sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

E ENTÃO, É NATAL! (Publicado no Jornal O NORTE FLUMINENSE - 18/12/2015)

                   E ENTÃO, É NATAL!
                                                                              Vera Maria Viana Borges
           
                       Parece que foi ontem! É quase NATAL e 2015 já chega ao fim. Em lugares comuns essas trivialidades são repetidas. Meses difíceis com os reservatórios de água, o líquido mais precioso, abaixo do normal, enquanto  enormes enchentes transtornam o sul do país. Final de ano cheio de atropelos, triste e trágico  para o Brasil e para o mundo. Em Minas Gerais o rompimento das duas barragens de rejeitos  assolaram o Distrito de Bento Rodrigues em Mariana que foi destruído pela lama. Já decorrido um mês famílias dizimadas permanecem em hotéis ou abrigadas por parentes noutras localidades. É doloroso. O Rio Doce, um dos maiores do Brasil, sofreu as piores consequências. Suas águas contaminadas por arsênico, mercúrio e outros metais causaram a morte dos peixes deixando odor muito desagradável e forte. A maior tragédia ambiental, ecológica, hídrica e econômica ocorrida no país deixou marcas que serão sentidas por várias décadas. Após estes pavorosos acontecimentos em Minas, na sexta-feira, 13 de novembro, o terrorismo atingiu Paris. A Cidade Luz, sempre glamourosa e cheia de encantos, ficou sombria e desolada. Atentados acontecendo em outras partes do mundo. Oriente e Ocidente conturbam-se e deixam-se levar pelo egoísmo. Paixões exacerbadas se sobrelevam aos mais elementares princípios do bem-viver , não se respeitando sequer a dignidade humana e consequentemente as ordenações divinas. É mister e deveras salutar e providencial que se faça algo para que se dissipe a nuvem de discórdia em todos os confins.
                       É vergonhosa a situação do nosso país. Detentor de tantas riquezas e com um rombo de cento e vinte bilhões de reais. Pagamentos dos servidores estaduais sendo parcelados. Mencionadas diuturnamente nos noticiários a operação Zelotes e a Lava Jato que é a maior investigação de corrupção e lavagem de dinheiro que o Brasil já teve. Estima-se que o volume de recursos desviados esteja na casa de bilhões de reais. O resultado é a depressão econômica e muitos e muitos  políticos e empresários são suspeitos de participar dos esquemas de corrupção.  Uma onda gigante  atingiu a economia brasileira. Agora só se fala em impeachment.  As ofensas são recíprocas e à queima-roupa. Bate-boca entre autoridades superiores, onde os dois lados se acusam “de mentir” e a culpa é sempre do outro. Os súditos, meros espectadores, veem a verdade claramente e reconhecem todas as falcatruas de ambas as partes. O país não aguenta mais. Chegou à exaustão. Está tudo parado à espera dos acontecimentos. Que a Santa Cruz sob cuja sombra e proteção nasceu o Brasil, esteja a rutilar nos destinos desta Pátria e do mundo inteiro.
                     De onde vamos tirar motivação para tais desafios? Somente com a proteção Divina  poderemos buscar as fontes de energia para vivermos intensa e abundantemente com qualidade de vida e prosperidade. Os homens precisam ACORDAR. Precisam despertar para que possam viver com  dignidade. Lembrei-me de versos do DRUMMOND. Ele há anos já fez o seu apelo, com a poesia “Canção Amiga” que assim termina: “Eu preparo uma canção/ Que faça acordar os homens/ E adormecer as crianças.”  CANÇÃO AMIGA é um cativante poema do Poeta  mineiro Carlos Drummond de Andrade, publicado no livro “NOVOS POEMAS” da Editora José Olímpio em 1948. Trinta anos após seus versos musicados pelo também mineiro Milton Nascimento foram gravados no disco CLUBE DA ESQUINA 2, EMI, 1978. Em 1989 circulou nas cédulas de 50 cruzados novos, que trazia num dos lados a efígie do poeta e no anverso o referido poema. Com a mudança da moeda, saiu de circulação em outubro de 1992. Canção tão doce e suave para ninar e adormecer crianças e tão forte na expressão do desejo maior de conscientizar adultos, talvez, quem sabe para os deveres cumpridos com honestidade, para os atos executados com clareza, com cuidados, com senso de responsabilidade, com honradez, retidão e probidade?
                      Busquemos auxílio do Altíssimo. Vamos viver cada momento intensamente sem atropelar as coisas, desfrutando da Magia do Natal que se aproxima, descobrindo a emoção diferente, gostosa e calma da família reunida à volta do Presépio, juntamente com José, Maria, os Anjos e Pastores adorando o DEUS-MENINO.  Na Noite Feliz e Santa cantaremos "Glórias", depositando diante da modesta manjedoura, as nossas vitórias, nossas conquistas, nossas lágrimas e nossas esperanças. Em tal atitude de adoração meditaremos a doçura do filho de Deus que adormecendo tranquilo em humilde estábulo, quis certamente nos mostrar que a verdadeira LUZ descansa na simplicidade e na pureza.
                      Que o Menino-Jesus abençoe a cada um de nós e a cada pessoa do Planeta Terra, que ELE renasça em todos os corações plenificando-os da Luz Eterna que iluminará a noite escura de nossa trajetória.
                  Preparemos condignamente os nossos lares, nossas casas, nossos corações; enfeitemos tudo para as boas-vindas ao SANTO MENINO, manso, puro, inalterável, imutável, bom e amável. Que ELE possa estar sempre conosco norteando nossos passos e nós, com nossos familiares possamos seguir os exemplos da Santa e Sagrada Família de Nazaré.
                       A serenidade e a alegria do espírito natalino estejam presentes no ano que virá; que este Natal seja o derradeiro da era da violência e da corrupção  e o ano de 2016 surja sob os signos do AMOR e da PAZ.
                     A Glória do Senhor manifestar-se-á!... Que esta NOITE FELIZ perdure e se prolongue invadindo todos os dias do novo ano. Boas Festas!!!



UM VENTUROSO 2016, PROFESSOR!!!

      UM VENTUROSO 2016, PROFESSOR!!!
                                                                                        Vera Maria Viana Borges
                     
            Ah, como nos tem sido generoso o nosso Pai Celestial! Tem Ele sido pródigo, dando-nos saúde, paz, alegria, e, tantos amigos! Entre estes, há tão humildes e tão doutos, todos expressivamente marcando presença tão forte e ao mesmo tempo tão suave, tão leve e tão grave, tão simples e tão austera, envolvendo-nos numa atmosfera de carinho, dizimando conosco as tristezas, confraternizando nas conquistas e na FELICIDADE. O bom, o delicioso, o vivificante, é sermos caminhantes de uma mesma jornada; é sermos viajantes de mãos dadas, juntando a nossa história a outras histórias. É sermos irmãos, amando e respeitando o semelhante, companheiro de um mesmo destino. É admirarmos a grandeza, o talento de tantos, reconhecendo a nossa humildade, e a condescendência do Deus Pai Todo Poderoso, por nos permitir palmilhar estes caminhos. 
            Por volta de maio deste ano de 2015, seguindo as sendas da poesia, tive a grata satisfação de receber um telefonema do Professor Wagner com o amável convite para uma entrevista na Rádio Bom Jesus onde apresenta o PROGRAMA PONTO FACULTATIVO. Seria a sequência de uma série de programas sobre as ARTES. A princípio fiquei temerosa. Estaria eu, preparada para tal incumbência? Tive dúvidas, mas foquei e fui. Fiquei bem, pois apesar da minha simplicidade, o apresentador sustentou com brilho e habilidade aquela nossa conversa sobre a LITERATURA.  A partir de então tornei-me assídua leitora de suas crônicas e de seus versos. O “Ponto Facultativo” que vai ao ar às 11 horas das terças-feiras, já não é facultativo, tornou-se obrigatório. 
       O carisma que emana de Wagner Fontenelle Pessôa, quando profere seu criterioso e belíssimo pronunciamento, arrebanha todas as atenções. Ele é extraordinário! O laureado orador, de verve fluente, quando lido, revela o grande jurista, dedicado ao DIREITO e às causas da Justiça; o grande escritor, de palavra clara, profunda e culta imprime versatilidade em seu estilo. Fala às pessoas mais simples fazendo-se entender, sem contudo se distanciar da erudição do PROFESSOR. Maneja os recursos linguísticos como verdadeiro e grandioso Mestre. De memória privilegiada recita vários poetas brasileiros, com intensidade e muita emoção. Invejável a sua CULTURA. 
             Em 2003 aposentou-se pela Rede Federal de Ensino, mas não se acomodou em moles almofadas como aqueles que se afundam no indiferentismo, num “dolce far niente” , inoportuno aos homens de boa fibra. O Advogado, Especialista e Professor de Direito, que exerce o Magistério Superior há quase trinta anos, lecionando disciplinas como Criminologia, Direito Penal, Direito Desportivo e Teoria Geral do Direito,   presenteou-me com quatro “pérolas de sua lavra”, quatro livros seus que tão bem e tão grandemente dignificam  a LITERATURA BRASILEIRA. A princípio trouxe-me “Palavra é Arte” de Wagner Fontenelle Pessôa e outros autores, onde ele abre a sua alma e nos enleva com doces, melodiosos, encantáveis e imarcescíveis versos. Uma digna, valorosa e extraordinária contribuição à poesia contemporânea que vem  comprovar o talento do Poeta. De outra feita trouxe-me os outros títulos. “CONFESSO QUE ESCREVI” composto de Crônicas do cotidiano de uma conhecida Instituição de Ensino da qual muito se orgulha de ter participado, publicado em 2006.  “NEM SÓ DE PETIÇÃO VIVE O HOMEM”, textos escritos por um advogado avesso à excessiva tecnicalidade da redação jurídica, trazidos a lume em 2009. E, finalmente em 2015 nos apresenta a sua mais recente obra “SE ERA PARA ESCREVER, ESCREVI”, histórias contadas por uma família nordestina.
              Cultor das Letras e das Artes! Sua maneira de escrever é  agradável e tão convincente que nos leva a amar sua terra e sua gente, dando-nos imediato desejo de pisar aquele chão palmilhado pela nobre e altruísta família. Pude através de suas narrativas, percorrer seus cantos e recantos. Adentrei e naquele universo mágico  ouvi os fatos íntimos relatados com  leveza e naturalidade.  Detive-me com o autor diante da CASA GRANDE dos Pinho Pessôa. Reportei-me a Olavo Bilac: “Ama com fé e orgulho a terra em que nasceste!” O escritor, poeta, jornalista e compositor imprime serenidade e elegância em cada assunto e do repositório fiel da memória, os sentimentos e lembranças são aflorados e relatados com lucidez, valorizando sempre o amor às suas origens, à família e aos amigos com textos ornados com leveza e graça num delicioso desenrolar que encanta. As interessantíssimas e bem-humoradas crônicas, a memória do grande escritor de  pena de fino estro e o relato gostoso de suas histórias,  nos levarão a inúmeras releituras. 
             Atualmente reside em Campos dos Goytacazes mas já passou por vários Estados, residindo em inúmeras localidades. Tem uma grande simpatia por Bom Jesus e aqui tem aglutinado inúmeros talentos  através do seu amor à ARTE, pelo que somos muito gratos.
          Meus agradecimentos e efusivos parabéns, caro PROFESSOR, pela sensibilidade e pela esperança de dias melhores como nos demonstra nos seus lindos versos, neste limiar do ano de 2016: “OUTRA VEZ, COMO CRIANÇA...// Depois de um ano bem tumultuado,/ Assisto, após as tristezas e as dores,/ 2015, em seus últimos estertores.// Lanço um olhar sobre o caminho trilhado/ Mas, no meu íntimo, alguma coisa diz:/ 2016 será um ano mais feliz!// E, assim, me renasce a esperança,/ Que me embala, que me acalma o coração,/ E me permite ver o “outro” como irmão.// Olhar brilhando, outra vez, como criança,/ Quero esquecer que, no mundo, há tanto mal,/ Pelo menos nestes tempos de Natal...”
                   FELIZ NATAL, PROFESSOR!!! UM VENTUROSO 2016,  para o senhor e para todos os seus!!!

DEIXE CRISTO RENASCER!


sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

CIRCUITO DA SAUDADE (Publicado no Jornal "O NORTE FLUMINENSE" - 27 de novembro de 2015)

CIRCUITO DA SAUDADE
                                                                                           Vera Maria Viana Borges
        
                                 Passando rapidinho pelo Facebook, surpreendi-me com um vídeo intitulado “Saindo e entrando na Vargem Alegre (Pirapetinga, 5º Distrito de Bom Jesus do Itabapoana) e a seguir um outro “FAZENDA DAS AREIAS”. A postagem era do Dr. Eduardo Ribeiro Gomes, exímio pianista e médico brilhante na cidade do Rio de Janeiro, filho de Vera Ribeiro e Romeu Gomes, consequentemente neto de Chichico das Areias. Vera Ribeiro era mais conhecida como a Vera do INSS. Mulher elegante, alegre e guerreira, brava e forte ante as vicissitudes da vida. Um enorme Ser humano, de nobre e elevado coração, defensora ferrenha dos pobres e oprimidos.
                            Resolvi pegar uma carona virtual e fiz o percurso de Bom Jesus a Pirapetinga junto com os protagonistas daquele circuito da saudade. Enquanto assistia aos agradáveis, sensíveis e primorosos vídeos que exaltavam a beleza do campo e da natureza daqueles lugares em que viveram, senti as ações e reações do Dr. Eduardo e de sua irmã Tê, Maria Tereza Ribeiro Gomes. Quanta saudade, quantas coisas maravilhosas ali vividas e agora sepultadas pelo tempo, mas muito VIVAS em suas almas e em seus corações. Na primeira parada, admiravam a casa de Iracema e Agostinho Boechat, quando Maria Lúcia Seródio Boechat , nossa dileta amiga Lucinha, chegou e os recebeu com gentilezas e lhes apresentou o Museu da Imagem mantido pelo Instituto Iracema Seródio Boechat. Cordialmente ela sempre se coloca à disposição de todos os visitantes que lá comparecem e os leva a conhecer o extraordinário acervo que conta com RELÍQUIAS, entre as quais objetos da época dos escravos. Ali está registrada a HISTÓRIA de todo aquele amado e belo torrão. Dr. Eduardo e Tê suspiravam a cada foto, a cada objeto e a cada documento, fazendo comentários saudosos e amáveis sobre aqueles com quem ali conviveram. A sensibilidade aflorava às vezes em sorrisos, outras vezes em lágrimas. Virtualmente revisitei o  MUSEU em Pirapetinga. Após, partiram para a Fazenda das Areias. Acompanhei-os naquelas andanças. Emocionei-me com eles e muitas vezes do riso se fazia o pranto. Foi muito bom aquele mergulho no TEMPO. Foi espetacular!!! Um documentário histórico-cultural pontuado de reminiscências de uma época ditosa e saudosa... Retalhos de uma infância saudável e feliz. Contente estou por adentrar nesta viagem mágica, cheia de encantamento. Senti a emoção dos dois ao se depararem com as RUÍNAS da Fazenda na qual viveram a quadra mais feliz da vida e que está perpetuada no recôndito mais fiel de suas memórias. No percurso de vales e montes, desabafos e doces lembranças da lua linda prateada, dos pássaros, da bucólica paisagem e das recordações dos mais íntimos sentimentos. Adorei todo o percurso e percebi naqueles irmãos muita grandeza de espírito e nobreza de sentimentos. Bem se diz que, “quem sai aos seus não degenera”. “A formosura da alma campeia e denuncia-se na inteligência, na honestidade, no reto procedimento, na liberalidade e na boa educação.” (Miguel de Cervantes)   Momentos emocionantes e belos pontuados de angústia e saudade. A vida é mesmo assim. No dizer de Guimarães Rosa, “Viver é um rasgar-se e remendar-se”.
                                 Bendigo aos que preservam a memória. Retratá-la é valorizar o passado e seus legados e quem a renega pode-se dizer que não tem história. Retive as imagens e todo o encantamento daquela viagem no tempo.  Remotos sons, vozes e aromas se fizeram presentes. Parei novamente no Solar dos Boechat. Com o fluir dos anos vamos conquistando experiências e com os sentidos vamos captando impressões da vida buliçosa e irrequieta. Há lugares e pessoas que são fontes inesgotáveis de reminiscências que jamais saem do nosso imaginário. Como perder da lembrança os momentos vividos com  Iracema Seródio Boechat? Grande Mestra, Poetisa das mais admiráveis, credora da eterna gratidão e amor de quantos se privaram de sua amizade e de seu convívio.  De têmpera rija, defensora do progresso moral e intelectual de sua terra. Conheci a nobre dama na residência de sua prima, Professora Alzira Seródio Amim , mãe de Sucena, minha amada colega de turma.  Cursamos juntas o Ginasial e o Normal. Formamo-nos em 1961 e em abril de 1962 ingressamos no Magistério. Àquela época havia uma folga em data específica para o pagamento do professorado, assim Iracema e Isa Boechat vinham a Bom Jesus para receber. Era religioso o nosso encontro e minha admiração por ela era crescente. Fizemos o primeiro Vestibular da FAFITA e tive a grande honra de ingressar no Curso de Letras com ela e sua dileta filha Lucinha. Nossos laços se estreitavam. Tive alegria de compor o Hino da Escola Municipal  que ostenta orgulhosa o seu grandioso nome. Musiquei a letra, do HINO DE PIRAPETINGA,  feita por ela. Fiz-lhe o NECROLÓGIO na Academia Bonjesuense de Letras. Em ASTROS & ESTROS, publiquei em julho de 1996, a matéria intitulada - ESSAS ADMIRÁVEIS AVÓS!  AVE, CEMA!,  que está disponibilizada no site www.veraviana.com.br e que segue na íntegra, apenas em outro formato:  “...Filha, serás mamãe... por teu amor profundo/ /Jamais abrigarás desilusões... feridas.../ Porque já és divina em dar um filho ao mundo...”/ (Iracema Seródio Boechat) Iracema, mulher guerreira, que empunhando a bandeira de um grande ideal se transforma em nume tutelar no “berço de seu sonhar ”, a feliz e doce Pirapetinga. Seu trabalho reflete toda a beleza que exemplifica a arte. Sua poesia penetra, encanta com o perfume que exala de sua alma carismática. De aprimorada sensibilidade revela-nos a meiga, sensível e requintada poetisa. “Um dia ausentar-me-ei, terra querida e boa,/ Mas levarei comigo a glória de ser filho/ De solo idolatrado - a mãe que ama e perdoa.” E... ela se ausentou... O 21 de agosto de 1992 toldou-nos de tristeza e dor. Com a alma pungida curvamo-nos  reverentes à grande dama. “Abençoa Senhor, nossos netos que amamos: O Guto, o Frederico e a viva Mariana, E aqueles que de Deus nós ainda esperamos.” Deus ainda lhe proporcionou- Miguel Henrique, Agostinho Neto, Lara, Betina e Felipe.  Imortal é verdadeiramente a alma. Mas nessa descendência teve também a sua imortalidade. Nos grandes feitos de sua vida ela ficou perpetuada, e, imortalizada pelo seu talento, pois o poeta e a poesia não morrem... Publicou “Paisagens e Perfis” onde exaltou a terra, os pais, o esposo amado, os filhos, os NETOS, os irmãos, os amigos, as flores e a natureza. Esta mulher deixou inscrita de forma inapagável a marca insólita da esposa, mãe, AVÓ, mestra e literata. O Soneto Roda D’Água inicia seu livro, evidenciando assim o espírito de progresso e desenvolvimento da vila, a qual a “Roda D’Água” ajudou a crescer. “RODA D’ÁGUA:  Barulho de comportas, marulhante,/ Pingos d’água orvalhando a ramaria,/ É tua faina, diária, ofegante,/ Na jornada sem par de cada dia.// E a água cai sonora, deslumbrante,/ Em meio às flores em policromia./ Como és feliz, assim, cantarolante!/ Na jornada sem par de cada dia.// E se despede o dia. E a noite chega/ E do meu leito embalo a nostalgia./ Cessa a jornada igual de cada dia.// Cessa a jornada. É mudo o fim do dia./ E assim ficamos quietas de repente:/ Só as lágrimas caem do olhar da gente.”

terça-feira, 10 de novembro de 2015

GLORIOSOS REMÍGIOS (Publicado no Jornal "O NORTE FLUMINENSE" - 31/10/2015)

GLORIOSOS REMÍGIOS      
                                                                                         Vera Maria Viana Borges
               O sol não está para brincadeira. Neste início de outubro temos uma Primavera atípica, ensolarada e de intenso calor. A estação marcada pelas belas e exuberantes flores, que normalmente tem amenas temperaturas chegou com cara de verão. Está tudo mudado, tanto a natureza quanto as pessoas. A água escasseando a cada dia. Atravessamos tempestuosos momentos, arrastados por uma política recessiva neste Planeta repleto de incertezas. Exaustos presenciamos miséria, guerras, mentiras, o drama dos imigrantes, licenciosidades, corrupção e violência. Na atmosfera política a impactante certeza da falta de patriotismo. Ó Deus, sentimos falta  dos Grandes Estadistas, de pessoas dignas, de Líderes de Verdade com grandes sonhos e amor à PÁTRIA. Políticos bem preparados que não se contaminem com o terrível vírus da corrupção, que não tenham a intenção de acudir-se, agindo sempre em benefício próprio como temos presenciado nos dias atuais quando visam apenas os próprios interesses e se prestam a articulações desprezíveis e conluios vergonhosos. E nós sofremos as consequências, somos reféns de todos estes desmandos. É estarrecedor. Desejamos melhores dias, repudiamos os acontecimentos deploráveis, almejamos trilhar os caminhos do decoro e da honra. Estamos num beco sem saída, mas temos que prosseguir e para o alívio destas tensões recorro à escrita.  Já disse Fernando Pessoa. “Escrever é esquecer. A literatura é a maneira mais agradável de ignorar a vida.” Claro, é evidente que isto não tirará o país da crise, mas dá-nos um fôlego, ficamos aliviados por uns instantes.
             “Oh tristeza, me desculpe/ Estou de malas prontas/ Hoje a poesia veio ao meu encontro/ Já raiou o dia, vamos viajar...” Primeiros versos da música “Viagem” de autoria de João de Aquino e Paulo César Pinheiro, interpretada por abalizados cantores brasileiros. Deixemos que a poesia nos povoe a alma. A literatura nos fornece ASAS e BOTAS DE SETE LÉGUAS, podemos viajar, através dos momentos em que escrevemos ou lemos. Com o meu Soneto “SONHO”, perpasso os continentes: “Sonho com paz, num mundo sem trincheiras,/ Sem miséria, dor, pranto e inconsequentes,/ Salpicado de naves viageiras/ Repletas de emoções: dóceis, virentes...// Onírico desejo!  Sem fronteiras,/ Alígera perpasso os continentes.../ Das nuvens, vejo o mar, as cordilheiras/ Nas serras, ouço os rios nas nascentes.// Na natureza tudo se harmoniza!../ Aos poucos, o homem vil e perdulário/ Destrói, corrói, devasta e se escraviza,// Corrompendo, humilhando o seu irmão./ Preserve essa beleza, esse cenário,/ Com o semelhante viva em comunhão!” Mergulho nas leituras que faço, nas histórias, dou o meu colorido aos cenários. 
           Além de cumprir com desvelo ardente o papel de esposa, mãe e avó, estou sempre atrelada a dois ou três livros simultaneamente, mas não somos iguais e isso é bom. Como seria se todos gostassem de vermelho? A diversidade das cores é o que aformoseia,  adorna e encanta. “O vento é o mesmo, mas sua resposta é diferente em cada folha.” (Cecília Meireles) Cada ser humano tem seu ponto de vista. Nem  todas as pessoas se interessam pelas mesmas coisas; hoje infelizmente valoriza-se muito o lado material. O que seria da matéria sem o espírito? Já não se contempla a natureza.  A maioria está conectada,  depende unicamente de aparelhos: celular, tablet  (bens necessários) e outros mais. Torço para que os use para fins educativos e para  uma boa formação, em prol da qualidade de vida, da educação, da informação e da cidadania. Os livros eletrônicos são muito interessantes, viajando levamos quantos quisermos sem aumentar a bagagem. Em casa, eu adoro mesmo é folhear, manusear e sentir o cheiro do LIVRO. A LITERATURA me fascina e além do prazer em saboreá-la ela serve de união, de ponte, nos aproxima de amigos distantes.  No mês passado, citei a “CANÇÃO DO EXPEDICIONÁRIO” em meu artigo, o que me valeu a surpresa e satisfação de receber delicado telefonema do bonjesuense Roberto Feres, residente em Niterói dizendo-me de seu encantamento pela referida Canção. Falamos de seu autor, Guilherme de Almeida e de sua riquíssima obra. Uma conversa agradável sobre aquele advogado, jornalista, crítico de cinema, poeta, ensaísta e tradutor brasileiro. E Roberto se referiu à tradução do Poema “SE” (“IF”, no original inglês), de autoria do poeta britânico  nascido na Índia, Rudyard Kipling (1865-1936), que transcrevo para o deleite de todos: “SE// Se és capaz de manter tua calma, quando/ todo mundo ao redor já a perdeu e te culpa./ De crer em ti quando estão todos duvidando,/ e para esses no entanto achar uma desculpa.//Se és capaz de esperar sem te desesperares,/ ou, enganado, não mentir ao mentiroso,/ Ou, sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares,/ e não parecer bom demais, nem pretensioso.// Se és capaz de pensar – sem que a isso só te atires,/ de sonhar – sem fazer dos sonhos teus senhores./ Se, encontrando a Desgraça e o Triunfo, conseguires,/ tratar da mesma forma a esses dois impostores.// Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas,/ em armadilhas as verdades que disseste/ E as coisas, por que deste a vida estraçalhadas,/ e refazê-las com o bem pouco que te reste.// Se és capaz de arriscar numa única parada,/ tudo quanto ganhaste em toda a tua vida./ E perder e, ao perder, sem nunca dizer nada,/ resignado, tornar ao ponto de partida.// De forçar coração, nervos, músculos, tudo,/ a dar seja o que for que neles ainda existe./ E a persistir assim quando, exausto, contudo,/resta a vontade em ti, que ainda te ordena: Persiste!// Se és capaz de, entre a plebe, não te corromperes,/e, entre Reis, não perder a naturalidade./ E de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes,/se a todos podes ser de alguma utilidade.// Se és capaz de dar, segundo por segundo,/ ao minuto fatal todo valor e brilho./ Tua é a Terra com tudo o que existe no mundo,/ e – o que ainda é muito mais – és um Homem, meu filho!” Texto enriquecedor do qual o leitor sai engrandecido. Composição poética de caráter lírico, composta de estrofes simétricas onde o autor exalta a nobreza de ânimo, a magnitude e a generosidade. Ensinamentos e conselhos que servem de orientação à conduta. Uma lição de decência, decoro e pertinácia. Poesia perfeita, que gera uma carícia doce, uma brisa mansa que afaga o peito em onda de paz.  Grande obséquio nos fez Guilherme de Almeida traduzindo esta preciosidade.  Roberto e eu falávamos dele como se ele ainda estivesse entre nós. Ele vive sim,  através de sua obra. Segundo Platão “o ser humano morre, quando ele começa a ser esquecido.” E nos afirma Adélia Prado: “O que a memória ama, fica eterno. Te amo com a memória imperecível.” 
                 Após estes remígios volto fortalecida à realidade e concluo, o Brasil tem jeito. “Nunca perca a fé na humanidade, pois ela é como o oceano. Só porque existem gotas de água suja nele, não quer dizer que ele esteja sujo por completo.” (Mahatma Gandhi)  Renovemos as nossas esperanças e vamos acreditar num Brasil liberto onde seriedade e respeito, ética e transparência sejam os principais elementos usados por POLÍTICOS SÉRIOS com grandiosos sonhos e autêntico amor à Pátria. Nossos anseios serão concretizados!!!

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

ÁUREOS TEMPOS (Publicado no Jornal O NORTE FLUMINENSE - 30-09-2015)

ÁUREOS TEMPOS
                                                                                          Vera Maria Viana Borges
               Tempos áureos aqueles em que moças e rapazes bem vestidos, circulavam a nossa célebre e amada Praça Governador Portela. Elas iam aos pares de um lado e eles vinham em sentido contrário. A cada volta muitos suspiros e olhares inebriados que faziam acelerar corações. Ingênuos flertes que se transformavam em namoros e na maioria das vezes em casamento. Como tudo era inebriante e belo, prazeroso e romântico! Recordamos com satisfação os suntuosos bailes do AERO CLUBE, com grandes orquestras, especialmente os de Formatura e os das Coroações das Rainhas; as memoráveis e encantadoras serenatas que ecoavam nas madrugadas, os maravilhosos filmes de amor exibidos no CINE MONTE LÍBANO, as tertúlias, os saraus e as partidas de futebol que enchiam de entusiasmo a nossa Bom Jesus e todo o seu povo, arrebanhando as mais animadas torcidas. Como não lembrar, as aguerridas disputas entre Olímpico e Progresso?
         O futebol é o esporte mais apreciado, avaliado e comentado no mundo. Acompanhado por milhões de seguidores é marcado por provocações entre as torcidas em relação às goleadas, títulos e posicionamento nos campeonatos. Há grande rivalidade entre os times pela disputa de taças e troféus. Seja na rua com golzinhos, nos quintais, nas quadras, nos campos, é um esporte que causa emoções em qualquer faixa etária. As pessoas gritam, pulam, choram e se alegram mediante o gol contra o time adversário. A torcida vibra, canta hino e solta fogos. De origem inglesa, o jogo da pelota chegou ao país em1895. Charles Miller estudava na terra da Rainha e lá conheceu o futebol e quando retornou trouxe com ele o objeto que se tornaria o símbolo emblemático do nosso país. Foi ele também que trouxe as regras do jogo e mostrou para os seus amigos como jogá-lo. Ele é reconhecido como o pai do futebol brasileiro e teve participação efetiva no primeiro jogo realizado em terra brasileira, que aconteceu na capital paulista em 14 de abril de 1895.
                 Em Bom Jesus, aos 23 de março de 1914, o Coronel Fernando Lopes da Costa (àquela época Tenente Fernando), Abílio de Castro  e outros, fundaram o “OLÍMPICO FUTEBOL CLUBE”, chamado “O GLORIOSO” por suas notáveis vitórias. Clube de lutas, ostentando o Vermelho e o Amarelo dava sempre mostra da garra de seus atletas. Imediatamente põe mãos à obra sua primeira Diretoria: presidente - Pedro Gonçalves da Silva (Coronel Pedroca); vice-presidente - Horácio de Carvalho; secretário - João de Azevedo Matos; tesoureiro - Francisco Teixeira de Oliveira; 2º tesoureiro - Carlos Rodrigues Firmo; procurador - Walter Gomes Franklin; 1º capitão - José de Souza Firmo (Juquinha); 2º capitão - Otis Menezes. Sua primeira equipe foi assim constituída: Chico Fragoso (goleiro), Horácio Moraes, Juquinha Firmo, Dão, João Fraga, Tenente Fernando, Otis Menezes, Cândido Peralva, Walter Franklin, Nilo e Porcino. Entre os ilustres que dignificaram  os seus quadros estavam o Dr. Luciano Bastos, Tales Borges de Castro, Joaquim Hooper de Oliveira, Guilherme Mathias, Élbio Tinoco Mathias, José Silva, Benedito Paris, Ismael Melo, Dodô Elias, Afonso Maia, Pedro Santos, Branco, Temildo, Pitota e muitos e muitos outros. Sua primeira Rainha foi a Professora Gisete Barroso. Dentre outras também reinou no GLORIOSO a Senhora Lirinha Mathias.
                  No primeiro treino do Olímpico, o Tenente Fernando e Juquinha se desentenderam, o que gerou o afastamento de José de Souza Firmino (Juquinha) que se uniu a Antônio de Oliveira Borges, José de Oliveira Borges, José Cabeça Freire, Oswaldo Santos, Pedro Casemiro de Campos, Otis Menezes e outros, que dotados de inteligência, cheios de sonhos considerados inatingíveis se uniram para fundar uma outra associação desportiva. Lançaram a semente! Para que germinasse havia necessidade de uma área para a prática do futebol. José de Souza Firmo incumbiu-se de pedir ao Sr. Carlos de Figueiredo Firmo, seu pai, para que fosse cedido terreno de sua propriedade para o funcionamento da novel instituição. Atendendo ao pedido do filho, iniciou-se o trabalho para as primeiras instalações.  Assim no dia 06 de maio de 1914 foi fundado o “ORDEM E PROGRESSO FUTEBOL CLUBE”, tradicionalmente conhecido como “O MAIS QUERIDO” e iniciadas as obras que modificadas ao longo dos anos se transformaram no “ESTÁDIO CARLOS FIRMO”, que recebeu o nome do doador do terreno, na nossa vizinha cidade, Bom Jesus do Norte. Sua primeira Rainha foi Tanquinha, grande entusiasta e incentivadora; promoveu lindas Festas Ciganas, Festas Juninas, sempre no Dia dos Namorados e o Baile das Bolas em que para o ingresso era obrigatório o uso de bolas nos mais variados tecidos dos trajes das elegantes damas.
              O primeiro Clube bonjesuense registrado na Federação, foi o “FLUMINENSE FUTEBOL CLUBE” que ostentou o título de “O MAIS SIMPÁTICO”. Seu campo era em terreno do Senhor José Lima, às margens do rio Itabapoana  o que proporcionava aos seus atletas agradáveis banhos de rio após os treinos. Ainda hoje, mesmo após ter  sido loteado, é comum referir-se ao local  como - no “Campo do Fluminense”. Antônio Tinoco de Oliveira, Dário Vieira Borges e Ernesto Saraiva iniciaram suas atividades. Houve uma parada. Joaquim Megre, carinhosamente chamado Coquinho, reativou em 1915 o Clube de que foi Presidente por muitos anos. Samuel Xavier ainda muito jovem foi atleta e mais tarde Presidente. Alair e Nanadir Tatagiba, Dr. Amim, José Tupine, Dr. José Duarte e outros não menos ilustres,  dignificaram os seus quadros. Entre as suas Rainhas a ilustre Senhora Maria Áurea Megre Mansur Hobaica. Sua equipe representou o nosso amado Município de Bom Jesus do Itabapoana durante 04 anos em torneios do Estado, tendo jogado em Campos dos Goytacazes, Natividade, Itaperuna e outros Municípios. INVICTO por 06 anos. Hoje, lastimavelmente está desativado. 
                          Além do show de bola no pé, por vários anos os clubes de futebol nos brindaram com desfiles alegóricos de raríssima beleza abrilhantando nossas encantadoras Festas de Agosto. As clássicas partidas movimentavam as duas BOM JESUS. Os estádios ficavam lotados, comparecia a nata da sociedade  e a euforia tomava conta de todos. A cada grito de Gol, a alegria de uns e a tristeza de outros. Havia grande rivalidade, valendo até tiros após um certo resultado. O grande e notável advogado Dr. José Moraes Ribeiro que também fez parte da história do nosso futebol, algumas vezes precisou atuar em defesa de alguns mais exasperados. 
                         Exaltamos as torcidas que tanto vigor emprestaram aos grandes atletas quer do “Glorioso Olímpico”, do “Mais Querido Ordem e Progresso” e do “Mais Simpático Fluminense” que promoveram vibrantes espetáculos nos ESTÁDIOS de nossa cidade.
                         OLÍMPICO e PROGRESSO, atuantes, prosseguem causando emoções, continuam escrevendo com maestria a história do futebol bonjesuense. Aplausos a estes gigantes!!!

terça-feira, 8 de setembro de 2015

VOCÊ SABE DE ONDE EU VENHO? (Publicado no JORNAL "O NORTE FLUMINENSE - 31 de agosto de 2015)

VOCÊ SABE DE ONDE EU VENHO?         
                                                                                            Vera Maria Viana Borges
                       O  tempo voa ! Há 70 anos bombas atômicas foram lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki com consequências catastróficas que foram além da morte. Após os dois ataques o Japão se rendeu e finalmente terminou a Segunda Grande Guerra. Terríveis anos! Meu Deus!!! Os noticiários evidenciaram e pus-me a divagar...  Primeiramente recordei as magistrais aulas de HISTÓRIA  da admirável, MESTRA MAIOR,  Maria Apparecida Dutra Viestel. Depois fui além... Aos vinte e nove dias do mês de junho de 1944, em plena guerra, em meio a tantas amarguras para tantos brasileiros que pagaram altíssimos tributos, inclusive com suas vidas, numa pequenina vila, tranquila, de monte azul, serra azulada, fértil em cultura e patriotismo, tive o nascedouro, pude lá ver a luz primeira. Acredito tenha sido embalada com a “Canção do Expedicionário”. O único meio de comunicação era o rádio que por certo a entoava frequentemente. Ainda hoje a trago gravada na memória e sinto ouvir na terna e doce voz de minha querida mãe, os versos de Guilherme de Almeida na melodia de Spartaco Rossi. Transcrevo-a na íntegra, perguntando, estaria aí a fonte do meu tão grande amor à Pátria e às Letras? “CANÇÃO  DO  EXPEDICIONÁRIO (Guilherme de Almeida-Spartaco Rossi)  Você sabe de onde eu venho?/ Venho do morro, do engenho,/ Das selvas, dos cafezais,/ Da boa terra do coco,/ Da choupana onde um é pouco,/ Dois é bom, três é demais,/ Venho das praias sedosas,/ Das montanhas alterosas,/ Do pampa, do seringal,/ Das margens crespas dos rios,/ Dos verdes mares bravios/ Da minha terra natal./ ESTRIBILHO: Por mais terras que eu percorra,/ Não permita Deus que eu morra/ Sem que volte para lá;/ Sem que leve por divisa/ Esse “V” que simboliza/A vitória que virá:/Nossa Vitória  final,/ Que é a mira do meu fuzil,/A ração do meu bornal,/A água do meu cantil,/As asas do meu ideal,/A glória do meu Brasil.” Seguem as três últimas estrofes: “Eu venho da minha terra,/ Da casa branca da serra/ E do luar do meu sertão;/ Venho da minha Maria/ Cujo nome principia/ Na palma da minha mão,/ Braços mornos de Moema,/ Lábios de mel de Iracema/ Estendidos p'ra mim./ Ó minha terra querida/ Da Senhora Aparecida/ E do Senhor do Bonfim!// Você sabe de onde eu venho?/ É de uma Pátria que eu tenho/ No bojo do meu violão;/ Que de viver em meu peito/ Foi até tomando jeito/ De um enorme coração./ Deixei lá atrás meu terreno,/ Meu limão, meu limoeiro,/ Meu pé de jacarandá,/ Minha casa pequenina/ Lá no alto da colina,/Onde canta o sabiá.// Venho do além desse monte/ Que ainda azula no horizonte,/ Onde o nosso amor nasceu;/ Do rancho que tinha ao lado/ Um coqueiro que, coitado,/De saudade já morreu./ Venho do verde mais belo,/ Do mais dourado amarelo,/ Do azul mais cheio de luz,/ Cheio de estrelas prateadas/ Que se ajoelham deslumbradas,/Fazendo o sinal da cruz!”
                              O misto de dor, amor e fé, na beleza dos inconfundíveis versos que me embalaram faziam a associação vital de vários elementos diferentes que poderiam resultar em perfeita simbiose gerando esta minha alma poeta. Na minha terra vicejam as mais belas rosas, devendo-se à exuberância das mesmas, o seu delicado nome, ROSAL. Ela tem clima de montanha, que por sua amenidade garante o mais salutar aspecto. Distando de Bom Jesus apenas trinta e dois quilômetros, é um convite permanente para a deliciosa temperatura proveniente de seus 420 metros de altitude.
                            Àquela época já não eram apenas rosas, havia muitos ESPINHOS: a guerra, combatentes, desertores que por cafezais, serras, morros, se embrenhavam e se escondiam. Cândido Diniz já lutava na Itália, Ernesto Lumbreiras patrulhava o litoral brasileiro na região de Campos. Falavam à boca-pequena, de um rosalense que fugira do “quartel”, vindo do Rio de Janeiro a pé, seguindo os trilhos das Estradas de Ferro...  Era muito o sofrimento daqueles familiares que repetiam: “se correr o bicho pega, se parar o bicho come”. 
                      Já havia muito tempo, corações aflitos sofriam os terrores da guerra. Rogavam aos céus pelos irmãos assolados pelos horrores por que passavam. O Natal  de 1942 foi comemorado num clima de alegria e tristeza, conforme noticiou o jornal “A Voz do Povo” de 09 de janeiro de 1943 através do nosso correspondente, o saudoso Haroldo Pani: “Embora tendo n’alma um misto de alegria e tristeza, Rosal comemorou condignamente o Natal. Alegria pela passagem da data que marca o maior acontecimento da História - o advento do Redentor. De tristeza, pela ideia, embora pálida, do sofrimento dos seus semelhantes assolados pela terrível guerra. Assim fez subir aos Céus rogos e preces cheios de fervor pelas viúvas e órfãos, sem lar e sem pão... Pela madrugada, houve a tradicional ladainha; ao meio dia, interessante e animado programa das crianças do Catecismo da Igreja Católica, competentemente dirigidas pela senhorita Zilah Almeida e Madame Euzequias Tito de Almeida. A Igreja se achava lindamente ornamentada e o presépio caprichosamente armado; também houve distribuição de doces às crianças tirados de bonita árvore de Natal.
                 As firmas comerciais “Irmãos Figueiredo” e “Irmãos Alt”, distribuíram fazendas, cobertores e víveres aos pobres. Também muitas famílias fizeram, na intimidade do lar, donativos aos necessitados.
                           A Sociedade Auxiliadora Feminina da Igreja Evangélica realizou brilhante festividade, à noite, no Templo. A assistência apesar da chuva reinante, foi enorme, enchendo literalmente o vasto recinto. O programa constou de modesto discurso alusivo à data pelo presbítero Guilherme Figueiredo, de lindos coros sacros competentemente regidos pela Senhora América Alt Macedo,  de diálogos, monólogos e poesias pelas crianças da Escola Dominical e de farta distribuição de “frutos” da belíssima árvore de Natal que constituía o enlevo e regalo da petizada e... até dos marmanjos também...”
                   Naquela ocasião, muitos gêneros de primeiríssima necessidade, como sal, açúcar, querosene, gasolina chegavam mediante cotas mensais, e não sendo suficientes para suprir a necessidade de todos os consumidores, passaram a ser objeto de câmbio negro. As crises nacionais e internacionais ecoavam no mundo, no Brasil e também na pequenina Rosal. 
                     “Tudo passa sobre a Terra”, escreveu, genialmente, o escritor José de Alencar, finalizando o seu livro: Iracema. Setenta anos após, apesar das trágicas lembranças continuarem vivas, Hiroshima e Nagasaki, reconstruídas, se transformaram em cidades modernas, desenvolvidas, com árvores, prédios, pessoas circulando, carros,  como quaisquer outras. Tudo passou, restaram apenas estes registros de inquietações, angústias, seguidos de momentos de felicidade, sonhos e ideais; de dificuldades seguidas  de  muitas conquistas.  
                     “O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã.” Esta citação é bíblica, portanto verdadeira. Estamos em plena Festa de Agosto em clima de alegria e descontração. Em Rosal também a realidade graças a Deus é outra, não se fala mais de CHORO e sim de “Chorinho”, do  Tradicional Festival de Chorinho & Sanfona que atrai cada vez mais rosalenses ausentes, bonjesuenses, pessoas de todo o Vale do Itabapoana e turistas de todas as partes. Milhares de pessoas se reúnem para desfrutar da  boa música e  das delícias da culinária local, lá na Vila de onde vim, aquela Vila  tranquila, de monte azul, serra azulada, fértil em cultura e patriotismo.

terça-feira, 4 de agosto de 2015

AO MEU FILHO (Página 8 do meu livro - TRILHAS POÉTICAS)


MEMÓRIAS DE UM EX-COMBATENTE (Publicado no Jornal "O NORTE FLUMINENSE - 24 de julho de 2015)

MEMÓRIAS DE UM EX-COMBATENTE
                                                                                             Vera Maria Viana Borges
               
                            Na Europa ocorria a maior conflagração da História da Humanidade. Iniciou-se com a invasão da Polônia pela Alemanha hitlerista a 1º de setembro de 1939, prosseguindo na Europa até a capitulação alemã a 7 de maio de 1945 e na Ásia até a rendição do Japão a 2 de setembro de 1945. Da coligação aliada contra a Alemanha, a Itália e o Japão, participaram a França, URSS, EUA, o Reino Unido e outros países, entre eles o Brasil.
                      No Brasil, a reação contra o nazismo, iniciou-se em 1942,  embora limitando-se apenas aos meios intelectuais.  Entre janeiro e maio de 1944, soldados convocados, eram preparados e em julho partia o primeiro escalão, que chegou a Nápoles no mesmo mês. A guerra deixou de ser algo distante para o povo brasileiro. Lenta e insidiosamente chegou às costas do Brasil, destruindo vidas de pacíficos homens de trabalho que nada tinham com a guerra. O Brasil enfrenta a agressão! Dolorosas as despedidas! Famílias dizimadas pela dor, corações que sangravam, gemidos de dor que dilacerava o peito, choros, lágrimas, desespero... Lenços se acenavam em despedida... Familiares, namoradas, vizinhos, amigos, colados aos rádios, na ânsia daqueles terríveis comunicados... Foram com eles a paz de muitos corações, dos pais e irmãos que aqui ficaram em total desolação.
                  De Bom Jesus partiram - Altayr Fraga Campos, Álvaro Borges Barbosa, Boaventura Pedrosa, Cândido Diniz  (Rosal), Clito Soares Barroso, Isaac de Souza (Carabuçu), João Avelino dos Santos, João Soares Pimentel, José Basílio da Silva, Jorge Jabor, Luís Capácia (Rosal), Moacir R. do Carmo, Manoel Zanon, Nestor Queirós, Nilo Escudino, Paulo Moreira, Paulo “Capitulino” Terra, Ricardo Vieira Chaves e Romil Laurindo Neto, bravos soldados, lutadores pela liberdade mundial.
                  Nilo Escudino estava no Exército e não obteve baixa devido às críticas circunstâncias que envolviam o mundo. Todo o contingente ficara de prontidão nos quartéis aguardando os acontecimentos e quando o Brasil decidiu entrar na guerra, já havia  três anos que ele e muitos companheiros estavam lá e ainda ficaram mais 1 ano, 1 mês e vinte dias... Pediram para vir despedir das famílias. Foram concedidos três dias: um para vir, outro para ficar e o terceiro dia para voltar. Alguns não retornaram, foram muitos os desertores. Era frequente ouvir dizer na época: “Ou mato, ou morro”, não nos campos de batalha naturalmente, mas referindo-se a esconderijos em matas e morros... Muitos fugiam dos próprios quartéis, durante a noite. Apelidaram o lugar das fugas, por onde saíam, de “Capitão Pula”.
                   No dia do embarque, o segundo escalão saiu da Vila Militar, em Deodoro, em direção ao Cais do Porto, de trem, em  comboio fechado para que não fossem vistos pelos “Quinta Colunas”, que comunicavam aos inimigos tudo o que se passava. Para entrar no navio foram escoltados por soldados armados de metralhadoras, que formavam um corredor. Permaneceram ancorados por três dias, aguardando ordens. Para o cerimonial de despedidas, esteve presente o Presidente Getúlio Vargas, que assim iniciou o seu pronunciamento: -Brasileiros! Deus vos acompanhe...
                   O navio seguiu escoltado por dois “destróieres”, um de cada lado, um “porta-aviões”, um “submarino”, um “encouraçado” que abria o caminho e  mais navios de pequeno porte. Foram perseguidos por submarino  e ficaram de prontidão aguardando para se atirarem  com botes salva-vidas ao mar, caso o navio fosse torpedeado. Bombas de profundidade foram usadas em defesa deste ataque; tambores eram rolados em rampa nos convés, explodindo a quinhentos metros do navio que fazia  média de 60 milhas por hora. Tremia tudo! Parecia maremoto... Só se via céu e água. Quinze dias e quinze noites de angústia, medo, pavor e tormento. A comida era americana, enlatada, por sinal muito boa. Do Brasil, só banana e laranja.  Às dezoito horas, fechavam o convés e muitos dispensavam o jantar, procurando locais mais frescos, próximos às geladeiras, pois o calor era de matar, chegando a mais de cinquenta graus. Morreram oito na viagem e muitos desceram em padiolas, com pneumonia e outros problemas. Os que morriam, recebiam as honras militares: cantava-se o Hino Nacional, o Coronel homenageava com um discurso e o corpo envolto na Bandeira Nacional era lançado ao mar, por uma rampa, em caixão de tela. 
                    Éber Travassos, de Itaperuna, ficou muito mal durante a viagem, com um furúnculo no peito do pé. Ele era  muito gordo e o calor muito intenso. Com muita febre, insistentemente pedia ao Nilo Escudino que se ele morresse, contasse à sua família o que lhe acontecera. O Nilo, vendo-o realmente numa pior, resolve encorajá-lo: - Realmente acho que você deverá morrer, mas se isto não lhe acontecer e eu morrer, por favor, faça o mesmo. O bonjesuense Paulo Moreira era enfermeiro, foi atingido por um morteiro, na porta do Hospital, em Porretta Terme, juntamente com mais vinte e um companheiros, sendo dois brasileiros, dezoito americanos e dois italianos. O Nilo recebendo um telefonema de um amigo relatando a morte de seu conterrâneo, pediu que esperassem e  viajou aproximadamente cem quilômetros para ir ao enterro; fotografou e trouxe a fotografia para a sua veneranda mãe, D. Alice. Foi sepultado na 5ª Cruz do Cemitério de Pistóia.
                          Assistiam missas todos os domingos e tinham momentos de descontração.  Jorge Jabor e amigos tocavam violão formando até improvisados conjuntos musicais. Ele era motorista e levou o seu chefe ao Vaticano. Todos se  beneficiaram da bênção do Beatíssimo Padre, Papa Pio XII.
                     O retorno  ao Brasil verificou-se entre 6 de julho e 19 de setembro de 1945, em cinco escalões de embarque. Tornaram-se heróis e voltaram, graças a Deus, bem saudáveis, apesar de muitos mutilados e inúmeros neuróticos de guerra. Outros passaram  anos sepultados no cemitério de Pistóia e suas cinzas foram trazidas para o Brasil e colocadas na cripta do Monumento Nacional aos Mortos da Segunda Guerra Mundial, no aterro da Glória, Flamengo, na cidade do Rio de Janeiro, a 5 de outubro de 1960. Os expedicionários foram agraciados com Medalhas e Diplomas pela habilidade e disciplina no teatro de operações da Itália, e outras condecorações, além de incorporados a Regimentos, licenciados do Serviço Ativo, ingressando na Reserva do Exército Nacional.
                  Em Bom Jesus o LIONS CLUBE e a Prefeitura Municipal, Administração do Prefeito Adílio Teixeira Pimentel, fizeram erigir um Monumento, no Jardim, defronte ao Edifício da Prefeitura, em homenagem aos heróis bonjesuenses ex-combatentes integrantes  da FEB.
                  O Expedicionário Paulo Moreira, 3.º Sargento, enfermeiro, que emprestou seu sangue pela paz mundial, herói nacional, é nome de rua em sua terra natal, e sua família recebeu a Medalha de Campanha, Sangue do Brasil e Cruz de Combate da 2.ª Classe. DESFILARAM   SOB   APLAUSOS  APOTEÓTICOS  OS  SOLDADOS  DO  BRASIL  -  EXCEPCIONAIS  E INDESCRITÍVEIS  AS  VIBRAÇÕES  DO  POVO  DIANTE  DAS  TROPAS  NA  VOLTA  GLORIOSA.

segunda-feira, 6 de julho de 2015

MAURÍCIO CARDOSO FARIA (Publicado no Jornal "O NORTE FLUMINENSE" - 26/06/2015)

MAURÍCIO CARDOSO FARIA
                                                                                       Vera Maria Viana Borges
          
                          Segunda-feira, primeiro de junho, diante do Computador para iniciar estes escritos, resolvo dar uma passadinha pelo FACE e deparo-me com uma foto postada pela nobre e muito digna poetisa Regina Coeli, membro da Academia Itaperunense de Letras onde outro não menos nobre, o acadêmico, Carlos Braga, homenageava o nosso POETA MAIOR - MAURÍCIO CARDOSO FARIA, com data de 29 de maio do corrente ano e, com olhar assustado, perplexo, não querendo acreditar, em lágrimas, pude constatar - IN MEMORIAM. Arrepiei. Gelei. Não pude me conter e desandei a procurar notícias... Na página da ACIL, a notícia difusa, segura, pertinaz e dolorosa  do seu falecimento no dia 29. Alçou o seu “voo”, deixando-nos rico e grandioso legado no final de maio e foi juntar-se ao coro celeste para o encerramento do mês de Maria.
                           Membro efetivo e fundador da Academia Itaperunense de Letras, ocupante da Cadeira 39, que tem como Patrono Nacional o magnânimo escritor Érico Veríssimo e como Patrono Regional o ilustre Ruy Buarque de Nazareth. Bacharel em Direito e Licenciado em Letras Clássicas (português, latim e grego). Pós-graduado em Docência Superior tendo exercido o magistério por muitos anos em Niterói e nos últimos tempos em Itaperuna. Autor de quinze obras de cunho didático e literário, além de muitos e muitos textos publicados em revistas e jornais. Emérito Professor de Português, autor de uma excelente GRAMÁTICA preparatória para vestibulandos.
                          Mais um sonetista parte para a Casa do Pai, agora ele verseja aos pés de DEUS. Enquanto entre nós, ele dizia sobre o Soneto: “Verdadeira obra de artesanato poético, vestindo miragens, sonhos ou visualizações da vida, quando os vates, ao se permearem de inspiração, transpõem o real e o lúdico, para se projetarem no quase maravilhoso. Dizer que a sua forma limita o seu criador, pelos ritmos, pela métrica, pela rima, é desconhecer o domínio possível do poeta sobre o verso. Em verdade parece-nos que a liberdade formal a que tanto aspiram os poetas, é apenas mais uma propositura da arte poética para eles. Mais um caminho. Mais um. O soneto, de fato, não limita formalmente a criação, pois, quando ela é exuberante, avassaladora amolda-se à forma, emergindo da capacidade de o artista libertar-se... mesmo contido.”  Como Maurício Cardoso, sou também apaixonada pelo SONETO (Poesia Clássica devidamente metrificada e rimada, agrupada em dois quartetos e dois tercetos). Num apelo crescente, imploro aos professores de Português: Ensinem Versificação aos seus alunos, não deixem  o Soneto morrer.
                    O Soneto foi constante na trajetória poética do poeta. O ourives da palavra deixou-nos filigranas de rara beleza como no registro que faço a seguir, página 56 do livro “AREIA DE MARÉ BAIXA” (100 sonetos escolhidos): A RESPOSTA/ Quando cansado e rebaixada a fronte,/ já que em cansaço venho ao torvelinho,/ procuro uma oração, subindo ao monte,/ como ensinou o Mestre do Caminho./ Então me integro ao rubro do horizonte,/ quando o poente cresta-se em cadinho,/ a misturar nuances e, defronte,/ prepara para o dia um novo ninho./ E genuflexo eu tento orar a Deus,/ em súplica de rumo aos dias meus/ na prece que Lhe envio em solidão./ Mas me parece ouvir, do monte à encosta,/ a Voz das vozes dando-me a resposta:/ “perdoa e ajuda e estende a tua mão”. Após este esplendoroso texto ele deixou a seguinte epígrafe: “Crer é cambiar-se nas cores do arco-íris, como em palheta do Pintor Maior.” Um esteta autêntico que buscava Beleza e Perfeição em cada escrito. Com excepcional sensibilidade atribuída aos sábios e poetas era mestre da palavra e a manipulava com extrema elegância e intensa graciosidade, com profundeza nos conceitos e incomum domínio linguístico. Um MESTRE. Sua dedicação, sua cortesia, seu trato com o semelhante era algo edificante. Sua lembrança permanecerá, pois nem mesmo a morte pode calar o canto do poeta, ficará indelével em nossos corações. Sua obra não se dissolverá, pelo contrário deitará rebentos e desenvolver-se-á em novas gerações produzindo muitos frutos. Deleite-se, caro leitor, com seus maviosos versos:
SONETO EM PRECE
Senhor, a madrugada é o meu missal,
os pássaros as vozes de um coral
de cantochões nas folhas que farfalham
às vibrações etéreas que agasalham.

Aqui oro consciente, - anseio o sal
da terra ser, entoo os hinos - mal
eu me concentro meus sentidos falham,
quedo-me ao chão e as minhas mãos se talham.

Ó Mestre, eu não me queixo dos abrolhos,
de me lanhar o rosto, desta festa
de dor e angústia a salobrar meus olhos.

Eu só quisera orientar-me, ó Luz,
pela coroa que te fere a testa,
pelo perdão que deste numa cruz.


          Irrepreensível modelo, este amado Amigo-Poeta. MAURÍCIO CARDOSO FARIA! Nome que soa como uma suave canção,  e que  foi e sempre será um perfeito, belo e inigualável POEMA!  Descanse em paz, meu tão estimado poeta!!!

sexta-feira, 12 de junho de 2015

ÉS SOL, QUERIDO! ( Página do meu Livro "DE-VERAS... DI-VERSOS...")

             


              Estávamos com doze e quinze anos respectivamente. A 26 de agosto de 1956 nos encontramos e iniciamos o namoro. No ano seguinte, no dia 12 de junho de 1957, o nosso primeiro DIA DOS NAMORADOS, hoje comemorado pela quinquagésima oitava vez...

quarta-feira, 3 de junho de 2015

OS BORGES MOVIMENTARAM A BARRA (Publicado no Jornal "O NORTE FLUMINENSE" - 18 de maio de 2015)

OS BORGES MOVIMENTARAM A BARRA

                                                              Vera Maria Viana Borges
                 
                         De olhos fixos num passado longínquo deparamo-nos com o jovem casal Antônio José Borges e Bárbara Roza Teixeira, os primeiros fazendeiros da Barra, vindo ocupar este território. Viam crescer a numerosa prole em meio à fartura proveniente de seu trabalho na terra. Providenciaram alguém para que ensinasse leitura, contas, conhecimentos gerais. O primeiro professor foi João Samarão, vindo da região do Rio Doce. Fixou residência na Barra onde dava aulas particulares e ainda percorria a região dando aulas nas fazendas. O segundo professor Joaquim Teixeira de Siqueira Magalhães que fora educado, no Seminário de Mariana-MG, era professor de letras e de música. Fundou em sua fazenda uma banda de música com 20 participantes, denominada Banda Quinca Magalhães. Seu filho Tatão Magalhães é o autor do belíssimo dobrado - “TEIXEIRA BORGES”. Posteriormente a grande educadora D. Olga Ebedinger e não podemos olvidar a queridíssima mestra Zandir Oliveira Fitaroni, abnegada que lecionava à noite em sua casa à luz de lamparina. Como Deputado e Prefeito de Bom Jesus, o dileto filho José de Oliveira Borges muito contribuiu para a educação de seus conterrâneos lutando pela criação da Escola  Francisco Borges Sobrinho onde por anos a fio esteve à frente, a nobre, doce e talentosa Professora Noêmia Teixeira Borges.  Meu marido foi aluno de Dona Noêmia, vinha do Sítio BOM RETIRO galopando no cavalo Castanho e sempre era advertido pelo Senhor Elias Moraes Borges para que não corresse tanto. 
                Passou o tempo e Bárbara Teixeira dos Reis  herdou as terras. Muito religiosa, vinha em seu cavalo “Balão Branco” a Bom Jesus estar com o Padre Mello para encomendar missas para a comunidade. Eram realizadas em sua residência ao lado de onde hoje é a Igreja e ali  também faziam novenas e orações, fatos estes presenciados pelo grande líder barrense Jarbas Teixeira Borges. Ela doou o terreno para a construção da Igreja e por ser muito devota de Santa Luzia, a Santa protetora dos olhos tornou-se a padroeira do lugar. Loteou e vendeu os terrenos a particulares. A primeira casa construída foi de Antônio Teixeira Borges.
                  Após a ponte sobre o Pirapetinga, na Fazenda da Cachoeira do Itabapoana, residiam o Senhor Manoel Vieira Seródio e Dona Maria Frias Seródio. Com o falecimento do casal, parte da Fazenda foi herdada pelo Senhor Oliveiro Seródio casado com D. Nenzinha, Maria José Teixeira Borges, progenitores do médico e festejado Poeta Dr. Ayrthon Borges Seródio. Foram eles os doadores do terreno para o Cemitério do hoje 7º Distrito de Bom Jesus do Itabapoana. 
                  Elias Moraes Borges, o Liá e sua esposa Morena, nossos primos e diletos padrinhos de casamento, acolhiam os tropeiros e carreiros com muita simpatia. Arranchavam-se em sua propriedade, onde soltavam os animais e pernoitavam. Os Borges movimentavam o povoado. Hamilton Borges teve uma Loja de Tecidos. O Djalma Borges, farmacêutico que atendia a toda a região,  ainda à noite, muito cortês, permanecia na Farmácia onde as famílias se reuniam para um dedo de prosa. Lembro-me do Bar do Francisco Teixeira Magalhães, parada certa do ônibus da minha querida Rosal, onde se saboreava picolés, refrigerantes e pastéis de queijo ou de palmito com carne moída, quentinhos, fritos na hora por sua esposa D. Geralda. Também ali foi sempre  ponto de encontro dos Borges, após o futebol, após as ladainhas ou quaisquer outros eventos. E eles digeriam ali os acontecimentos mais recentes.O primeiro Rádio também foi de um Borges. Chegou o rádio com a pilha maior que o próprio aparelho receptor e todos se reuniam na casa do Senhor Antuninho Borges para ouvir músicas, novelas, as divertidas propagandas e as notícias, até a pilha esquentar, porque quando esquentava começava a chiar acabando a festa.
                    Messias Borges Ribeiro, nascido em 1889, desde criança fazia manteiga na garrafa e assim fez por anos a fio. Com seu falecimento no ano de 1945 seus filhos continuaram fazendo a Manteiga Ribeiro. Em 1947, o filho mais novo Antônio José Borges, assumiu o negócio, adquirindo uma desnatadeira.  Com a criação da Cavil (Cooperativa Agrária Vale do Itabapoana), um de seus irmãos, o Francisco Borges dos Reis foi convidado para trabalhar na referida Cooperativa, confeccionando a manteiga da mesma forma que fazia na “Manteiga Ribeiro”, resultando no deliciosíssimo produto que até hoje faz tanto sucesso, tendo conquistado o prêmio de “Melhor Qualidade de Manteiga da América Latina” no ano de 1990. E não para por aí o dinamismo do Antônio, caçula da Malica. A Fábrica de Doces produzia doce de leite, goiabada, marmelada e mariola entre os anos de 1952 e 1958. O marmelo era fornecido por uma empresa de doces de Leopoldina que entregava a polpa em todo o norte fluminense. No período de 1952 a 1962 era ele, Antônio, quem fornecia a iluminação para a vila e moradores, através da Usina Santo Antônio. A energia era gerada pelo Córrego Pirapetinga. Em 1964, a Granja “A Carijó”, a todo vapor tinha entre pintos, frangos e galinhas, 1200 aves, produzindo em média 500 ovos por dia. A Barra ainda contava com uma Olaria com grande produção de tijolos e telhas. 
              O Folclore riquíssimo era destacado pelas Folias de Reis, pelo Caxambu, pelo Boi-Pintadinho e pelas Festas Juninas dos deliciosos pés de moleque, das broas, dos balões, busca-pés, das quadrilhas, do casamento do Jeca, com um bom sanfoneiro ao redor de grandes fogueiras. 
                 Os meios de transporte a princípio eram as tropas, cavalos, carroças, carros-de-bois e posteriormente a Viação G. Figueiredo & Cia, seguida da AutoViação Rosal, hoje a Empresa Viação Santo Antônio. 
                Para o belo artesanato, as linhas eram fiadas pelas próprias artesãs que enrolavam o algodão para fazer os fios, ou elas usavam o barbante que fechava os sacos de açúcar. E surgiam das mãos habilidosas as mais lindas pérolas, obras de arte em crochê, frivolité, tricô; além do bordado em richelieu, do fuxico, e das belíssimas colchas de retalhos.
           No futebol, a União Barrense, vasto acervo de craques que alegravam as tardes domingueiras. Fundada em 18 de agosto de 1916 por Joaquim Teixeira Borges e Manoel Bonifácio Alves, o Nenzinho Carreiro. Faz parte da Liga de Desportos de Bom Jesus. Tem sede própria e o terreno para sua construção foi doado pelo Dr. Francisco Ferreira de Moraes. Atualmente conta com o entusiasmo e eficiência do administrador Manoel Florêncio da Rosa, outro Nenzinho e do Embaixador dos Borges na Barra, o ex-vereador Jarbas Teixeira Borges.
                   Maria Cristina Borges, filha do saudoso “Antônio da Malica”, tem se movimentado organizando confraternizações entre os membros da Família e já é sucesso o “CAFÉ COM PARENTE” que vem robustecendo a união entre parentes e afins.
              Os Borges continuam movimentando a BARRA, assim como o nosso amado Município, logradouros diversos do  Brasil e até Portugal onde têm buscado novos parentes, desenrolando e resgatando a História da tradicional Família.

sexta-feira, 1 de maio de 2015

OS BORGES E EU (Publicado no JORNAL "O NORTE FLUMINENSE" - 23 de abril de 2015)

OS BORGES E EU
                                                                                      Vera Maria Viana Borges
                 A História depositada no repositório fiel da memória, aflora em lembranças e podemos revivê-la em flashes de doces recordações. Celebrar o amor, a fraternidade, é sinal da Presença de Deus, sinal de carinho, fidelidade, renúncias e muitas alegrias por anos afora partilhando a graça e a beleza de se ter uma família, de sermos caminhantes de mãos dadas em busca de um mesmo destino. A minha ligação com os Borges aconteceu na infância quando Anacleto José Borges consorciando-se com D. Elzira em suas segundas núpcias, foi se estabelecer em Rosal, minha adorada terra. Muito simpático, tinha uma venda e se tornou amigo de todos da vila. Não me lembro dele lá, eu devia ser bem novinha mas diziam que ele sempre brincava: “eu tenho um neto que vou casar com esta menininha.” Depois, ele veio morar em Bom Jesus onde faleceu em 1953. Soube muito dele por minha mãe, que sempre fazia menção às suas histórias.
       Com dez anos, mudamo-nos para Bom Jesus. Visitamos o Calvário e posteriormente fomos ao Cemitério. Vendo a foto do Senhor Anacleto em um dos túmulos, mamãe parou para fazer orações por sua alma, e eu, curiosa subi na calçadinha à volta da sepultura de granito preto para ler o que se registrava na lápide, ao descer bati o joelho direito na quina da dita calçada o que ocasionou profundo corte. Ainda guardo a cicatriz, fui marcada ali pelos Borges. Não conhecíamos seus familiares. Quis o BOM DEUS nos aproximar e aos doze anos conheci José Roberto, neto do Senhor Anacleto. No soneto que segue, página 07 do meu livro “TRILHAS POÉTICAS”, narro a história do belo amor que nos uniu: Nós, aos doze e quinze anos, desde a infância,/Unimo-nos em bom, forte ideal,/Enamorados, firmes, com constância,/Julgamos nosso amor ser imortal./Do caminhar ficou suave fragrância/De rosas do mais belo roseiral,/Amamo-nos em toda circunstância,/Na calmaria e até no vendaval./O antigo afeto, bem aconchegante,/À proporção que o tempo foi passando,/Mais e mais nos unia a cada instante./Não haverá mortal que apaixonando/Possa amar a tal ponto que suplante,/O nosso amor que vai se renovando.
            Bolivar Teixeita Borges, meu sogro, austero homem de princípios, bom esposo, pai sensível, avô dedicado, amante de uma boa prosa, gostava de contar os casos de antanho, as histórias vividas na primeira quadra de sua vida. Relatava e eu ávida, ouvia atentamente, inclusive registrando em dezenas de páginas e até mesmo em gravações, que resultaram em parte do meu livro  intitulado “Das Brumas do Passado”. 
             Mergulhando nos vórtices do tempo deparamo-nos com os Borges oriundos de Portugal, aportando nas Terras de Santa Cruz, este Brasil alvissareiro e belo que tanto nos seduz. Fixaram-se em São Paulo, Minas Gerais e Goiás.  Francisco José Borges, o grande patriarca ficou em Uberaba-MG. Resolveu adquirir terras em Goiás e para lá se dirigiu com  agregados e pertences. A tropa viajava longas distâncias, cerca de 18 a 20 Km por dia. Após meses vislumbrou o encantado sonho, a chegada juntamente com a mulher e o único filho, Antônio José Borges. Cismado, começa a observar a região onde encontrou uma população “papuda”. Perguntou a um escravo o porquê de tantos “papos” e ele prontamente lhe respondeu: Nhonhô, aqui quem não tem papo é aleijado. Ele parecendo ver “papo” até nos paus, juntou a família com tropa e tudo e retornou  a Minas Gerais, desta feita, para a localidade de Dona Euzébia. Ficando viúvo, Francisco José Borges (com apenas um filho, Antônio José Borges,  chamado pelos íntimos de Borginho) contrai segundas núpcias com Anna Roza Teixeira (filha de Francisco Teixeira de Siqueira e D. Felicíssima) advinda de dois casamentos, tendo duas filhas do primeiro matrimônio e uma filha do segundo, Bárbara Roza Teixeira.
         Após o falecimento de Francisco Teixeira de Siqueira, pai de Anna Roza, ocorrido em 03 de dezembro de 1855, dez de seus quatorze filhos vieram aqui para  estas distantes plagas, atraídos pela fama das terras. Nessa época trouxeram as relíquias da Coroa do Divino Espírito Santo. Dentre eles estava o Patriarca Francisco José Borges e sua esposa Anna Roza Teixeira.Vendendo a Fazenda em Minas aqui chegaram em 1856, adquirindo terras do Alferes Francisco da Silva Pinto. Francisco José Borges instalou-se na Braúna, tomando posse de cerca de 2000 alqueires, compreendidos da Vertente do Arraial Novo, Serônia, Sacramento, Fazenda do Leite, atualmente Pavão, Braúna, até mais ou menos 100 metros após a Ponte da Lagartixa.
            Borginho, filho de Francisco estava com 15 anos e Bárbara filha de Anna Roza contava apenas 12 anos. Seus pais autorizaram o enlace das crianças Borginho e Bárbara, oferecendo-lhes o dote de 1000 alqueires, e o tão jovem casal veio para  a Barra do Pirapetinga. Os primeiros fazendeiros da Barra, Borginho e Barbinha, como eram carinhosamente chamados foram abençoados com os seguintes filhos: Messias Borges Ribeiro, Minervina Petronilha Borges, mais conhecida como Vivina,  Antônio Borges Ribeiro, Maria Borges Ribeiro, mais conhecida como Neném, Jovita Umbelina Teixeira, Francisco Borges Sobrinho, Tertuliano Borges Ribeiro e Lília Borges Ribeiro. Somente a Lília não deixou descendentes.
        A esta época Francisco José Borges tinha o filho Borginho do primeiro matrimônio e já mais dezoito filhos do segundo, sendo que dos dezoito, quatro, um homem e três mulheres casaram-se em Dona Euzébia. Com a morte da esposa Anna Roza, mais uma vez viúvo, inconformado e só, resolveu ir visitar os familiares em Minas Gerais. Indo a cavalo, cansado e sorumbático, ao passar por Patrocínio do Muriaé, viu uma donzela lavando roupas num córrego, aproximou-se e pediu-lhe água. Ela o convidou para entrar e serviu-lhe também um cafezinho. Conversaram e ato contínuo ele a pediu em casamento. Deixou o casório tratado para daí a trinta dias. Francisco José Borges e Maria Carolina Borges já vieram casados e desta união nasceram: Anacleto José Borges, Ernesto José Borges e Messias José Borges. Ao todo teve vinte e dois filhos. Parece que ele queria mesmo povoar a localidade. Seus filhos iam se casando e se multiplicando, os Borges foram formando novas famílias, agregando Reis, Teixeira, Magalhães, Alves, Viana, Moraes e uniram-se a muitas e muitas outras famílias continuando o ciclo da vida.
          Anacleto José Borges casou-se com Maria Leopoldina Teixeira aos 19 de fevereiro de 1886. Um de seus filhos, Bolivar Teixeira Borges no dia 22 de julho de 1933, desposou Leonor Alves Borges (cerimônia realizada pelo Padre José Jardim de São Pedro do Itabapoana, pois Padre Mello estava adoentado). Tiveram três filhos: Maria Apparecida, Eliézer e José Roberto. José Roberto e eu nos casamos em1970. Deus nos abençoou com Sávio, nosso dileto filho e com a querida netinha Helena.
             Os Borges foram construindo a história da Barra, uma Barra de gente simples, mas de famílias extremamente unidas, nas quais sempre reinou ambiente de princípios morais e religiosos muito sólidos, demonstrando nas atitudes boa formação e riqueza interior.