quinta-feira, 8 de março de 2018

BANDA DO INSTITUTO DE MENORES (Publicado no Jornal O NORTE FLUMINENSE - 28 de fevereiro de 2018)

             BANDA DO INSTITUTO DE MENORES 

                                                                                             Vera Maria Viana Borges

                                “Assim diz o Senhor: Eu não perdi o controle da tua vida, está tudo no meu tempo. Não há nada atrasado.” Nada acontece por acaso e para tudo há o tempo certo. Hoje em dia ouve-se com frequência, “temos que viver o presente, o passado é passado e o futuro a Deus pertence”, mas, não se faz História sem resguardar o passado. E o futuro, como ignorá-lo? Temos que fazer projetos e executá-los para que a oportunidade nos encontre preparados.
                         Em 1962, aos dezessete anos prestei Concurso para o Magistério e iniciei a minha Carreira Profissional na Escola Maria da Conceição Pereira Pinto, na Usina Santa Maria, em Bom Jesus do Itabapoana/RJ.  Em 1964 fui removida para o Instituto de Menores Roberto Silveira na sede do Município, instituição mantida pelo Centro Popular Pró-Melhoramentos de Bom Jesus. A princípio, a professora era paga pelo Centro Popular que conseguiu do então Secretário de Educação a designação de duas professoras contratadas pelo Estado para ter exercício naquele estabelecimento, uma boa economia e também ótimo aproveitamento para os alunos que tinham apenas uma professora. Quando cheguei, concursada, trabalhei com a saudosa Mestra Alcélia Diniz e com Sucena Maria Seródio Amim. Dois anos de muito aprendizado, acho que mais aprendi do que ensinei. Havia muitos garotos levados, mas a maioria com olhos ávidos e ouvidos atentos buscavam através da aprendizagem alcançar um futuro promissor, uma vida melhor e felizmente muitos aproveitaram a oportunidade e são mais que vencedores. Muitas saudades daquele tempo. A ordem era mantida e era muito rígido o sistema. Após as aulas eles se dirigiam ao refeitório onde era servida uma deliciosa refeição feita pelas cozinheiras Zeny e Amélia. À tarde iam para o Ensino Profissionalizante. Havia muitas oficinas em funcionamento e mesmo com embaraços por falta de recursos para a aquisição de matéria prima,  estiveram em atividade a aprendizagem de marcenaria, de fabricação de malas, de vassouras, de encadernação, de funilaria e sapataria, com um índice de aproveitamento bastante satisfatório.  Atuavam também na Granja, onde recebiam ensinamentos práticos de agricultura. Para o coroamento de todas estas disciplinas, havia aulas de Música ministradas pelo ilustre Maestro Raul Lopes da Costa que ali formou a BANDA DO INSTITUTO DE MENORES que também faz parte da História Musical de Bom Jesus do Itabapoana.
                          Recebi, dias atrás, uma solicitação de amizade no Facebook. Certifiquei-me e reconheci um querido ex-aluno do Instituto, Domingos José dos Santos. A sua aproximação fez-me reviver aqueles bons tempos do Instituto de Menores. Em nossa primeira conversa ele já se expressou: “Jamais me esquecerei de cada experiência vivida naquela “Instituição Mãe” que me trouxe benefícios imensos durante os dez anos em que lá estive. Para começar, meus parabéns por ser colunista de uma Organização tão expressiva e conceituada, como o nosso “O NORTE FLUMINENSE”,  onde tive o meu primeiro emprego quando me desliguei do Instituto de Menores. Ali, eu fui encadernador (profissão que aprendi com o Professor Arnaldo de Jesus) a convite do grande bonjesuense Dr. Luciano Bastos, meu particular amigo”.
                      Além de aluno da MARCENARIA, Domingos dedicou-se também aos estudos de Música e fez parte, da surpreendentemente bela e encantadora Banda. Enchia de alegria e satisfação a todos que ouviam e viam os meninos, uniformizados, elegantemente perfilados, de peitos estufados executando as mais variadas e maviosas melodias, desfilando pelas ruas de nossa cidade. Faziam parte da Corporação os alunos Francisco Theodoro, José Sezareth, Cipriano Soares,  Flávio Panes Barbosa, Humberto Diniz, Eclayton Panes Barbosa, José Teles dos Santos, Sebastião Galdino, Francisco Piolho, João Batista Lauriano, Trilhinho, Joaquim José, William, Antônio de Souza, Luís Carlos Camilo, Raimundo,  Domingos, Rolinha, Adalmir,  Antônio de Souza, Elias da Conceição e Carlos Alberto Pinto. Muitos deles se sobressaíram: Francisco Theodoro foi para a Banda da Polícia Militar de Minas, William, para a Banda da Polícia do Estado do Espírito Santo e Adalmir foi para a Banda do Exército. Antônio de Souza, Elias da Conceição e Carlos Alberto Pinto foram para o Exército, seguiram carreira, mas, não como músicos.
                     Domingos foi para o Exército, onde tocou na Banda por 14 meses. Deu baixa no Exército e voltou para o Instituto e ajudou o Maestro Raul, como sub-regente. Nesse período participou das Bandas de Bom Jesus, de Apiacá, São José do Calçado, Natividade e Itaperuna, mas sempre dando prioridade aos trabalhos da nossa inesquecível Banda do Instituto. Conseguiu uma vaga gratuita no Conservatório de Bom Jesus e estudou segundo ele, com o maior músico e maestro que já conheceu, o saudoso Professor José Carlos Ligiero, seu grande inspirador. Contou-me de uma outra grande professora e amiga que passou pelo Instituto, Maria Eliza Borges Figueiredo que lhe deu a maior oportunidade de sua vida, como músico. Seu marido, o saudoso Evandro Figueiredo o levou para fazer uma prova na Banda da Polícia Militar de Niterói. Foi aprovado e aos 21 anos se incorporou àquela banda que na época era regida  pelo itaperunense Édimo de Abreu. Resolveu deixar a carreira militar e seguir novos caminhos profissionais, mesmo tendo na música a sua maior forma de expressão. Formou-se em Administração de Empresas, Gestão Imobiliária e trabalhou durante 22 anos no ramo da Hotelaria e Turismo, mas a música nunca saiu de sua alma e nem de seu coração. Voltou a estudar e bacharelou-se em Regência pela  Academia de Música Lorenzo Fernandez/RJ.  Atualmente exerce a função de Professor de Música na Rede Pública, tanto Municipal quanto Estadual, em Duque de Caxias, preparando Bandas, Fanfarras, Orquestras de Câmara com flautas doce e Canto Coral. Atua também como Coordenador Geral de um grande Colégio particular e como regente e formador de Coro em várias Igrejas daquele Município da Baixada Fluminense.
                        Carinhosamente ele conclui: “Quanto a minha vida de orfandade, antes da ida para o Instituto de Menores, eu me lembro pouco. Sei que aos dez anos de idade, por ordem do juizado de menores, eu fui para lá. Mas isto não me importa. A verdade é que ali eu pude conviver com grandes educadores que direta ou indiretamente, trouxeram grandes benefícios para a minha formação: Dona Ledyr do Canto Mascarenhas, que foi uma espécie de segunda mãe para todos nós daquela época,  Dona Thieria Gomes Faial, Dona Cenira Fontes Feitosa, Salvador de Moraes, Wenceslau Caetano e muitos outros.
                           Tempos saudosos e extraordinárias recordações...  Agradeço sua atenção e carinho, querido Domingos, e ao Deus Pai Todo-Poderoso rendo louvores pelo seu EXEMPLO DE SUPERAÇÃO, pelo seu TALENTO e por não se afastar da MÚSICA, que das ARTES é a que mais sublima a alma.
                              Parabéns, Maestro Domingos José dos Santos!!!

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