segunda-feira, 12 de maio de 2014

CUIDADO COM O EGO (Publicado no Jornal "O NORTE FLUMINENSE" - 10 de maio de 2014)

CUIDADO COM O EGO
                                                                                                  Vera Maria Viana Borges
     O Padre Antônio Vieira (1608-1697) em um de seus famosos sermões advertia que “duas coisas há nos homens que os costumam fazer arrogantes, porque ambos incham: o saber e o poder.” Vaidade das Vaidades! A vaidade e o narcisismo são as piores das imperfeições, porque nos enganam. Por mais inteligente que sejamos, haverá sempre alguém mais inteligente. Por mais belo, mais forte, mais charmoso, mais sábio, haverá sempre alguém a superar-nos. Há quem perca o sentido das proporções julgando-se insuperável e desta forma,  inflado, sucumbe e cai no ridículo, enganado por si mesmo. O grande pensador Sócrates, pronuncia:” Só sei que nada sei, e o fato de saber isso, me coloca em vantagem sobre aqueles que acham que sabem alguma coisa.” Quanto ao saber, sei que somente DEUS é capaz de saber e conhecer todas as coisas, aqui, somos apenas aprendizes, uns com conhecimentos num determinado assunto, outros  conhecedores de outras áreas, todos nós usufruindo dos dons que ELE próprio nos concedeu. Segundo Paulo Freire, “Ninguém ignora tudo. Ninguém sabe tudo. Todos nós sabemos alguma coisa. Todos nós ignoramos alguma coisa. Por isso aprendemos sempre.” Quanto ao poder, há os que  ocupam cargos e se enchem de vão orgulho e de uma empáfia desmedida. Acostumam-se com o  poder posicional, e quando caem de seus postos, coitados! Ficam perdidos e muitas vezes entram em depressão porque não cultivaram o seu poder pessoal, colocaram todos os ovos numa só cesta. Disse Santo Agostinho: “O orgulho não é grandeza e sim inchação. O que está inchado parece grande, mas não tem saúde.” Precisamos cultivar aptidões várias, para que, havendo impossibilidade de se continuar pelo mesmo caminho, fazendo as mesmas coisas,  possamos adentrar por atalhos e seguir a  jornada em outros segmentos com determinação. “O que somos contribui muito mais para a felicidade do que o que temos.”(Arthur Schopenhauer)  Confirmando o pensamento anterior, transcrevo o poema “PRATA E OURO”, uma das páginas do meu livro “DE-VERAS... DI-VERSOS...”: “Não quero me desvairar/ Pela prata e ouro,/ Que aprisionam,/ Em pélago fementido.../ Por riquezas, vil metal/ Ou algum tesouro,/ Muitas vezes se ignora,/ Até o próprio Cristo./ Bens materiais e dinheiro jamais/ Deverão ser primazia do bem viver./ P’ra o caráter,/ O que somos vale mais,/ O ser/ É bem mais importante que o ter./ Ser tão puro e simples como lis nos campos,/ Ser digno, fiel,/  Ter bom senso e acreditar/ Que o que de fato tem valia/ É o que somos./ A um bom juízo pretendo ter direito,/ Verdade e justiça/ Quero proclamar/ Não em altas vozes,/ Mas sim em grandes feitos.”
     Os aborrecimentos de cada dia muito nos incomodam. A adversidade nos amedronta, mas é dela que na maioria das vezes, extraímos méritos inesgotáveis. “Fina é a ostra que quando é incomodada pelo grão de areia reage produzindo pérolas.” É nas derrotas que aprendemos a arte de vencer. A prosperidade é atrativa mas pode nos cegar e nos iludir fazendo com que esqueçamos o nosso grande BENFEITOR, AQUELE que nos proporciona todos os bens e todos os dons. São Francisco de Sales nos alerta: “A prosperidade é madrasta da virtude, cuja mãe é a adversidade.” Tomemos cuidado com esta madrasta, não nos deixemos enganar, porque somos viajores com destino ao Porto da Eternidade, à Morada do Céu.
     Política, futebol, investimentos, economia, e cultura são assuntos sobre os quais muito se fala, mas nem tanto se entende.  Vale pela emoção, pela catarse, pelo passar do tempo. É jogar conversa fora. Contudo na hora dos pontos nos “is” será bom seguir a receita dos mais antigos: caldo de galinha e prudência não fazem mal a ninguém. Há os que não usam a receitinha, adoram aparecer e gostam de se beneficiar às custas dos outros puxando-lhes o tapete  e já se sabe que  “Pé que dá fruta é o que mais leva pedrada.” À árvore estéril ninguém dá importância.  “O ciúme tem suas raízes num egoísmo constitucionalmente mórbido.”(Renato Kehl)  E, no entender de José Ingenieros “Todo artista medíocre é candidato a crítico. A incapacidade de criar impele-o a destruir.”  Há ainda os necessitados do estrelismo. Existem os notáveis, os dignos de nota, os que ocupam elevada posição social e os notórios que buscam os holofotes, recorrem a truques e artifícios, pondo-se em evidência  para serem notícias.
     Em contrapartida encontramos no livro “IMITAÇÃO DE CRISTO” a seguinte citação: “O homem tem duas asas, por meio das quais se eleva acima das cousas da terra: são a pureza e a simplicidade.” A simplicidade é a ausência de artifícios e excessos. É o caminho para se chegar à humildade e ser mais servil, menos arrogante e prepotente, combatendo e se livrando da inveja, do orgulho e do ciúme. Ser humilde é ter conhecimento daquilo que somos e que podemos, sem devaneio, sem caprichos e sem fantasias com dotes, dons, virtudes e qualidades que não temos. Ser humilde não é dizer “ sim” a tudo e a todos. É a avaliação do que se é e do que se vale. É conhecer a si mesmo, sem a necessidade de se impor aos outros. Não há necessidade de se buscar lugares de destaque, o melhor é ser como o puro, belo e singelo lírio que viceja em fétido pântano, como a perfumada rosa que nada diz de seu delicado perfume, como os rios que mesmo poluídos são capazes de mover moinhos e gerar energia e ainda como o SOL que se levanta solenemente a cada amanhecer e  sem se recordar das trevas da noite,  não se importa de se lançar sobre pobres e ricos, sobre os bons e os maus.
     Todos, sem exceção, temos saberes, quereres e deveres e somos inúmeros como as estrelas do firmamento, cada qual com o seu brilho. Sejamos como a Via Láctea, magnífica pela união de tantos astros, linda pela beleza do conjunto e como se fôssemos apenas músicos da Grande Orquestra regida pelo Criador. Sejamos faróis a iluminar com nossas palavras de encorajamento e com o nosso sorriso de entusiasmo. Possamos ser sempre exemplo de fé, de coragem, de alegria e otimismo e tenhamos muito CUIDADO COM O EGO, porque o PAVÃO de hoje pode ser o ESPANADOR de amanhã.