quarta-feira, 8 de agosto de 2012

UM MUNDO DE ENCANTAMENTO ( "O NORTE FLUMINENSE" - 08/08/2012 )



UM MUNDO DE ENCANTAMENTO
                                              Vera Maria Viana Borges

Agosto é o mês de ventos e queimadas. Uma típica brisa leve, gostosa e faceira nos delicia  em tardes fagueiras e no bailar das folhas há sempre um rumorejo que assanha e mexe com nossa imaginação. Tem um cheiro de tempos de outrora, de um tempo que tentamos resgatar dentro da alma, que surge em flashes, doces e fugidios lampejos, os retalhos que formam a nossa história. 
Descerra-se a cortina! Surpreendemo-nos no dia 14 de agosto de 1950, na inauguração do Cine-Teatro “Monte Líbano”, de propriedade do Sr. Merhige Hanna Saad. Com grande sucesso foi exibido nas noites de 14, 15 e 16, o filme nacional “Carnaval no Fogo”, marcando como era a expectativa geral, um verdadeiro recorde de bilheteria.
               Inventado em 1895 pelos irmãos Lumière para fins científicos, o cinema revelou-se peça fundamental do imaginário coletivo do século XX, seja como fonte de entretenimento ou de divulgação cultural de todos os povos do mundo. Aos poucos os produtores entenderam que astros e estrelas eram indispensáveis para aumentar a popularidade de suas produções. A mistura de business e arte deu certo, criou personagens inesquecíveis, imortalizou ídolos e eternizou cenas onde glamour, sensualidade, beleza e magnetismo eram palavras de ordem. Um mundo de encantamento. Arte poderosa que destinando-se a doutrinar pode-se tornar fonte eficaz para influenciar cidadãos.
Quantos sonhos e quantas emoções nos “ seriados”, nos “cowboys das matinês”, nos“ faroestes”, nos “inesquecíveis clássicos”, nos “policiais” repletos de suspense e ação, nos “religiosos”, nos “musicais”, nas “comédias”, nas “aventuras” e nos “magníficos cartazes” que com ávidos olhos apreciávamos e nem sempre podíamos assistir, eram tempos duros, de verba curta, costumávamos assistir a uma e vez ou outra  a duas sessões por semana, mas nos extasiávamos diante de Fred Astaire, perfeito dançarino, de Marilyn Monroe com gestos sensuais e roupas provocantes, Ava Gardner, morena, sedutora, bonita, divina. Bette Davis, com personalidade forte. Humphrey Bogart no papel de tipos durões, celebridade em filmes clássicos, dentre eles o inolvidável “Casablanca”. James Dean, inquieto, ar indefeso, olhar inocente, o herói rebelde que foi o personagem principal de “Juventude Transviada”. Uma carreira efêmera, mas suficiente para criar o mito. Katharine Hepburn, a “dama rebelde” mostrava beleza, independência, coragem e inteligência. Cary Grant, o galã mais sofisticado do cinema, talentoso, eternamente jovial, elegante e bonito. O gênio do cinema mudo, o inglês Charles Chaplin, de bengalinha, chapéu-coco, sapatos compridos, olhos melancólicos, criador do “Carlitos” que mesclava humor, poesia, ternura e crítica social. Gostosas reminiscências!  É de alma ajoelhada que se incensa o gênio e se reverencia o passado. Merhige disseminou a cultura em Bom Jesus e ajudou a transformá-la neste celeiro de tantos talentos. A este empreendedor em cujo coração tremulavam entrelaçadas as bandeiras do Brasil e do Líbano, a este baluarte, idealista, o nosso reconhecimento, a nossa homenagem, não a que ele merece, mas a que está ao nosso alcance prestar.
Gerou frutos! Paulo Tardin, aos cinco anos, esteve assentado nas primeiras fileiras do “Monte Líbano” na exibição de “Carnaval no Fogo”. Por incrível coincidência, Paulinho Discos como é carinhosamente chamado, tem hoje a ÚNICA cópia do referido filme, em película e DVD e  nem mesmo a produtora possui a preciosidade. Considerado pela mídia e pela opinião pública como o maior colecionador de filmes antigos do MUNDO, tem aproximadamente 31.000 títulos. Aficionado pela sétima arte ele não esmoreceu, foi ao Velho Oeste em busca das fantasias infantís, viajou pela América do Norte entre os Estados da Califórnia, Arizona, Nevada e Utah, conheceu os palcos naturais onde atuavam seus grandes heróis. Tornou-se amigo de antigos mitos das matinês de outrora, dentre eles Roy Rogers, o Rei dos Cowboys, tudo documentado em vídeos e históricas fotografias. Fez amizade também com as “mocinhas” Teggy  Stewart, Virginia Mayo e outros atores como George Montgomery, Harry Carey Jr.,  Frank Coglan Jr. e John Agar. Entrevistado por Amaury Júnior na TV Bandeirantes, pelo Jô Soares na TV Globo. Há matérias  sobre o pesquisador e colecionador de raridades do cinema e da televisão nos maiores jornais do país. Partes do fantástico acervo têm sido apreciadas através de “Mostras” realizadas em NOBRES ESPAÇOS do Rio, São Paulo e outros Estados. Recebeu nas últimas semanas uma equipe de superprofissionais de altíssimo gabarito de um Estúdio do Rio de Janeiro. Filmaram vários pontos de nossa cidade incluindo o “Monte Líbano. Fizeram também tomadas na Zona Rural, para um documentário de 17 minutos que será exibido inicialmente pelo CANAL FUTURA ( Canal de Educação e Cultura do sistema Globo de Televisão) sobre sua vida, trabalho e obra e posteriormente será exibido em Festivais de Cinema no Brasil e no exterior. Deus fortaleça e inspire sempre mais o ilustre conterrâneo, eterno ASTRO, para que ele possa prosseguir espalhando sonhos, entretenimento, cultura, fulgor e rutilância ao povo de nossa doce e encantável terra e a todos os povos do mundo. Avante, Paulo Tardin!

ABDL LANÇA JORNAL


domingo, 5 de agosto de 2012

GRANDES PRESENTES DE DEUS (O NORTE FLUMINENSE- 13/07/2012)


GRANDES PRESENTES DE DEUS
                                                                              Vera Maria Viana Borges
          Apreciar cada momento, como o bom conhecedor de vinhos aprecia um cálice de raro néctar, dando sentido amplo à existência em todas as suas etapas é fundamental, pois a vida é para ser vivida em plenitude.
            Após anos de trabalho, a maioria das pessoas sonha com a possibilidade de um tempo livre para se dedicar a si e à sua família. A aproximação da aposentadoria provoca uma grande expectativa. Chegando  o momento desejado, a euforia costuma acabar e muitos não se organizam no tempo e no espaço. Os dias ficam vazios. Para maior qualidade de vida é importante ter projetos para que possa desfrutar com inteligência a ocasião da conquista de todo o esforço ao longo da vida. Fazer esporte, ler, caminhar é muito bom para o idoso, mas é muito pouco para ocupar todo o seu dia. Mesmo enfrentando mares encapelados é imperioso impedir que as vicissitudes, os reveses, os infortúnios possam recobrir a poesia que nos encanta, a esperança eterna que nos incentiva e anima. Nada poderá eliminar o mistério das coisas e dos nossos sentimentos. Idade serena, idade de perfeito equilíbrio de nossas faculdades, idade suprema, onde se pode doar afinal toda a medida do nosso ser. É o momento de nos entregarmos às tarefas a que nos destinou a Providência Divina.
          O tempo não perdoa. Sentimos sua passagem visível e irremediável sobre nossas faces e sobre nossas almas. Rugas e cabelos brancos colocados sobre nossos traços de outrora, mas continuamos o que são nossas obras e nossos frutos. Somos pais, avós, homens e mulheres de ação.
          A cada dia que passa, novas tecnologias atingem cada vez mais cedo os nossos pequenos. A modernidade faz com que sejam esquecidos pontos e pessoas fundamentais na transmissão de conhecimentos e valores. O aumento da média de vida está levando à descoberta dos avós e sua preciosa função na sociedade.
          A ideia de avó muitas vezes esteve ligada a uma figura antiga, cadeiruda, mulher madura e corpulenta com 40 ou 50 anos que apesar desta idade, parecia uma anciã, usando xale, sentada em uma cadeira de balanço, envolvida com novelos, bordados, tricô e crochê, após o preparo das mais finas iguarias, deliciosas guloseimas que alimentavam a família. A avó moderna, está “antenada”, usa aparelhos eletrônicos, celulares, navega sem dificuldades pela Internet, interage nas Redes Sociais, frequenta Academias de Ginástica, faz Pilates, pratica esportes, lê, escreve, compõe, também costura, faz tricô e crochê e mesmo com a vida dinâmica por natureza, organiza-se em função de uma contínua transformação. Não se discute se o passado é melhor que o presente, nem este que aquele. Os valores morais são inalteráveis, constantes e imutáveis.
          Enquanto os pais estão inseridos no mercado de trabalho, em busca da digna sobrevivência, a  avó dedica-se a um empenho sério, exigente e extremamente positivo, tanto para os netos, como para os seus pais e no fundo, principalmente para si própria. Ela sai ganhando, porque isso a obriga a sair de seus mundos nostálgicos para contar histórias, participar, estar disponível, passear, cansar-se vivendo por eles. Os pais são os principais, os primeiros responsáveis pela educação dos próprios filhos mas a contribuição dos avós pode ser extremamente eficaz e importante. Acompanhá-los aos parques, às praças, estar atentos àquilo que veem na TV, programando o uso da mesma com seriedade e prudência e monitorando o uso do Computador, são funções que escondem riquezas imensuráveis. Orientações que são passadas sem pressa e sem medo por quem já percorreu o caminho e que com sabedoria são generosamente transmitidas para que seus descendentes se tornem pessoas íntegras e felizes. Os mais velhos transformam assim sua atual disponibilidade de tempo numa autêntica ação educativa. Uma educação com liberdade e limites em prol do ideal da paz, a PAZ que CRISTO trouxe aos homens, do ideal do dever cumprido, da fé , da esperança e do amor frutuoso que promove a paz, a harmonia e o amor, preciosidades para as famílias e para o mundo. Avós são pais duas vezes, isto nos traz o CÉU ao chão. Amor gratuito, nada se exige em troca, apenas um sorriso nos leva ao Paraíso.
          A natureza é sábia, nos premia com os netos que dão prosseguimento ao ciclo da vida e vêm nos lembrar todas as possibilidades de recomeço, vêm renovar trazendo luz e sonhos, enchendo de júbilo as nossas vidas. A chegada deles é bálsamo que tem a capacidade de perfumar e curar, incentiva à esperança e alegria transformando em tranquilidade e PAZ o nosso viver.  Grandes presentes de DEUS.
          “Grandes coisas fez o SENHOR para nós, por isso estamos alegres”.

NOSSA LÍNGUA, NOSSO PATRIMÔNIO (O NORTE FLUMINENSE-13/06/2012)



NOSSA LÍNGUA, NOSSO PATRIMÔNIO
                                                                                      Vera Maria Viana Borges
“Última flor do Lácio inculta e bela!” Olavo Brás dos Guimarães Bilac refere-se ao fato da Língua Portuguesa ter sido a última língua neolatina formada a partir do latim vulgar, falado pelos soldados da região italiana do Lácio.
A língua é um código, um sistema de sinais de que serve o homem para a comunicação falada ou escrita. É um fenômeno social da mais alta importância, é o veículo do conhecimento humano e a base do patrimônio cultural de um povo. A linguagem coloquial é espontânea, usada sem preocupações com formas linguísticas. É a fala cotidiana, que comete pequenos, mas perdoáveis, deslizes gramaticais. A vulgar é própria das pessoas sem instrução, livre de convenções sociais, infringe totalmente as convenções gramaticais. A língua culta compreende a língua literária, empregada na literatura e constitui o espelho de todas as normas da nossa gramática.
A língua consegue ser ao mesmo tempo de todos e de cada um de nós. Há pessoas que moram nas cidades, outras moram no campo. Há os que trabalham em indústrias, em lojas, em escritórios. Há músicos, poetas, jogadores de futebol, estudantes, empresários, metalúrgicos, engraxates, professores, médicos, advogados, químicos, programadores de computador... Cada grupo de profissionais desenvolve uma língua própria cheia de palavras e expressões técnicas que muitas vezes não são compreendidas por quem não participa desses grupos. Contamos ainda com os “regionalismos”, um patrimônio vocabular próprio e típico de cada região, e mais a invasão e incorporação de termos estrangeiros, sobretudo a crescente e indiscriminada utilização dos mesmos no âmbito profissional. Muitas vezes para entendê-los precisamos de dicionários de vários idiomas a tiracolo. Fazendo reserva em Hotel, para o que é necessário enviar “comprovante de depósito”, a atendente poderá lhe dizer: enviaremos o seu “voucher”. O que é? O “voucher”. Voucher? Sim, voucher! Não seria mais fácil usar os termos que temos, como “comprovante ou recibo”? O inglês invadiu salões de beleza, restaurantes, a mídia, lugares de compras, propagandas, nomes de grifes nacionais, etc. Não entendo o uso de palavras inglesas quando elas existem na língua portuguesa. O indivíduo que não sabe inglês terá dificuldades quando deparar com - delivery, free, off, play, outdoor, coffee break, beauty hair... 
E, aí, brother, beleza? Será o Benedito? Caramba! Viajei na maionese! Meu Deus, que idioma é este? Loucura! Ó Céus! É gíria, estrangeirismo, gerundismo, modismo. Antigamente falava-se “mentira”, hoje é “caô”. Gafe virou mico. Algumas gírias são iguais em todo lugar, outras não. Gíria, jargão, modismo, o certo é que a maioria dessa enxurrada de palavras acaba na lata de lixo. Mas, há o que permanece, importante fonte de renovação da língua e mesmo tendo origem popular, chega um tempo em que ninguém se lembra mais de onde a palavra veio. A língua é viva, dinâmica e cada grupo cria sua linguagem própria, gerando o economês, o baianês, o internetês ou miguxês, e por aí vai... Gírias são sempre usadas em qualquer idade, o engraçado é que de tanto ouví-las acabamos por repetir e às vezes me pego falando coisas que ficam ridículas saindo de minha boca. Na BABEL contemporânea das linguagens de grupos, entre gírias e jargões, vale a lei do “Salve-se quem souber!” Difícil entender a forma esdrúxula usada pelos internautas: “naum eskreva feitu retardadu na net pq tem jenti lendu o q vc escrevi.” Torna-se necessário conscientizar os jovens para que entendam que ficarão prejudicados tanto na fase escolar como no futuro em suas profissões. O maior temor é que esse disparate venha deturpar ou deturpe a nossa língua compreendida pelo senso comum como pura, ideal e única.
O “Português” está sendo fruto de uma “desnacionalização linguística”. Impôs-se um “Acordo Ortográfico”, já em vigor, onde se pretende fazer acertos no “Vocabulário Ortográfico Comum” aos países que confirmaram tal acordo, sendo que Angola e Moçambique ainda não aderiram. Assim está sendo o nascedouro de um “Português” inventado,  que se abdica de características regionais, perdendo a ligação à raiz que lhe deu a vida, privado de identidade própria. Coragem estudantes, professores e interessados pela linguística. Lutemos, com a certeza que o estilo da mediocridade não chega a lugar algum. Somente o Saber de Qualidade, fruto do Labor Intelectual abrirá as portas para o aperfeiçoamento, para salvaguardar uma das preciosidades mais requintadas, herança valiosa de um povo, que é a sua língua. Cuidemos bem da NOSSA, da nossa tão aviltada, vilipendiada  e maltratada,  ao mesmo tempo tão querida e amada  Língua Portuguesa! Por mais longa que seja a caminhada ela será iniciada com o primeiro passo.