domingo, 5 de agosto de 2012

NOSSA LÍNGUA, NOSSO PATRIMÔNIO (O NORTE FLUMINENSE-13/06/2012)



NOSSA LÍNGUA, NOSSO PATRIMÔNIO
                                                                                      Vera Maria Viana Borges
“Última flor do Lácio inculta e bela!” Olavo Brás dos Guimarães Bilac refere-se ao fato da Língua Portuguesa ter sido a última língua neolatina formada a partir do latim vulgar, falado pelos soldados da região italiana do Lácio.
A língua é um código, um sistema de sinais de que serve o homem para a comunicação falada ou escrita. É um fenômeno social da mais alta importância, é o veículo do conhecimento humano e a base do patrimônio cultural de um povo. A linguagem coloquial é espontânea, usada sem preocupações com formas linguísticas. É a fala cotidiana, que comete pequenos, mas perdoáveis, deslizes gramaticais. A vulgar é própria das pessoas sem instrução, livre de convenções sociais, infringe totalmente as convenções gramaticais. A língua culta compreende a língua literária, empregada na literatura e constitui o espelho de todas as normas da nossa gramática.
A língua consegue ser ao mesmo tempo de todos e de cada um de nós. Há pessoas que moram nas cidades, outras moram no campo. Há os que trabalham em indústrias, em lojas, em escritórios. Há músicos, poetas, jogadores de futebol, estudantes, empresários, metalúrgicos, engraxates, professores, médicos, advogados, químicos, programadores de computador... Cada grupo de profissionais desenvolve uma língua própria cheia de palavras e expressões técnicas que muitas vezes não são compreendidas por quem não participa desses grupos. Contamos ainda com os “regionalismos”, um patrimônio vocabular próprio e típico de cada região, e mais a invasão e incorporação de termos estrangeiros, sobretudo a crescente e indiscriminada utilização dos mesmos no âmbito profissional. Muitas vezes para entendê-los precisamos de dicionários de vários idiomas a tiracolo. Fazendo reserva em Hotel, para o que é necessário enviar “comprovante de depósito”, a atendente poderá lhe dizer: enviaremos o seu “voucher”. O que é? O “voucher”. Voucher? Sim, voucher! Não seria mais fácil usar os termos que temos, como “comprovante ou recibo”? O inglês invadiu salões de beleza, restaurantes, a mídia, lugares de compras, propagandas, nomes de grifes nacionais, etc. Não entendo o uso de palavras inglesas quando elas existem na língua portuguesa. O indivíduo que não sabe inglês terá dificuldades quando deparar com - delivery, free, off, play, outdoor, coffee break, beauty hair... 
E, aí, brother, beleza? Será o Benedito? Caramba! Viajei na maionese! Meu Deus, que idioma é este? Loucura! Ó Céus! É gíria, estrangeirismo, gerundismo, modismo. Antigamente falava-se “mentira”, hoje é “caô”. Gafe virou mico. Algumas gírias são iguais em todo lugar, outras não. Gíria, jargão, modismo, o certo é que a maioria dessa enxurrada de palavras acaba na lata de lixo. Mas, há o que permanece, importante fonte de renovação da língua e mesmo tendo origem popular, chega um tempo em que ninguém se lembra mais de onde a palavra veio. A língua é viva, dinâmica e cada grupo cria sua linguagem própria, gerando o economês, o baianês, o internetês ou miguxês, e por aí vai... Gírias são sempre usadas em qualquer idade, o engraçado é que de tanto ouví-las acabamos por repetir e às vezes me pego falando coisas que ficam ridículas saindo de minha boca. Na BABEL contemporânea das linguagens de grupos, entre gírias e jargões, vale a lei do “Salve-se quem souber!” Difícil entender a forma esdrúxula usada pelos internautas: “naum eskreva feitu retardadu na net pq tem jenti lendu o q vc escrevi.” Torna-se necessário conscientizar os jovens para que entendam que ficarão prejudicados tanto na fase escolar como no futuro em suas profissões. O maior temor é que esse disparate venha deturpar ou deturpe a nossa língua compreendida pelo senso comum como pura, ideal e única.
O “Português” está sendo fruto de uma “desnacionalização linguística”. Impôs-se um “Acordo Ortográfico”, já em vigor, onde se pretende fazer acertos no “Vocabulário Ortográfico Comum” aos países que confirmaram tal acordo, sendo que Angola e Moçambique ainda não aderiram. Assim está sendo o nascedouro de um “Português” inventado,  que se abdica de características regionais, perdendo a ligação à raiz que lhe deu a vida, privado de identidade própria. Coragem estudantes, professores e interessados pela linguística. Lutemos, com a certeza que o estilo da mediocridade não chega a lugar algum. Somente o Saber de Qualidade, fruto do Labor Intelectual abrirá as portas para o aperfeiçoamento, para salvaguardar uma das preciosidades mais requintadas, herança valiosa de um povo, que é a sua língua. Cuidemos bem da NOSSA, da nossa tão aviltada, vilipendiada  e maltratada,  ao mesmo tempo tão querida e amada  Língua Portuguesa! Por mais longa que seja a caminhada ela será iniciada com o primeiro passo.

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