terça-feira, 11 de outubro de 2016

MÉDICO E POETA (Publicado no Jornal "O NORTE FLUMINENSE" - 30/09/2016)

MÉDICO E POETA                

                                                                                         Vera Maria Viana Borges
          Ayrthon Borges Seródio já está em contato direto com a Literatura Maior dos Anjos e Santos. Encontra-se na presença inefável do Eterno Senhor e Criador, mas nem mesmo a morte poderá calar a voz do poeta pois sua obra não se extinguirá, pelo contrário, germinará em novas gerações e produzirá bons e muitos frutos.
      Ainda menina quando iniciava os estudos de música, presenciei ensaios e preparativos da LIRA 14 de JULHO em Rosal, para a recepção do então formado médico Dr. Ayrthon Borges Seródio em sua terra, Barra do Pirapetinga.  Estudei, cresci, casei e me mudei para Santo Antônio de Pádua. Quatro anos após ao retornar precisei de cuidados médicos e Dr. Ayrthon foi o anjo que Deus colocou em minha vida. Ele me ajudou a superar repetitivas faringites e outras “ites”que me acarretaram uma febre reumática. Muito inteligente e um ser humano inigualável, cuidou de mim e do meu filho por muitos anos. Em 1977 conheci o seu outro mister através do seu livro “A SEARA DE VENTO” e em 1994 brindou-nos com “O SACRIFÍCIO INÚTIL”. Não sei dizer se ele foi melhor MÉDICO ou POETA  porque em ambos os ofícios ele se superou e tornou-se insuperável. Não consigo distinguir em que área atuou melhor.
             Em 1997 trouxe a lume “A FIGUEIRA ASSOMBRADA”. Não pude me calar e publiquei em “ASTROS & ESTROS” o que segue na íntegra: “Com versos que encantam, sublimam e emocionam a alma do leitor, pela metrificação perfeita, pela naturalidade das rimas, pelo talento, entusiasmo e a excelência dos temas, o consagrado vate bonjesuense Ayrthon Seródio nos premia com mais uma joia rara, a sua esplêndida obra “A Figueira Assombrada” que se compõe de dez sonetos alexandrinos, escritos recentemente, e de dez depoimentos de intelectuais especializados em poesia sobre o seu penúltimo livro publicado - “O Sacrifício Inútil”.
       Ayrthon Borges Seródio, nascido aos 21 de maio de 1929, em Barra do Pirapetinga, no município de Bom Jesus do Itabapoana, do matrimônio do venerando e saudoso casal Oliveiro Vieira Seródio e Maria José Borges Seródio, carinhosamente chamada “Nenzinha”, dotado de brilhante inteligência e privilegiada memória, médico dedicado com inúmeros cursos de especialização nas cidades de Niterói, Rio de Janeiro e São Paulo, exerceu as funções de Professor Assistente de Clínica Pediátrica Médica e Higiene Infantil, de Professor Assistente de Puericultura e Clínica da Primeira Infância, ambas na Faculdade Fluminense de Medicina em Niterói. Exerceu a Medicina em Nova Esperança/PR e de volta à terra natal, o pediatra, cardiologista e notável clínico geral fêz-se médico da Secretaria de Saúde do Estado do Rio de Janeiro (Posto de Saúde), do Instituto Nacional da Previdência Social além de atender em consultório particular.
           Foi proprietário da Clínica de Repouso Itabapoana, fundador da Academia Bonjesuense de Letras, tendo atuado como presidente da mesma por quase vinte anos, presidiu o Conselho Municipal de Cultura e não escondia o fascínio pelo “manga-larga”, raça de cavalos bem selecionada e cuidada em seu belíssimo “Haras”.
              De imarcescíveis sonetos publicou “A Seara de Vento”, suave vento que fez o poeta se exprimir desnudando o próprio ser e em diáfana transparência deixou que se visse uma seara de Amor; seara do Belo, do Bem e do Bom. “O Sacrifício Inútil”, sonetos perfeitos repletos de filosofia e lirismo. Em “A Figueira Assombrada o poeta se supera. Sobrepujar-se a cada obra é privilégio de talentosos artistas. Eis o soneto que dá origem ao título:” A FIGUEIRA ASSOMBRADA// Era uma árvore antiga, enorme e bem copada,/ Que ficava no alto, além da ribanceira,/ Que abrigava o viajor no meio da jornada,/ O pássaro no ninho e a coruja agoureira.// Dizia um capiau que a vetusta figueira,/ Após a meia-noite, era mal-assombrada:/ A mula sem cabeça, uma grande caveira/ E gemidos de horror de uma alma penada...// Incrédulo demais e também corajoso,/ Passava no local à noite desejoso/ De alguma coisa achar... Talvez - quem sabe? - a mula...// Uma noite porém, já era madrugada,/ Vi duas bolas de fogo à beirada da estrada:/ Era um burro pedrês saciando a sua gula...”
             Em 1998  “À SOMBRA DOS IPÊS”: Em cada verso, a presença do poeta em toda a sua plenitude, revelando-se e superando-se a cada edição o mestre artífice do Soneto, uma forma difícil e nobre popularizada por Petrarca e praticada por Shakespeare e outros célebres . O velho, respeitável e belo soneto continua vivo e AYRTHON o manejou com maestria. O autor dedicou-o a três grandes intelectuais e amigos que com ele fundaram a "Academia Bonjesuense de Letras" em 1976: Athos Fernandes, de saudosa memória, um dos maiores poetas contemporâneos; Antônio Miguel, professor, jornalista, escritor e poeta dos mais festejados e Walter Siqueira, professor, poeta de invejável fertilidade, um plantador de ipês merecedor do primeiro texto do florilégio, o soneto que intitula a magnífica obra. 
            Até 2005 um ou dois livros por ano. Uma extensa e valiosa obra. Em seu livro “A FOLIA DE REIS” dedicou-me o soneto “Recordando na Escuridão”: “Hoje não houve luz nem força na cidade,/ Que às escuras ficou, na falta de energia;/ E o povo conformado, após a tempestade,/ De casa não saiu, deixando a rua vazia.// Então eu me lembrei da roça, com saudade,/ Da minha jovem mãe que de noite cosia,/ Da luz da lamparina, à tênue claridade,/ Na cena familiar que tanto enternecia.// Menino, ouvindo história à beira do fogão,/ Tomava o meu café, sem medo à escuridão,/ Só vivendo o presente e esquecendo o futuro.// Mas hoje é diferente, e numa luta inglória,/ Não há mais o fogão e ninguém conta história,/ Só resta a frustração de um viver inseguro.” Em agradecimento, compus-lhe o soneto alexandrino, “ANJO DE TERNURA  (Ao Poeta Ayrthon Seródio, em memória de sua progenitora - Dona Nenzinha): Existe uma Mulher, um Anjo de Ternura,/ Que Deus do Céu cobriu com especial fragrância.../ Encheu-a de carinho e infinita doçura/ E pôs no seu olhar perpétua rutilância.// Abençoou seu Ventre, a proteção segura,/ O primeiro endereço, aconchegante estância.../ O terno coração, só o Bem e o Bom augura,/ É paz, sabedoria, amor e tolerância.// Voz firme e aveludada a da MAMÃE querida/ Que entoa em cada berço uma canção de amor/ E conta bela história após a dura lida./ Não há maior laurel a qualquer criatura,/ Nem prêmio mais bonito e de imenso valor/ Que comparar alguém, a este ANJO DE TERNURA!”
         Ainda consternada pelo seu falecimento peço ao POETA MAIOR, o Deus Pai Todo Poderoso, para o acolher em SEU REINO DE GLÓRIAS.
           “Requiescat in pace”!!!

NA CONQUISTA DO OURO (Publicado no Jornal "O NORTE FLUMINENSE" - 31/08/2016)

NA CONQUISTA DO OURO

                                            Vera Maria Viana Borges 

             O mundo se rendeu aos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. Antes foram muitas previsões pessimistas, mas ao desenrolar dos acontecimentos foi um triunfo, causando satisfação plena. Foi sucesso absoluto e foi extraordinário o desempenho dos atletas brasileiros.
                 As cerimônias de abertura e de encerramento foram apoteóticas. O evento foi muito bem sucedido e apesar dos gastos com a estrutura esportiva a cidade ficou com legado importante. O Rio de Janeiro que sempre foi lindo por natureza, continua ainda mais lindo com a revitalização do porto. Beneficiou-se com nova linha de metrô e vários projetos municipais. O saldo foi positivo.
             Foram dezessete dias de encantamento e de fortes emoções. O brasileiro parecia estar num oásis, ou quem sabe no paraíso esquecido das mazelas que afligem o país. Em cada residência, bar e clube sempre havia uma turma entusiasmada diante da televisão torcendo e vibrando com os resultados. Foram momentos incríveis. 
               Os esportes praianos foram acontecimentos marcantes nas lindas paisagens da Cidade Maravilhosa. Há muito, a combinação de areia, sol e mar deixou de ser apenas curtição para tornar-se espaço privilegiado para a formação de espetaculares atletas em muitas modalidades.
            O brasileiro que andava meio desiludido, voltou a vibrar e se orgulhar da seleção brasileira de futebol. Com a vitória sobre a Alemanha conquistou o tão sonhado OURO. Os torcedores muito animados  aplaudiram entusiasticamente enquanto cantavam: “Eu sou brasileiro, com muito orgulho e muito amor...” ,  “O campeão voltou...”
                Hoje muito se fala na importância do esporte para a nossa saúde e bem-estar. Em busca de uma vida saudável  cresce o número de adeptos de vários tipos de atividade física, para a melhora do tônus muscular, para uma maior disposição, melhor flexibilidade e fortalecimento dos ossos e articulações. Além da redução do peso, gordura corporal, diminuição do colesterol ruim e aumento do bom e os benefícios do bem-estar que são expressivamente relevantes. Ao praticar uma atividade física, o fluxo sanguíneo cerebral melhora favorecendo a diminuição do estresse, da ansiedade, da depressão, aumentando significadamente a autoestima.
                  O esporte é uma escola onde se aprende a dominar a vontade e a controlar os impulsos obedecendo a determinadas técnicas. 
                 O espírito exausto pela lida diária precisa distrações que serão lenitivos para o corpo cansado. Proporcionar distração sadia ao espírito quer pela leitura, música, arte ou jogos familiares é um relevante socorro, cujo fruto se fará sentir no indivíduo, na família e na sociedade. O homem é essencialmente gregário. No entender de Martins Fontes em “TERRAS DA FANTASIA”, “O homem... obedece ao espírito gregário, é um ser que vive em bando, como os pássaros.” Aí está o papel prepoderante do esporte: agregar e mostrar a necessidade da autodisciplina para se atingir metas e objetivos.
                  Um espírito sadio num corpo sadio é a intenção de todos, eis o motivo porque o esporte  hoje deveria ser considerado nas atividades educativas como parte imprescindível de seu programa para que se fizesse jus ao aforismo latino: “mens sana in corpore sano.” O Brasil precisa investir de forma correta em projetos sérios, com a finalidade de formar mais atletas e desenvolver o potencial dos mesmos. Talentos nós temos de sobra e a prova disso são os resultados dos Jogos, que mesmo sem as melhores condições de preparação nossos desportistas conseguiram obter excelentes resultados. As vitórias de Diego Hypólito, Isaquias Queirós e Rafaela Silva demonstraram que a perseverança e o desempenho não dependem de dinheiro ou privilégio, mas de garra, determinação e estado de espírito. Conquistamos dezenove medalhas, e em sete delas brilhou o OURO. 
                Acompanhei atentamente as ginastas que lançavam as fitas em várias direções para criar desenhos no espaço, formando imagens de todo o tipo: serpentinas e espirais. Estes lançamentos exigem da ginasta coordenação, leveza, agilidade e plasticidade e o mais importante a flexibilidade. Inebriante e belo. Admirando tanta beleza, livramo-nos das pressões do dia a dia por instantes. Libertamo-nos por instantes. Acabando voltamos  à realidade. E é um encontrão com a realidade, mas voltamos fortalecidos para a luta diária. Precisamos destes oásis de prazer. Isto faz muito bem.
               Aguardamos pelos Jogos Paralímpicos que são o maior evento esportivo mundial envolvendo pessoas com deficiência. Incluem atletas com deficiências físicas (de mobilidade, amputações, cegueira ou paralisia cerebral), além de pessoas com deficiência intelectual. Eu prefiro a forma “paraolímpicos” mas a  intenção foi igualar o nome ao uso de todos os outros países de língua portuguesa: Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Timor Leste, onde já se usava o termo Paralimpíadas. A palavra vem do inglês "paralympic” que mistura o início do termo "paraplegic" e com o final de "olympics" para designar o atleta paralímpico.
                A judoca Rafaela Silva em 8 de agosto de 2016, conquistou a medalha de ouro da categoria até 57Kg nas Olimpíadas Rio 2016 e o canoísta Isaquias Queirós conquistou  três medalhas nos Jogos Olímpicos de 2016 no Rio de Janeiro: Prata na Canoa Individual - 1.000m, Bronze na Canoa Individual - 200m e Prata na Canoa de Dupla - 1.000m, com Erlon de Sousa Silva. Queiroz se tornou portanto o primeiro atleta brasileiro a conquistar três medalhas em uma única edição dos Jogos Olímpicos. Ambos vieram de favela ou periferia e lutaram com imensas dificuldades e deram exemplo de superação. Nos Jogos Paralímpicos há a inclusão dos atletas que além de superarem as dificuldades também superam suas deficiências físicas. Todos os holofotes se voltaram para os Jogos  Olímpicos. Esperamos  que eles se voltem da mesma forma para a edição que está porvir dos Jogos Paralímpicos que nos anos anteriores tiveram a cobertura reduzida significativamente pois a mídia não  lhes deu o destaque merecido.
                   E nós, pessoas comuns vamos nos exercitar, praticar esportes para uma vida mais saudável e feliz. Assim seremos mais que vencedores e conquistaremos o OURO.