quinta-feira, 13 de março de 2014

BRAVO!!! (Publicado no Jornal "O NORTE FLUMINENSE" - 09 de março de 2014)

BRAVO!!!              
                                                                                          Vera Maria Viana Borges

               Que venham as chuvas de março! “São as águas de março fechando o verão/É a promessa de vida no teu coração.” (Tom Jobim)  “É preciso amor pra poder pulsar,/ É preciso paz pra poder sorrir,/ É preciso a chuva para florir...” (Almir Sater)
              O Espaço Cultural Luciano Bastos reúne em seu ecletismo elementos de todas as classes, mantendo glamour e beleza em suas apresentações.  Regiamente abriu a nova temporada com o talentoso Pianista e Organista bonjesuense, o VIRTUOSO Thadeu de Moraes Almeida, Bacharel em Piano pela Escola de Música da UFRJ e Mestrando no Programa Pós-Graduação da mesma Instituição. No repertório, Bach, Beethoven, Brahms, Chopin, Khachaturian, Homero Barreto e Villa Lobos. Inolvidável noite! Ficará para sempre retida nas memórias e corações dos presentes que se deleitaram naquele  encantável e mavioso evento. Com profunda razão, a música sempre foi considerada uma expressão divina. Sempre presente na história do homem ela pode ser considerada um presente de Deus. As notas musicais enlevam imensas e pequenas plateias e ativam a criatividade de outras artes. Por estas e outras é que Mário Mascarenhas afirmou: “Somente a Música é capaz de traduzir com tanta fidelidade os sentimentos mais sublimes que tanto nos aproximam de DEUS.” 
              Falando em música, apuro os ouvidos no tempo  e devaneando ouço e até vejo a “LIRA 14 DE JULHO pelas ruas de minha terra, executando o magistral “SÃO PAULO QUATROCENTÃO”, um dobrado muito bem construído, composto por Garoto e Chiquinho do Acordeão, consagrado como um verdadeiro hino do IV Centenário da Cidade de São Paulo, comemorado em 25 de janeiro de 1954. À frente o Professor Bastião, advindo daquela capital. O povo vibrava. E já se foram sessenta anos. 
            Ainda me lembro do cheiro forte da poeira deixada pelo caminhão que trazia nossa mudança para Bom Jesus no início de 1955. Deixávamos para trás muitas histórias ali vividas, a Igreja de Santana, a Pracinha multicolorida pelas exuberantes rosas.  Trazíamos as doces lembranças de belos shows, bailados, bailes, teatros e tantos outros movimentos de Cultura e Arte.  Apresentações singelas que calaram fundo em tantos e principalmente em nossos corações. Belas peças do cancioneiro popular e até mesmo clássicos executados por nós. Minha irmã sempre cantava e participava de bailados, que nossa mãe prazerosamente organizava. Délbio e eu, certa vez, vestidos de gaúchos, executamos em dupla a rancheira “Sarita”. 
                As artes cênicas eram valorizadas. No palco, do amplo salão nos Altos da Casa Brasil, dos Irmãos Alt, eram representadas animadas comédias, dramas e apresentados números de canto, danças, bailados, monólogos, diálogos, humorismo e mágicas que ficavam sempre a cargo do Sr. Chiquinho. Com relação a estas atividades cumpre-nos destacar a peça “O AMIGO da PAZ”, dirigida por Lutinho (Luís Assis Vargas). Elza Morais Borges vestida de azul e branco, interpretou a canção de David Nasser “Normalista”, acompanhada pelo instrumentista Tuca. Estava fulgurantemente bela!... Quando adentrou, após aplausos, a plateia silenciou enquanto José Pedro Rosa (Zé Pedro) suspirou pensando alto: “Ô trem especiali!”. Toninha acompanhada por Geraldo Vargas na interpretação de “Maria Bonita”. Maria Amélia Almeida em movimentos de ir e vir pelo palco nos encantou com “Si-ri-bi-ri-bi”. José Luís Vargas  nos brindou com “Quiçá”.  Anita Nunes apresentou em sua bela e maviosa voz, “Boneca de Piche”. Os irmãos Cida e José Luís Vargas, vestidos a caráter arrancavam aplausos como “Sinhá Marica e Nhô Zé Corá”. Sílvia Márcia fêz sucesso com “Vassourada”. O Fernando Coelho foi o príncipe de uma dramatização. Iêda Maria Fitaroni, vestida de Baiana, dançando com muitos gestos, lembrando a Carmem Miranda: “Na Bahia, também dá coco Babaçu”... 
               O salão  também servia para românticos e saudosos bailes, quando aquele palco abrigava as mais excelentes e ardorosas “orquestras” que movimentavam os pares que deslizavam sob o ritmo de memoráveis melodias. Era encantador ver o velhinho Dr. Edmundo Franca Amaral, engenheiro que veio fazer os estudos e construção da Usina “Professor Franca Amaral” dançando o chorinho “Delicado” com a Ana Glória. Houve um baile em que todas as damas se apresentaram de vestidos de mescla, enfeitados com grega. Tempo do samba-canção e do bolero, dois passos para lá, dois para cá.
                  As aulas de música proporcionavam sadia convivência entre professor e alunos. Tudo acontecia com naturalidade, com simplicidade, sem inveja, sem a pretensão de um se sobressair e se apresentar melhor que o outro. Tudo simples assim. Havia harmonia entre os pares. Não era competição e sim uma confraternização onde era valorizado o CONJUNTO.  A tradição artística de Rosal  se faz respeitada não somente pelo povo da terra mas também por todos os apreciadores que reconhecem a importância da música e das artes na formação da cidadania. Creio que Euterpe o deus da música esteve sempre presente e o Pai Eterno esteve sempre abençoando este punhado de abnegados, que roubando horas de seus afazeres ou de seus ócios, contribuiram grandemente não só para o recreio espiritual e aprimoramento estético, cultivando o que há de mais nobre e salutar  em nosso espírito, o gosto do belo. Sonho lindo plantado em minha alma, sonho lindo que vivi.
             Os insignes e incansáveis realizadores do magnânimo Espaço Cultural Luciano Bastos honram a nossa sociedade semeando dignificantes exemplos que são lições vivas. Eles estão plantando SONHO,  cultivando ESPERANÇA e disseminando CULTURA. Com imenso AMOR fazem Pulsar, plenos de PAZ fazem Sorrir, com copiosa CHUVA de Emoções fazem Florir. Nossos aplausos pela feliz iniciativa e votos de progresso incessante acrescidos dos sinceros agradecimentos do povo reconhecido da nossa amada terra. BRAVO!!!