sexta-feira, 1 de maio de 2015

OS BORGES E EU (Publicado no JORNAL "O NORTE FLUMINENSE" - 23 de abril de 2015)

OS BORGES E EU
                                                                                      Vera Maria Viana Borges
                 A História depositada no repositório fiel da memória, aflora em lembranças e podemos revivê-la em flashes de doces recordações. Celebrar o amor, a fraternidade, é sinal da Presença de Deus, sinal de carinho, fidelidade, renúncias e muitas alegrias por anos afora partilhando a graça e a beleza de se ter uma família, de sermos caminhantes de mãos dadas em busca de um mesmo destino. A minha ligação com os Borges aconteceu na infância quando Anacleto José Borges consorciando-se com D. Elzira em suas segundas núpcias, foi se estabelecer em Rosal, minha adorada terra. Muito simpático, tinha uma venda e se tornou amigo de todos da vila. Não me lembro dele lá, eu devia ser bem novinha mas diziam que ele sempre brincava: “eu tenho um neto que vou casar com esta menininha.” Depois, ele veio morar em Bom Jesus onde faleceu em 1953. Soube muito dele por minha mãe, que sempre fazia menção às suas histórias.
       Com dez anos, mudamo-nos para Bom Jesus. Visitamos o Calvário e posteriormente fomos ao Cemitério. Vendo a foto do Senhor Anacleto em um dos túmulos, mamãe parou para fazer orações por sua alma, e eu, curiosa subi na calçadinha à volta da sepultura de granito preto para ler o que se registrava na lápide, ao descer bati o joelho direito na quina da dita calçada o que ocasionou profundo corte. Ainda guardo a cicatriz, fui marcada ali pelos Borges. Não conhecíamos seus familiares. Quis o BOM DEUS nos aproximar e aos doze anos conheci José Roberto, neto do Senhor Anacleto. No soneto que segue, página 07 do meu livro “TRILHAS POÉTICAS”, narro a história do belo amor que nos uniu: Nós, aos doze e quinze anos, desde a infância,/Unimo-nos em bom, forte ideal,/Enamorados, firmes, com constância,/Julgamos nosso amor ser imortal./Do caminhar ficou suave fragrância/De rosas do mais belo roseiral,/Amamo-nos em toda circunstância,/Na calmaria e até no vendaval./O antigo afeto, bem aconchegante,/À proporção que o tempo foi passando,/Mais e mais nos unia a cada instante./Não haverá mortal que apaixonando/Possa amar a tal ponto que suplante,/O nosso amor que vai se renovando.
            Bolivar Teixeita Borges, meu sogro, austero homem de princípios, bom esposo, pai sensível, avô dedicado, amante de uma boa prosa, gostava de contar os casos de antanho, as histórias vividas na primeira quadra de sua vida. Relatava e eu ávida, ouvia atentamente, inclusive registrando em dezenas de páginas e até mesmo em gravações, que resultaram em parte do meu livro  intitulado “Das Brumas do Passado”. 
             Mergulhando nos vórtices do tempo deparamo-nos com os Borges oriundos de Portugal, aportando nas Terras de Santa Cruz, este Brasil alvissareiro e belo que tanto nos seduz. Fixaram-se em São Paulo, Minas Gerais e Goiás.  Francisco José Borges, o grande patriarca ficou em Uberaba-MG. Resolveu adquirir terras em Goiás e para lá se dirigiu com  agregados e pertences. A tropa viajava longas distâncias, cerca de 18 a 20 Km por dia. Após meses vislumbrou o encantado sonho, a chegada juntamente com a mulher e o único filho, Antônio José Borges. Cismado, começa a observar a região onde encontrou uma população “papuda”. Perguntou a um escravo o porquê de tantos “papos” e ele prontamente lhe respondeu: Nhonhô, aqui quem não tem papo é aleijado. Ele parecendo ver “papo” até nos paus, juntou a família com tropa e tudo e retornou  a Minas Gerais, desta feita, para a localidade de Dona Euzébia. Ficando viúvo, Francisco José Borges (com apenas um filho, Antônio José Borges,  chamado pelos íntimos de Borginho) contrai segundas núpcias com Anna Roza Teixeira (filha de Francisco Teixeira de Siqueira e D. Felicíssima) advinda de dois casamentos, tendo duas filhas do primeiro matrimônio e uma filha do segundo, Bárbara Roza Teixeira.
         Após o falecimento de Francisco Teixeira de Siqueira, pai de Anna Roza, ocorrido em 03 de dezembro de 1855, dez de seus quatorze filhos vieram aqui para  estas distantes plagas, atraídos pela fama das terras. Nessa época trouxeram as relíquias da Coroa do Divino Espírito Santo. Dentre eles estava o Patriarca Francisco José Borges e sua esposa Anna Roza Teixeira.Vendendo a Fazenda em Minas aqui chegaram em 1856, adquirindo terras do Alferes Francisco da Silva Pinto. Francisco José Borges instalou-se na Braúna, tomando posse de cerca de 2000 alqueires, compreendidos da Vertente do Arraial Novo, Serônia, Sacramento, Fazenda do Leite, atualmente Pavão, Braúna, até mais ou menos 100 metros após a Ponte da Lagartixa.
            Borginho, filho de Francisco estava com 15 anos e Bárbara filha de Anna Roza contava apenas 12 anos. Seus pais autorizaram o enlace das crianças Borginho e Bárbara, oferecendo-lhes o dote de 1000 alqueires, e o tão jovem casal veio para  a Barra do Pirapetinga. Os primeiros fazendeiros da Barra, Borginho e Barbinha, como eram carinhosamente chamados foram abençoados com os seguintes filhos: Messias Borges Ribeiro, Minervina Petronilha Borges, mais conhecida como Vivina,  Antônio Borges Ribeiro, Maria Borges Ribeiro, mais conhecida como Neném, Jovita Umbelina Teixeira, Francisco Borges Sobrinho, Tertuliano Borges Ribeiro e Lília Borges Ribeiro. Somente a Lília não deixou descendentes.
        A esta época Francisco José Borges tinha o filho Borginho do primeiro matrimônio e já mais dezoito filhos do segundo, sendo que dos dezoito, quatro, um homem e três mulheres casaram-se em Dona Euzébia. Com a morte da esposa Anna Roza, mais uma vez viúvo, inconformado e só, resolveu ir visitar os familiares em Minas Gerais. Indo a cavalo, cansado e sorumbático, ao passar por Patrocínio do Muriaé, viu uma donzela lavando roupas num córrego, aproximou-se e pediu-lhe água. Ela o convidou para entrar e serviu-lhe também um cafezinho. Conversaram e ato contínuo ele a pediu em casamento. Deixou o casório tratado para daí a trinta dias. Francisco José Borges e Maria Carolina Borges já vieram casados e desta união nasceram: Anacleto José Borges, Ernesto José Borges e Messias José Borges. Ao todo teve vinte e dois filhos. Parece que ele queria mesmo povoar a localidade. Seus filhos iam se casando e se multiplicando, os Borges foram formando novas famílias, agregando Reis, Teixeira, Magalhães, Alves, Viana, Moraes e uniram-se a muitas e muitas outras famílias continuando o ciclo da vida.
          Anacleto José Borges casou-se com Maria Leopoldina Teixeira aos 19 de fevereiro de 1886. Um de seus filhos, Bolivar Teixeira Borges no dia 22 de julho de 1933, desposou Leonor Alves Borges (cerimônia realizada pelo Padre José Jardim de São Pedro do Itabapoana, pois Padre Mello estava adoentado). Tiveram três filhos: Maria Apparecida, Eliézer e José Roberto. José Roberto e eu nos casamos em1970. Deus nos abençoou com Sávio, nosso dileto filho e com a querida netinha Helena.
             Os Borges foram construindo a história da Barra, uma Barra de gente simples, mas de famílias extremamente unidas, nas quais sempre reinou ambiente de princípios morais e religiosos muito sólidos, demonstrando nas atitudes boa formação e riqueza interior.