segunda-feira, 6 de julho de 2015

MAURÍCIO CARDOSO FARIA (Publicado no Jornal "O NORTE FLUMINENSE" - 26/06/2015)

MAURÍCIO CARDOSO FARIA
                                                                                       Vera Maria Viana Borges
          
                          Segunda-feira, primeiro de junho, diante do Computador para iniciar estes escritos, resolvo dar uma passadinha pelo FACE e deparo-me com uma foto postada pela nobre e muito digna poetisa Regina Coeli, membro da Academia Itaperunense de Letras onde outro não menos nobre, o acadêmico, Carlos Braga, homenageava o nosso POETA MAIOR - MAURÍCIO CARDOSO FARIA, com data de 29 de maio do corrente ano e, com olhar assustado, perplexo, não querendo acreditar, em lágrimas, pude constatar - IN MEMORIAM. Arrepiei. Gelei. Não pude me conter e desandei a procurar notícias... Na página da ACIL, a notícia difusa, segura, pertinaz e dolorosa  do seu falecimento no dia 29. Alçou o seu “voo”, deixando-nos rico e grandioso legado no final de maio e foi juntar-se ao coro celeste para o encerramento do mês de Maria.
                           Membro efetivo e fundador da Academia Itaperunense de Letras, ocupante da Cadeira 39, que tem como Patrono Nacional o magnânimo escritor Érico Veríssimo e como Patrono Regional o ilustre Ruy Buarque de Nazareth. Bacharel em Direito e Licenciado em Letras Clássicas (português, latim e grego). Pós-graduado em Docência Superior tendo exercido o magistério por muitos anos em Niterói e nos últimos tempos em Itaperuna. Autor de quinze obras de cunho didático e literário, além de muitos e muitos textos publicados em revistas e jornais. Emérito Professor de Português, autor de uma excelente GRAMÁTICA preparatória para vestibulandos.
                          Mais um sonetista parte para a Casa do Pai, agora ele verseja aos pés de DEUS. Enquanto entre nós, ele dizia sobre o Soneto: “Verdadeira obra de artesanato poético, vestindo miragens, sonhos ou visualizações da vida, quando os vates, ao se permearem de inspiração, transpõem o real e o lúdico, para se projetarem no quase maravilhoso. Dizer que a sua forma limita o seu criador, pelos ritmos, pela métrica, pela rima, é desconhecer o domínio possível do poeta sobre o verso. Em verdade parece-nos que a liberdade formal a que tanto aspiram os poetas, é apenas mais uma propositura da arte poética para eles. Mais um caminho. Mais um. O soneto, de fato, não limita formalmente a criação, pois, quando ela é exuberante, avassaladora amolda-se à forma, emergindo da capacidade de o artista libertar-se... mesmo contido.”  Como Maurício Cardoso, sou também apaixonada pelo SONETO (Poesia Clássica devidamente metrificada e rimada, agrupada em dois quartetos e dois tercetos). Num apelo crescente, imploro aos professores de Português: Ensinem Versificação aos seus alunos, não deixem  o Soneto morrer.
                    O Soneto foi constante na trajetória poética do poeta. O ourives da palavra deixou-nos filigranas de rara beleza como no registro que faço a seguir, página 56 do livro “AREIA DE MARÉ BAIXA” (100 sonetos escolhidos): A RESPOSTA/ Quando cansado e rebaixada a fronte,/ já que em cansaço venho ao torvelinho,/ procuro uma oração, subindo ao monte,/ como ensinou o Mestre do Caminho./ Então me integro ao rubro do horizonte,/ quando o poente cresta-se em cadinho,/ a misturar nuances e, defronte,/ prepara para o dia um novo ninho./ E genuflexo eu tento orar a Deus,/ em súplica de rumo aos dias meus/ na prece que Lhe envio em solidão./ Mas me parece ouvir, do monte à encosta,/ a Voz das vozes dando-me a resposta:/ “perdoa e ajuda e estende a tua mão”. Após este esplendoroso texto ele deixou a seguinte epígrafe: “Crer é cambiar-se nas cores do arco-íris, como em palheta do Pintor Maior.” Um esteta autêntico que buscava Beleza e Perfeição em cada escrito. Com excepcional sensibilidade atribuída aos sábios e poetas era mestre da palavra e a manipulava com extrema elegância e intensa graciosidade, com profundeza nos conceitos e incomum domínio linguístico. Um MESTRE. Sua dedicação, sua cortesia, seu trato com o semelhante era algo edificante. Sua lembrança permanecerá, pois nem mesmo a morte pode calar o canto do poeta, ficará indelével em nossos corações. Sua obra não se dissolverá, pelo contrário deitará rebentos e desenvolver-se-á em novas gerações produzindo muitos frutos. Deleite-se, caro leitor, com seus maviosos versos:
SONETO EM PRECE
Senhor, a madrugada é o meu missal,
os pássaros as vozes de um coral
de cantochões nas folhas que farfalham
às vibrações etéreas que agasalham.

Aqui oro consciente, - anseio o sal
da terra ser, entoo os hinos - mal
eu me concentro meus sentidos falham,
quedo-me ao chão e as minhas mãos se talham.

Ó Mestre, eu não me queixo dos abrolhos,
de me lanhar o rosto, desta festa
de dor e angústia a salobrar meus olhos.

Eu só quisera orientar-me, ó Luz,
pela coroa que te fere a testa,
pelo perdão que deste numa cruz.


          Irrepreensível modelo, este amado Amigo-Poeta. MAURÍCIO CARDOSO FARIA! Nome que soa como uma suave canção,  e que  foi e sempre será um perfeito, belo e inigualável POEMA!  Descanse em paz, meu tão estimado poeta!!!