quinta-feira, 17 de maio de 2012

NÃO BASTA QUERER - Publicado no Jornal O NORTE FLUMINENSE - nº 2253 - 12 de maio de 2012

                 NÃO BASTA QUERER                                                             
                                                                                           Vera Maria Viana Borges
             Tem certos dias que nos pegamos a pensar no que já se foi. É a saudade, são as lembranças e a angústia de amados familiares e amigos, já à direita do Deus Pai Todo-Poderoso, ou mesmo a compensadora satisfação de um passado venturoso, na construção de uma bela história, cheia de magia e prazeres. As reminiscências afloram, o que é muito natural, pois no caminho percorrido registramos  todos os acontecimentos que formam a nossa saga. É mesmo normal sentir uma saudade gostosa, saudável e até mesmo dizer - “Recordar é Viver”,  não podemos permitir é que esta saudade doa uma dor tão doída, que não tenha cura, às vezes chegando a ser tão mórbida que costumamos ouvir: “éramos felizes e não sabíamos”. Arte complexa a de viver!
              A História deve ser valorizada sempre, “um povo sem história é um povo sem memória”, contudo no cotidiano temos que buscar coisas novas sem deixar que nos prendamos às coisas velhas, ao que passou,   ao rudimentar, ao obsoleto. Cumpre-se seguir os rumos da modernidade sem se perder, claro, os valores cristãos, morais, culturais, intelectuais, políticos e filosóficos, vivendo o aqui e agora, neste mundo moderno, globalizado, dando prosseguimento à trajetória, caminhantes que somos em busca do futuro. Estamos em permanente construção. Cada dia é uma fase, um estágio de crescimento, aprendizado e amadurecimento. Ampliando nosso olhar vislumbramos um mundo novo que nos concita a novos desafios a cada instante. É essencial que vivamos intensamente o PRESENTE. O futuro a Deus pertence, vivamos então entusiasticamente o dia de hoje, como se ele fosse o último. Viver do passado é fugir da realidade. É algo irreal. É estar preso a um tempo que já não existe, é estar alienado. É óbvio que o que buscamos é a liberdade, a condição almejada para vivermos a vida em sua grandeza, em sua plenitude. Só o PRESENTE é real.
              O elixir da vida está em cultivar o Belo, o Bem e o Bom e encontrar caminhos novos. Somos os mesmos, apenas com maior bagagem, o ancião tem um fecundo dossiê. Com o aumento da expectativa de vida, um número cada vez maior de pessoas tem a chance, a oportunidade de testemunhar com mais maturidade os autênticos valores humanos. Só se é possível tornar plenos estes valores através da Providência Divina e da Ciência que  proporcionam melhores condições para se viver bem.
              A maturidade é o ápice, o apogeu, o auge, a plenitude do homem. É o alvorecer da Sabedoria. Com o passar dos lustros adquire-se mais Sabedoria. Só se envelhece quando se perde o interesse, quando se deixa de sonhar, de amar, de procurar novos conhecimentos e algo novo a conquistar. A mente tem que estar aberta a novas ideias, a novos interesses, inspiração de novas verdades, preservando a força jovial, contribuindo para a beleza e harmonia na distribuição de sabedoria e talento.
              Cora Coralina estreou na literatura aos 76 anos de idade e fez da vida e da morte uma poesia: “Não morre aquele/ Que deixou na terra/ A melodia de seu cântico/ Na música de seus versos”.
  Benjamim Franklin foi mais útil ao seu país, após os sessenta anos. Diplomata, escritor, jornalista, editor, cientista,  inventor, enxadrista norte-americano e descobridor dos para-raios. Depois dos oitenta anos, Verdi escreveu óperas. Compositor italiano, autor de “A Traviata”, “Rigoletto”, “Aída”, “A Força do Destino”, etc. Ticiano, pintor italiano, pintou seu incomparável quadro “Batalha de Lepanto” aos noventa e oito anos e sua “Última Ceia” aos noventa e nove. Monet  pintou grandes obras de arte depois dos oitenta e cinco. Michelangelo, escultor, pintor, arquiteto e poeta italiano, ainda esculpia suas obras-primas aos oitenta e nove anos, em1564, ano de sua morte. Kant escreveu algumas de suas maiores obras filosóficas depois dos setenta anos. Goethe escreveu a segunda parte de “Fausto” após os oitenta e Victor Hugo ainda encantava o mundo com seus escritos depois dos seus oitenta anos.
              O famoso arquiteto brasileiro, Oscar Niemeyer, comemorou em dezembro de 2011 os seus 104 anos, com novos projetos, desafiando qualquer regra de longevidade.
              Parar de trabalhar é começar a morrer. A morte caracteriza-se pela inação e a vida pela ação. O trabalho nos ocupa e revigora. Aposentar não significa tornar-se inútil, a vida continua, certamente mais intensa e sobretudo mais plena de liberdade para se trabalhar em algo útil, com propósito digno, para o próprio bem, para o bem da família, para o crescimento da comunidade e para o desenvolvimento do Estado e da PÁTRIA.
              “Que o beneplácito do Senhor, nosso Deus, repouse sobre nós. Favorecei as obras de nossas mãos. Sim, fazei prosperar o trabalho de nossas mãos”. Salmo 89:17
              Possamos, com a graça de Deus, estar atentos e produzindo até o último segundo de nossas vidas, seguindo a máxima de Goethe: “Não basta saber, é preciso aplicar; não basta querer, é preciso fazer!
  

sábado, 12 de maio de 2012