano e muitos outros.
                           Tempos saudosos e extraordinárias recordações...  Agradeço sua atenção e carinho, querido Domingos, e ao Deus Pai Todo-Poderoso rendo louvores pelo seu EXEMPLO DE SUPERAÇÃO, pelo seu TALENTO e por não se afastar da MÚSICA, que das ARTES é a que mais sublima a alma.
                              Parabéns, Maestro Domingos José dos Santos!!!

BANDAS DA NOSSA HISTÓRIA (PUBLICADO no Jornal O NORTE FLUMINENSE - 27 de janeiro de 2018)

                         BANDAS  DA NOSSA HISTÓRIA 

                                                                                                 Vera Maria Viana Borges
                                                                                                         
                     “A música é celeste, de natureza divina e de tal beleza que encanta a alma e a eleva acima da sua condição” (Aristóteles). Uma boa música nos transforma, nos eleva, nos acalma, nos toca profundamente e nos leva a um estágio de paz. É arte, sendo a linguagem da alma que se expressa através da voz, de instrumentos  musicais e outros artifícios.  Aqui no Vale do Itabapoana ela floresceu abundantemente.
                     Segundo registro garimpado pela historiadora Maria Cristina Borges, no ano de 1900 já existia na Barra do Pirapetinga uma banda musical, fundada e regida pelo Professor Joaquim Teixeira Magalhães (Quinca Magalhães). A Banda era formada por seus filhos Josino Teixeira Magalhães, José Teixeira Magalhães, Sebastião Teixeira Magalhães (Tatão Magalhães, um dos fundadores da Lira 14 de Julho, de Rosal) e outros membros de sua família, somando 14 músicos. A Banda era mantida pelos Teixeira Borges e o principal incentivador foi Antônio José Borges, o Borginho. Por volta de 1926 seus componentes eram: Sebastião Teixeira Magalhães, Joaquim Teixeira Borges, Elias Moraes Borges, Antônio Teixeira Borges (Antoninho), Adolfo Moraes Borges, Rui Borges de Moraes, Leny Xavier Borges, Alcebíades Justino, Alcides Lima, João Justino, Aristides Nobre e Pedro Roza. Em reconhecimento ao trabalho dos Teixeira Borges, Tatão Magalhães compôs o dobrado intitulado “TEIXEIRA BORGES”.
                       Feliciano de Sá Viana e Ambrosina de Sá Viana, meus bisavós, chegaram à Fazenda da Prata, oriundos das Minas Gerais em 1862. Apaixonados por música, decidiram adquirir um piano, o primeiro do Vale do Itabapoana, a princípio tocado por um escravo vindo de Diamantina, pianista dos bons. Forte foi a emoção aos primeiros acordes que quebraram o silêncio daquelas matas e daqueles cafezais. Passaram os Sá Viana a organizar saraus, atraindo pessoas da vizinhança e alegrando sobremaneira a todos os que vinham dançar e apreciar as bem executadas valsas da época. Contratou-se a seguir o Professor “João Lino”, iniciou-se assim a realização do sonho do fazendeiro. Os filhos, Romualdo, Eulália, Aureliano, Adélia (Sinhazinha), Elpídio, Henrique, Malvina, Adolfina (minha avó), Mulata, Adelaide, Diana, Abílio e Julinho se entusiasmaram e logo formaram conjunto com clarinetas, trombones, contrabaixos, Sax Horn, requinta e piano. 
                     Mudando-se para a Fazenda União, mais próxima de Rosal, ficou mais próximo de seu amigo e compadre Luís Tito de Almeida (Lulu), sogro de seu filho Elpídio que desposara Elzira. Lulu já se contagiara com a música e se tornara músico ardoroso, o que transmitiu também à sua descendência. Era presença constante em suas festas. Tocavam em ladainhas, casamentos e festas em geral, até que um dia reuniram-se Lulu (Luís Tito de Almeida), Elpídio de Sá Viana, Durval Tito de Almeida, Custódio Soares de Oliveira, Sebastião Magalhães e Elias Borges, iniciando o trabalho de formação da Corporação Musical 14 de Julho, que tem como data oficial de sua fundação, 14 de julho de 1922. Continua firme e vibrante com retretas nas praças, espalhando vida e alegria por onde passa, com suas marchas, dobrados e peças do cancioneiro popular.
                     Chico Gomes também veio de Minas, casou-se com Ana Alves Pimentel, oriunda do “SACRAMENTO” e do matrimônio advieram dez filhos,  Júlio,  José, Sebastião, Francisco  (Quiquito),  Amélia, Itelvina, Mário (pai do Dr. Antônio Bendia), Cecílio,  Honorelino e Álvaro,  criados na Fazenda Barra Funda no distrito de Rosal. Já trouxe de sua terra a paixão pela música e em especial pelo bombardino que executava com maestria. Convivendo com os Sá Viana  que  já haviam feito repercutir o gosto musical naquela região, os filhos cresceram com a hereditariedade dos dons musicais e com a influência do meio. Então pai, filhos, sobrinhos, afilhados e vizinhos mais um compadre de Varre-Sai que além de tocar clarineta era maestro (Maestro Ernestino), formaram para os festejos de SANTANA em sua Fazenda, no ano de 1911, a Banda que marcou época, a Banda do Chico Gomes: Mário e Honorelino tocavam sax, Júlio batia o bumbo, José Gomes e José Pimenta tocavam contrabaixo, Sebastião tocava trombone, Quiquito e o maestro tocavam clarineta, Álvaro e seu  pai que  era o  próprio  Chico,  o  dono da  Banda tocavam bombardino, João Laurindo tocava barítono, enquanto seu sobrinho Dionísio e Antônio Laurindo tocavam piston. Constantemente havia encontro das Bandas. Chico Gomes era avô do Dr. Antônio Bendia de Oliveira, nosso confrade da Academia Bonjesuense de Letras, tio-avô do emérito Professor Héliton Dias Pimentel, avô do Ilustre Professor Anízio Gomes Pimentel e bisavô da ANÍZIA MARIA AGUIAR PIMENTEL, da Escola de Música JEMAJ MUSICAL. Elemento de uma Banda tocava também na outra; foram se casando e misturando as famílias e finalmente todos se tornaram parentes, acabando praticamente numa só família.
                        Reinava paz e muita harmonia entre os laboriosos incentivadores da música de nossa amada terra, as famílias se entralaçaram com os casamentos dos filhos e as almas se uniram na fraternidade, no amor e no idealismo. Tudo era motivo para festejar. Não tocavam somente em festas, tocavam também apenas para eles próprios, para o enlevo da alma, cultivando das artes, a mais bela e nobre, e enchendo de alegria aquele sertão.
                      Elpídio de Sá Viana (meu tio-avô) organizou na década de 40 uma filarmônica em São José do Calçado. Inicialmente contou com cinco de seus filhos: Luís, Antônio, Feliciano (Nenem), Hélio e Geraldo, todos excelentes músicos e procurou completar o grupo com elementos da localidade a quem ministrava aulas. A filarmônica recebeu o nome de “Euterpe São José”, mais tarde passou a “Lira 19 de Março”, apresentando-se impecavelmente uniformizada e executando sempre com perfeição o vasto e  riquíssimo repertório.
               A Lira Operária Bonjesuense nossa amada, aplaudida  e admirada “Furiosa” foi fundada e registrada no dia 12 de dezembro de 1940. 
           Música é saúde, música é vida. Quem canta seus males espanta. Já dizia William James: “O pássaro não canta porque está feliz, mas sim está feliz porque canta”. Vamos à VIDA!

UMA NOITE FELIZ (Publicado no Jornal O NORTE FLUMINENSE - 19 de dezembro de 2017)

     UMA NOITE FELIZ    

                                                                                   Vera Maria Viana Borges

                  Nos derradeiros dias deste ano de 2017, sou grata a todos aqueles que nos foram solidários e nos incentivaram e ao DEUS, PAI TODO-PODEROSO, louvo e bendigo, agradecida pela SUA presença constante em  nossas vidas, pelo vigor, pela força e energia, pela saúde, pelo amparo no sofrimento e nas tristezas, pelas lágrimas enxugadas, pelas alegrias, pelo trabalho, pelo ócio, pelo lazer, pelo lar, pela família, pelos amigos e por tantas bênçãos que nos foram concedidas.
           Foi um ano difícil. O caos se instalou no Estado do Rio de Janeiro, com desmandos, corrupção ativa e passiva, roubos e fraudes. O sistema de SAÚDE, muito doente, está agonizando e as Escolas estão em estado precário. Servidores Estaduais, diga-se de passagem, CONCURSADOS,  humilhados e desesperados amargam sem salários, e à míngua, clamam por dias melhores, por uma vida digna e pelo resgate de sua cidadania. Multiplicam-se  a cada dia as histórias das dificuldades enfrentadas por eles que estão à deriva sem saber quando vão receber os vencimentos. Não podemos perder a esperança e precisamos ter muita FÉ. Dias melhores hão de vir. 
               Aproxima-se o  NATAL de JESUS, uma Noite Feliz. "Porque um menino nos nasceu, um filho nos foi dado; a sabedoria repousa sobre seus ombros, e ele se chama: Conselheiro admirável, Deus forte, Pai eterno, Príncipe da Paz". (Isaías 9,5)
             " Eis que estou à porta e bato: se alguém ouvir a minha voz e me abrir a porta, entrarei em sua casa e cearemos, eu com ele e ele comigo." É o próprio Cristo suplicando que abramos o coração para que ELE renasça em nós. Atendamos ao seu apelo!
                   Será que nosso dever tem sido bem cumprido? Tivemos progresso na vida espiritual? Fomos úteis aos nossos semelhantes? Buscamos a Paz? Já se passaram mais de dois mil anos, e, ainda somos tão infantis em nossas atitudes. Já não faz diferença se o que passou foi bom ou ruim. Não vamos remoer erros , vamos encará-los bem de frente. Se perdemos ou ganhamos, já não importa, o importante agora é tirarmos proveito dos fracassos pois na vida só ganha quem sabe perder. Construamos um futuro positivo e promissor, cheio de expectativas e oportunidades, repleto de esperança, de sonhos e de infinitas realizações, lembrando que quando se busca o cume da montanha, não se deve dar importância às pedras do caminho. Ultrapassemos com dignidade todos os obstáculos.  Anos e anos se passaram e a cada Natal reverenciamos diante da humilde manjedoura, o REI dos Reis, mas ainda não alcançamos a grandeza de sua mensagem e não seguimos corretamente os seus passos, falamos da Estrela Guia, ornamentamos nossos lares com a Estrela de Natal, com quatro pontas e uma cauda luminosa, orientadora dos Magos até Belém, e nem assim nos damos conta que ela orientou os magos e continua nos convidando a adorar a grande LUZ, que é o Filho de Deus, Jesus a estrela radiosa que ilumina o caminho de nossa vida. Quanto mais nos aproximarmos de Cristo, mais e mais seremos luzes e estrelas e assim poderemos atrair mais e mais irmãos para Deus. A garantia de um futuro feliz é realizarmos o que Jesus nos ensinou. ELE é a plenitude do Universo e, somente na plenitude d'ELE, encontraremos a nossa plenitude. Maria Santíssima, a Mãe do Verbo Encarnado nos ensina a lição: "Fazei tudo o que Ele vos disser”. (Jo 2,5). “Haverá um dia em que o mundo descobrirá o verdadeiro significado do NATAL e então cônscios da autêntica plenitude da vida, o Natal da humanidade será o Natal de JESUS".
                 “Hoje Deus deu à Virgem o sorriso, porque dela nasceu o nosso sorriso”. “Eu vos anuncio uma grande alegria”. Isto ouvimos hoje do anjo, porque nasceu Cristo. Alegremo-nos, portanto, e exultemos juntos com a bem-aventurada Virgem, porque Deus nos deu o sorriso, o motivo de sorrir e de ser feliz com ela e nela: “Hoje nasceu-vos o SALVADOR”. “Oh, pobreza! Oh, humildade! O Dono de tudo está envolto em pobres panos, o Rei dos anjos é ajeitado numa manjedoura. Envergonha-te, insaciável avareza! Consome-te, soberba do homem! A sabedoria é balbuciante, a majestade inclinada, a imensidão diminuta, pobrezinho o rico”. (Dos SERMÕES DE SANTO ANTÔNIO). Santo Antônio é muito festejado e venerado pelo povo. O Santo é menos conhecido como homem de incomum Cultura e como autêntico intelectual da Idade Média, o que se comprova por sua obra escrita, repleta de beleza e profundidade de pensamento, tesouro da Literatura e da História.
                    Não nos preocupemos com as coisas materiais, o Filho de Deus adormeceu tranquilo em uma manjedoura, prova maior de que a verdadeira Luz descansa na simplicidade e na pureza de coração e de espírito. Que o Menino-Deus seja o presente mais precioso e a mais duradoura alegria que seu coração possa receber neste NATAL! Que os ensinamentos deixados pelo Filho de Deus sejam nossa lição de vida neste Natal e no Ano Novo.
                    Aos meus diletos leitores deixo através destas minhas singelas trovinhas os meus mais expressivos votos de Boas Festas: Natal festa esfuziante/ De sentidos desviados,/ Que ao aniversariante/ Os olhos sejam voltados.// Que reine paz no Natal/ E no Ano Novo também,/ Sejam de luz, afinal,/ Os dias do ano que vem.// Deus nos dê grande Natal/  Pleno de PAZ e de LUZ,/ Seja de AMOR, sem igual,/ Como a VIDA de JESUS.
                    “Derramai, ó céus, lá dessas alturas o vosso orvalho, e as nuvens chovam ao JUSTO.  Abra-se a terra e brote o SALVADOR: e ao mesmo tempo nasça a JUSTIÇA.” (Isaías 45,8).
                    Que o Papai Noel possa nos trazer o que pedimos e mais o que esquecemos de pedir. Unidos em preces a JESUS, principal  personagem desta festa, peçamos SAÚDE, LUZ, AMOR e PAZ para toda a humanidade. Que no Brasil e em nosso Estado a VIDA possa ser mais respeitada e CRISTO possa renascer no coração de todos.

MESTRES (Publicado no Jornal O NORTE FLUMINENSE - 29 de novembro de 2017)

                                           MESTRES                                                                                                                                                          Vera Maria Viana Borges
          “Não é só de pão que vive o homem, vive também dos sonhos e dos pensamentos puros que trazem alento e alegria ao coração...”  (Gibran Khalil Gibran) 
          Dias atrás, quando se comemorava o Dia do Mestre, lembrei-me do nobre gesto do ilustre escritor miracemense, Maurício Monteiro, que desde a sua  juventude desejava editar um livro do Dr. Hermes Simões Ferreira, seu amado Professor. E ele conseguiu realizar o seu sonho. Decidi então publicar novamente aqui, o artigo que escrevi e publiquei em outubro de 1996 no Boletim ASTROS & ESTROS, ao receber suas importantes obras :
          O jornalismo e a literatura transpõem  barreiras insondáveis e aproximam-nos através de uma corrente cujos elos são intelectuais de nomeada que deixam exalar de suas sensíveis almas a essência mágica do acendrado amor às letras, à história de sua terra, de sua gente, deixando vivo, imortalizado seu passado político-sócio-cultural, retratando com fidelidade a sociedade através dos tempos.
          Ao ocupar a cadeira patroneada pelo Capitão Altivo Linhares, da Academia Itaocarense de Letras, no ano de 1992, recebi de Miracema, da parte do ilustre Escritor Maurício Monteiro, advogado, amante de bons livros, possuidor de enorme e organizada Biblioteca, a sua célebre obra “MEMÓRIAS DE UM LÍDER DA VELHA PROVÍNCIA”, trabalho devido exclusivamente à tenacidade, obstinação do Velho Capitão, Mestre em Política, que já doente, no ocaso da vida, convoca o escritor para ouvir suas memórias e transformá-las em livro.
          Com nobreza e altivez numa linguagem fluente e clara o historiador Maurício Monteiro relata episódios notáveis da vida do homem valente e forte, de coragem férrea, conservando vivas e palpitantes as ânsias e conquistas do líder altruísta, que com precários estudos, mas com determinação, coragem, fé, carisma, com desejo de ver progredir sua terra, luta pelos interesses de seu povo, pelo bem-estar de sua gente, alcançando a Prefeitura de Santo Antônio de Pádua, sendo também Prefeito de Miracema, de Niterói, Deputado Estadual, chegando inclusive ao Senado da República.
            Temos absoluta certeza de que o conteúdo não seria apenas recordação de uma época, ou da vida de um simples mortal, mas a reconstituição de fatos ocorridos na Velha Província, vividos e narrados pelo líder imortalizado por suas obras e realizações, pelos seus feitos, e pelas páginas douradas do eminente Maurício Monteiro que tão bem soube registrar a história, repositório fiel da memória de nossa amada terra.
           A alma obstinada do escritor fê-lo autor destas memórias, mas o alto descortino daquele HOMEM de coração generoso, de alma simples, cidadão popular, respeitoso, humilde, porém franco, incisivo, corajoso, que jamais se acomodou como aqueles que se entregam a comodismos no meio do caminho, sempre disposto a lutar, grande idealista, que com firmeza apontou os rumos a serem seguidos para uma nova dimensão de vida, forjando a ferro e fogo a História da Velha Província.
     Sua terra natal jamais sonharia que aquele seu filho fosse se projetar brilhantemente no Cenário Nacional, extrapolando as fronteiras de seu Município.
          Altivo capitaneava em uma época de crise que cidadãos comuns não conseguiam equacionar, trazia nas veias o espírito crítico do verdadeiro político. Com retidão de caráter, o homem público dos mais brilhantes, expoente do nosso Estado, prestou grande contribuição à história fluminense.
          Maurício Monteiro doou-se por inteiro nestas narrativas e fez palpitar nossos corações, fazendo-nos mergulhar nos vórtices do tempo com o minudente relato, trabalho de valor inconteste, resgatando a memória de uma época, divulgando a profícua vida do destemido, valoroso Político e Mestre, hábil na maneira de agir.
          Maurício não para por aí. Acalentava desde a juventude o sonho de editar um livro com os versos do Dr. Hermes Simões Ferreira, mineiro de São Geraldo, que tendo sido bancário, formou-se em Direito, para agradar aos pais, chegou a Promotor de Justiça, abandonando a carreira para se tornar Professor do Colégio Miracemense, onde lecionou várias matérias, na fase áurea do educandário dirigido por Alberto Lontra.
         Através dos olhos da memória, o ex-aluno se vê uniformizado de cáqui, de dólmã, com gravata preta de laço enjambrado, caminhando pelas ruas, em manhãs frias. Raro era o dia em que não encontrava o Professor, vestindo um jaquetão, óculos escuros, segurando na mão direita várias listas de chamada. Sua rotina era, de casa para o Colégio e do Colégio para casa. Casado com Almerita, a namorada de infância. Tiveram duas filhas: Maria das Graças e Maria da Salete. Com o falecimento da esposa, dedicou-se inteiramente às filhas e ao Magistério, fundando o Colégio N.S. das Graças em 1952, possibilitando a quem trabalhava , frequentar aulas noturnas.
          Lembra com ternura o antigo mestre absorvido no final de cada ano, pela redação dos discursos para os paraninfos de turmas. Também os discursos das autoridades locais eram redigidos por ele. Altivo Linhares era o Prefeito e mandava um portador com as instruções necessárias e logo o mensageiro retornava com a peça oratória pronta.
             Ao contrário de Maurício, possuidor de vasta Biblioteca, abrigava alguns livros, gramáticas e dicionário em surrada escrivaninha. A Biblioteca era mínima, mas jamais deixou de responder a qualquer indagação que lhe fora feita. Nos pequenos jornais que se editavam na cidade, estavam sempre os seus bem elaborados sonetos.
              Um pouco antes de seu falecimento em 1989, aos 83 anos, a última visita e um pedido, os seus versos preferidos. Dias depois vai buscá-los em folhas soltas e com a letra inconfundível.
          A gratidão e a generosidade moveram-no à magnitude de trazer a lume os imarcescíveis sonetos do Velho Mestre, artífice do verso, do ritmo, da cadência, das ricas rimas, em decassílabos e alexandrinos capazes de abrir-lhe de par em par as portas da morada consagrada a Apolo e às Musas, em obra intitulada “PASSAREI”, com posfácio do nada mais, nada menos, consagrado escritor JOSUÉ MONTELLO, da Academia Brasileira de Letras.
        De parabéns a simpática e ALTIVA “Miracema”, pelos Grandes Mestres exaltados pelo preclaro, ilustre e notável, jornalista, historiador e escritor Maurício Duarte Monteiro; de parabéns o próprio Maurício, também Mestre, pela capacidade, generosidade, pelas mãos dadivosas, pelo ato de amor à terra, à sua gente, sua história e pelo grandioso ideal que o anima.
               Deixo o meu forte, fraterno e carinhoso abraço a todos os PROFESSORES!!!