sábado, 29 de julho de 2017

LIRA 14 DE JULHO (Publicado no Jornal "O NORTE FLUMINENSE" - 29 de julho de 2017)

LIRA 14 DE JULHO
                                                                                    Vera Maria Viana Borges  
                              Desde a antiguidade o homem se encantou e se deixou arrebatar pelos sons e pelas melodias. Até mesmo os próprios  animais mostram-se sensíveis aos seus encantos. Os povos de civilização mais rudimentar a cultivavam quer para o recreio espiritual ou para o incentivo na luta. Fez sempre parte dos cerimoniais sacros e diz-nos a “Bíblia” que o Rei Davi dançava nas procissões religiosas, à frente da ARCA, desferindo as cordas da harpa. Entre os gregos e romanos ocupou lugar predominante na educação do povo.
                          A música coloriu a minha vida com vibrante força. Foi bálsamo para minha alma e alimento para o meu  amor.  Cultivá-la, é cultivar o que há de mais belo e nobre. Como afirmou o Escritor Espanhol Miguel de Unamuno (1864 - 1936) “Não sei como pode viver quem não leve à flor da alma as lembranças da infância.” Há momentos revestidos de tal transcendentalismo que levando-nos aos páramos da alma nos remetem a um remoto tempo em que vejo minha amada e doce vila onde a música se veste nas roupagens dos dobrados e das protofonias, inebriando o ar com o som dos metais e das palhetas misturado com os vibrantes instrumentos de percussão. Pelas ruas, nas praças e coretos  a  Lira 14 de Julho, altiva, aprumada, exuberante e  mágica  há noventa e cinco anos causando prazer, supremo deleite, seduzindo, cativando e envolvendo a todos num turbilhão de emoções. Foi neste ambiente que vivi até os meus dez anos. A 14 de julho é a  fonte da qual sorvi todo o gosto musical que me acompanha.
                   Há alguns anos, em bate-papo com Geraldo Roseira Soares, obtive informações, examinando documentos que apontam para a fase em que Luís Tito de Almeida (Lulu Almeida), Custódio Soares de Oliveira, Elpídio Sá Viana, Durval Tito de Almeida, Sebastião Magalhães e Elias Borges iniciaram um trabalho de formação da Corporação Musical Lira 14 de Julho, que tem como data oficial de sua  fundação, 14 de julho de 1922.
                          Sem nenhum apoio oficial, os músicos citados, com instrumentos adquiridos pelos mesmos iniciaram a formação de uma banda rosalense que ensaiava nas casas dos próprios músicos. O empenho dos músicos e as possibilidades de se apresentarem, fizeram com que as festas populares de Rosal e adjacências tivessem uma nova atração; uma banda de música, para alegrar os saraus, leilões e ladainhas. Na década de 40, estabeleceu-se em sede própria, à Praça Alzemiro Teixeira e integrou-se à comunidade por meio da participação de tantos quanto revelassem talento e desejassem participar das aulas e apresentações. Importantes cidadãos e músicos fizeram parte da Corporação, dentre eles Feliciano de Sá Viana o introdutor da Música na região,  Tatão Magalhães, Aristides Nobre, Romualdo Sá Viana, Elpídio Sá Viana, Apolinário André dos Santos, Antônio Almeida, Sebastião Gomes Filho (Fio Bernardo), Vergílio Soares de Oliveira, Manoel Rosa (Carapina), Luiz Sá Viana, Antônio Almeida Viana, Professor Sebastião, Dionísio Pimentel, José Alonso Filho, Durval Almeida, Euzechias Tito de Almeida (Tuca, maestro por muitos anos), Dirceu Xavier de Almeida, Dário Xavier de Almeida, Nael, Elias Borges (Liá), Nelsino Gonçalves, Alvim Paulo de Aguiar, Álvaro Gomes de Oliveira, Chipinho, Bem Figueiredo, Tiãozinho, Toinzinho e muitos e muitos outros.
                      No decorrer de toda a sua existência manteve o respeito impresso pela tradição musical que a faz respeitada não só pelo povo da terra mas também por todos que apreciam o gênero e reconhecem a importância da música na formação da cidadania. Sua sede recém-ampliada com o apoio da municipalidade, sobrevive graças ao incentivo dos rosalenses e admiradores de outras plagas. As aulas de música  proporcionam sadia convivência entre professores e alunos. Creio que Euterpe o deus da música, esteve sempre atento a esta corporação e o Pai Eterno esteve sempre abençoando este punhado de abnegados, que roubando horas de seus afazeres ou a seus ócios, contribuíram grandemente não só para o recreio espiritual e aprimoramento estético, cultivando o que há de mais nobre e salutar  em nosso espírito, o gosto do belo.
                                 Em 1997 houve em Rosal, magnífica e esplendorosa festa, com extenso e bem elaborado programa para comemorar os 75 anos da sua tão importante Corporação Musical. De parabéns todos aqueles que se empenharam para a concretização do notável evento: o então Presidente Petrônio Gonçalves Figueiredo, o Tesoureiro Geraldo Roseira Soares, demais membros da Diretoria, o competente Regente, Maestro José Luiz Vargas, os componentes da Lira e toda a comunidade rosalense. Foi apoteótica a execução do dobrado “Capitão Caçula” (um dos meus preferidos, quando pego o acordeão é com ele que faço o aquecimento) e do Hino Nacional por todas as bandas; protofonia que encheu de vibração  o ar  com o som de palhetas, metais e percussão elevando-nos aos distantes páramos dos sonhos da nossa infância, e do magistral sonho de Luís Tito de Almeida (fundador), belamente realizado. 
                             Fabiana Morais,  Anselmo Júnior Borges Nunes, o Maestro Cely Tinoco, Regente da Banda e Professor de Música na sede da Entidade, o Presidente Ailton Alves e demais componentes da Diretoria, Luiz Tito Nunes de Almeida e demais músicos e muitos outros apoiadores e incentivadores da emérita Entidade são dignos das mais significativas homenagens e de efusivos aplausos pois estão dando seguimento àquela linda História iniciada em 1922. Dentre os músicos da nova geração destaca-se Davi,  filho de Fabiana, com apenas dez anos.
                       Nas comemorações dos noventa e cinco anos o Reconhecimento merecido e justo da Câmara Municipal de Bom Jesus do Itabapoana, por iniciativa do Vereador Paulinho do Adílio conforme ele mesmo declara: “É com imensa alegria e muito prazer que às vésperas da Lira 14 de Julho completar 95 anos de existência, venho informar que através de uma lei de minha autoria a nossa querida Lira 14 de Julho, que é orgulho dos rosalenses e de todos os que conhecem Rosal, tornou-se um PATRIMÔNIO CULTURAL, IMATERIAL, SOCIAL E TURÍSTICO do nosso Município. Bem mais que ser homenageada é merecidamente ser reconhecida, agora, através desta lei, já sancionada pelo Prefeito Roberto Tatu, a Lira está apta a receber recursos através de convênios nos âmbitos Municipal, Estadual e/ou Federal.” 
                              Parabéns, Vereador Paulinho, pela feliz iniciativa, nossos agradecimentos pelo relevante feito. Deus, Nosso Senhor, o abençoe juntamente com sua linda família.
                   AVANTE, LIRA AMADA! Aguardamos ansiosos pelas comemorações do CENTENÁRIO!!!

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