terça-feira, 10 de novembro de 2015

GLORIOSOS REMÍGIOS (Publicado no Jornal "O NORTE FLUMINENSE" - 31/10/2015)

GLORIOSOS REMÍGIOS      
                                                                                         Vera Maria Viana Borges
               O sol não está para brincadeira. Neste início de outubro temos uma Primavera atípica, ensolarada e de intenso calor. A estação marcada pelas belas e exuberantes flores, que normalmente tem amenas temperaturas chegou com cara de verão. Está tudo mudado, tanto a natureza quanto as pessoas. A água escasseando a cada dia. Atravessamos tempestuosos momentos, arrastados por uma política recessiva neste Planeta repleto de incertezas. Exaustos presenciamos miséria, guerras, mentiras, o drama dos imigrantes, licenciosidades, corrupção e violência. Na atmosfera política a impactante certeza da falta de patriotismo. Ó Deus, sentimos falta  dos Grandes Estadistas, de pessoas dignas, de Líderes de Verdade com grandes sonhos e amor à PÁTRIA. Políticos bem preparados que não se contaminem com o terrível vírus da corrupção, que não tenham a intenção de acudir-se, agindo sempre em benefício próprio como temos presenciado nos dias atuais quando visam apenas os próprios interesses e se prestam a articulações desprezíveis e conluios vergonhosos. E nós sofremos as consequências, somos reféns de todos estes desmandos. É estarrecedor. Desejamos melhores dias, repudiamos os acontecimentos deploráveis, almejamos trilhar os caminhos do decoro e da honra. Estamos num beco sem saída, mas temos que prosseguir e para o alívio destas tensões recorro à escrita.  Já disse Fernando Pessoa. “Escrever é esquecer. A literatura é a maneira mais agradável de ignorar a vida.” Claro, é evidente que isto não tirará o país da crise, mas dá-nos um fôlego, ficamos aliviados por uns instantes.
             “Oh tristeza, me desculpe/ Estou de malas prontas/ Hoje a poesia veio ao meu encontro/ Já raiou o dia, vamos viajar...” Primeiros versos da música “Viagem” de autoria de João de Aquino e Paulo César Pinheiro, interpretada por abalizados cantores brasileiros. Deixemos que a poesia nos povoe a alma. A literatura nos fornece ASAS e BOTAS DE SETE LÉGUAS, podemos viajar, através dos momentos em que escrevemos ou lemos. Com o meu Soneto “SONHO”, perpasso os continentes: “Sonho com paz, num mundo sem trincheiras,/ Sem miséria, dor, pranto e inconsequentes,/ Salpicado de naves viageiras/ Repletas de emoções: dóceis, virentes...// Onírico desejo!  Sem fronteiras,/ Alígera perpasso os continentes.../ Das nuvens, vejo o mar, as cordilheiras/ Nas serras, ouço os rios nas nascentes.// Na natureza tudo se harmoniza!../ Aos poucos, o homem vil e perdulário/ Destrói, corrói, devasta e se escraviza,// Corrompendo, humilhando o seu irmão./ Preserve essa beleza, esse cenário,/ Com o semelhante viva em comunhão!” Mergulho nas leituras que faço, nas histórias, dou o meu colorido aos cenários. 
           Além de cumprir com desvelo ardente o papel de esposa, mãe e avó, estou sempre atrelada a dois ou três livros simultaneamente, mas não somos iguais e isso é bom. Como seria se todos gostassem de vermelho? A diversidade das cores é o que aformoseia,  adorna e encanta. “O vento é o mesmo, mas sua resposta é diferente em cada folha.” (Cecília Meireles) Cada ser humano tem seu ponto de vista. Nem  todas as pessoas se interessam pelas mesmas coisas; hoje infelizmente valoriza-se muito o lado material. O que seria da matéria sem o espírito? Já não se contempla a natureza.  A maioria está conectada,  depende unicamente de aparelhos: celular, tablet  (bens necessários) e outros mais. Torço para que os use para fins educativos e para  uma boa formação, em prol da qualidade de vida, da educação, da informação e da cidadania. Os livros eletrônicos são muito interessantes, viajando levamos quantos quisermos sem aumentar a bagagem. Em casa, eu adoro mesmo é folhear, manusear e sentir o cheiro do LIVRO. A LITERATURA me fascina e além do prazer em saboreá-la ela serve de união, de ponte, nos aproxima de amigos distantes.  No mês passado, citei a “CANÇÃO DO EXPEDICIONÁRIO” em meu artigo, o que me valeu a surpresa e satisfação de receber delicado telefonema do bonjesuense Roberto Feres, residente em Niterói dizendo-me de seu encantamento pela referida Canção. Falamos de seu autor, Guilherme de Almeida e de sua riquíssima obra. Uma conversa agradável sobre aquele advogado, jornalista, crítico de cinema, poeta, ensaísta e tradutor brasileiro. E Roberto se referiu à tradução do Poema “SE” (“IF”, no original inglês), de autoria do poeta britânico  nascido na Índia, Rudyard Kipling (1865-1936), que transcrevo para o deleite de todos: “SE// Se és capaz de manter tua calma, quando/ todo mundo ao redor já a perdeu e te culpa./ De crer em ti quando estão todos duvidando,/ e para esses no entanto achar uma desculpa.//Se és capaz de esperar sem te desesperares,/ ou, enganado, não mentir ao mentiroso,/ Ou, sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares,/ e não parecer bom demais, nem pretensioso.// Se és capaz de pensar – sem que a isso só te atires,/ de sonhar – sem fazer dos sonhos teus senhores./ Se, encontrando a Desgraça e o Triunfo, conseguires,/ tratar da mesma forma a esses dois impostores.// Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas,/ em armadilhas as verdades que disseste/ E as coisas, por que deste a vida estraçalhadas,/ e refazê-las com o bem pouco que te reste.// Se és capaz de arriscar numa única parada,/ tudo quanto ganhaste em toda a tua vida./ E perder e, ao perder, sem nunca dizer nada,/ resignado, tornar ao ponto de partida.// De forçar coração, nervos, músculos, tudo,/ a dar seja o que for que neles ainda existe./ E a persistir assim quando, exausto, contudo,/resta a vontade em ti, que ainda te ordena: Persiste!// Se és capaz de, entre a plebe, não te corromperes,/e, entre Reis, não perder a naturalidade./ E de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes,/se a todos podes ser de alguma utilidade.// Se és capaz de dar, segundo por segundo,/ ao minuto fatal todo valor e brilho./ Tua é a Terra com tudo o que existe no mundo,/ e – o que ainda é muito mais – és um Homem, meu filho!” Texto enriquecedor do qual o leitor sai engrandecido. Composição poética de caráter lírico, composta de estrofes simétricas onde o autor exalta a nobreza de ânimo, a magnitude e a generosidade. Ensinamentos e conselhos que servem de orientação à conduta. Uma lição de decência, decoro e pertinácia. Poesia perfeita, que gera uma carícia doce, uma brisa mansa que afaga o peito em onda de paz.  Grande obséquio nos fez Guilherme de Almeida traduzindo esta preciosidade.  Roberto e eu falávamos dele como se ele ainda estivesse entre nós. Ele vive sim,  através de sua obra. Segundo Platão “o ser humano morre, quando ele começa a ser esquecido.” E nos afirma Adélia Prado: “O que a memória ama, fica eterno. Te amo com a memória imperecível.” 
                 Após estes remígios volto fortalecida à realidade e concluo, o Brasil tem jeito. “Nunca perca a fé na humanidade, pois ela é como o oceano. Só porque existem gotas de água suja nele, não quer dizer que ele esteja sujo por completo.” (Mahatma Gandhi)  Renovemos as nossas esperanças e vamos acreditar num Brasil liberto onde seriedade e respeito, ética e transparência sejam os principais elementos usados por POLÍTICOS SÉRIOS com grandiosos sonhos e autêntico amor à Pátria. Nossos anseios serão concretizados!!!