quinta-feira, 8 de março de 2018

BANDAS DA NOSSA HISTÓRIA (PUBLICADO no Jornal O NORTE FLUMINENSE - 27 de janeiro de 2018)

                         BANDAS  DA NOSSA HISTÓRIA 

                                                                                                 Vera Maria Viana Borges
                                                                                                         
                     “A música é celeste, de natureza divina e de tal beleza que encanta a alma e a eleva acima da sua condição” (Aristóteles). Uma boa música nos transforma, nos eleva, nos acalma, nos toca profundamente e nos leva a um estágio de paz. É arte, sendo a linguagem da alma que se expressa através da voz, de instrumentos  musicais e outros artifícios.  Aqui no Vale do Itabapoana ela floresceu abundantemente.
                     Segundo registro garimpado pela historiadora Maria Cristina Borges, no ano de 1900 já existia na Barra do Pirapetinga uma banda musical, fundada e regida pelo Professor Joaquim Teixeira Magalhães (Quinca Magalhães). A Banda era formada por seus filhos Josino Teixeira Magalhães, José Teixeira Magalhães, Sebastião Teixeira Magalhães (Tatão Magalhães, um dos fundadores da Lira 14 de Julho, de Rosal) e outros membros de sua família, somando 14 músicos. A Banda era mantida pelos Teixeira Borges e o principal incentivador foi Antônio José Borges, o Borginho. Por volta de 1926 seus componentes eram: Sebastião Teixeira Magalhães, Joaquim Teixeira Borges, Elias Moraes Borges, Antônio Teixeira Borges (Antoninho), Adolfo Moraes Borges, Rui Borges de Moraes, Leny Xavier Borges, Alcebíades Justino, Alcides Lima, João Justino, Aristides Nobre e Pedro Roza. Em reconhecimento ao trabalho dos Teixeira Borges, Tatão Magalhães compôs o dobrado intitulado “TEIXEIRA BORGES”.
                       Feliciano de Sá Viana e Ambrosina de Sá Viana, meus bisavós, chegaram à Fazenda da Prata, oriundos das Minas Gerais em 1862. Apaixonados por música, decidiram adquirir um piano, o primeiro do Vale do Itabapoana, a princípio tocado por um escravo vindo de Diamantina, pianista dos bons. Forte foi a emoção aos primeiros acordes que quebraram o silêncio daquelas matas e daqueles cafezais. Passaram os Sá Viana a organizar saraus, atraindo pessoas da vizinhança e alegrando sobremaneira a todos os que vinham dançar e apreciar as bem executadas valsas da época. Contratou-se a seguir o Professor “João Lino”, iniciou-se assim a realização do sonho do fazendeiro. Os filhos, Romualdo, Eulália, Aureliano, Adélia (Sinhazinha), Elpídio, Henrique, Malvina, Adolfina (minha avó), Mulata, Adelaide, Diana, Abílio e Julinho se entusiasmaram e logo formaram conjunto com clarinetas, trombones, contrabaixos, Sax Horn, requinta e piano. 
                     Mudando-se para a Fazenda União, mais próxima de Rosal, ficou mais próximo de seu amigo e compadre Luís Tito de Almeida (Lulu), sogro de seu filho Elpídio que desposara Elzira. Lulu já se contagiara com a música e se tornara músico ardoroso, o que transmitiu também à sua descendência. Era presença constante em suas festas. Tocavam em ladainhas, casamentos e festas em geral, até que um dia reuniram-se Lulu (Luís Tito de Almeida), Elpídio de Sá Viana, Durval Tito de Almeida, Custódio Soares de Oliveira, Sebastião Magalhães e Elias Borges, iniciando o trabalho de formação da Corporação Musical 14 de Julho, que tem como data oficial de sua fundação, 14 de julho de 1922. Continua firme e vibrante com retretas nas praças, espalhando vida e alegria por onde passa, com suas marchas, dobrados e peças do cancioneiro popular.
                     Chico Gomes também veio de Minas, casou-se com Ana Alves Pimentel, oriunda do “SACRAMENTO” e do matrimônio advieram dez filhos,  Júlio,  José, Sebastião, Francisco  (Quiquito),  Amélia, Itelvina, Mário (pai do Dr. Antônio Bendia), Cecílio,  Honorelino e Álvaro,  criados na Fazenda Barra Funda no distrito de Rosal. Já trouxe de sua terra a paixão pela música e em especial pelo bombardino que executava com maestria. Convivendo com os Sá Viana  que  já haviam feito repercutir o gosto musical naquela região, os filhos cresceram com a hereditariedade dos dons musicais e com a influência do meio. Então pai, filhos, sobrinhos, afilhados e vizinhos mais um compadre de Varre-Sai que além de tocar clarineta era maestro (Maestro Ernestino), formaram para os festejos de SANTANA em sua Fazenda, no ano de 1911, a Banda que marcou época, a Banda do Chico Gomes: Mário e Honorelino tocavam sax, Júlio batia o bumbo, José Gomes e José Pimenta tocavam contrabaixo, Sebastião tocava trombone, Quiquito e o maestro tocavam clarineta, Álvaro e seu  pai que  era o  próprio  Chico,  o  dono da  Banda tocavam bombardino, João Laurindo tocava barítono, enquanto seu sobrinho Dionísio e Antônio Laurindo tocavam piston. Constantemente havia encontro das Bandas. Chico Gomes era avô do Dr. Antônio Bendia de Oliveira, nosso confrade da Academia Bonjesuense de Letras, tio-avô do emérito Professor Héliton Dias Pimentel, avô do Ilustre Professor Anízio Gomes Pimentel e bisavô da ANÍZIA MARIA AGUIAR PIMENTEL, da Escola de Música JEMAJ MUSICAL. Elemento de uma Banda tocava também na outra; foram se casando e misturando as famílias e finalmente todos se tornaram parentes, acabando praticamente numa só família.
                        Reinava paz e muita harmonia entre os laboriosos incentivadores da música de nossa amada terra, as famílias se entralaçaram com os casamentos dos filhos e as almas se uniram na fraternidade, no amor e no idealismo. Tudo era motivo para festejar. Não tocavam somente em festas, tocavam também apenas para eles próprios, para o enlevo da alma, cultivando das artes, a mais bela e nobre, e enchendo de alegria aquele sertão.
                      Elpídio de Sá Viana (meu tio-avô) organizou na década de 40 uma filarmônica em São José do Calçado. Inicialmente contou com cinco de seus filhos: Luís, Antônio, Feliciano (Nenem), Hélio e Geraldo, todos excelentes músicos e procurou completar o grupo com elementos da localidade a quem ministrava aulas. A filarmônica recebeu o nome de “Euterpe São José”, mais tarde passou a “Lira 19 de Março”, apresentando-se impecavelmente uniformizada e executando sempre com perfeição o vasto e  riquíssimo repertório.
               A Lira Operária Bonjesuense nossa amada, aplaudida  e admirada “Furiosa” foi fundada e registrada no dia 12 de dezembro de 1940. 
           Música é saúde, música é vida. Quem canta seus males espanta. Já dizia William James: “O pássaro não canta porque está feliz, mas sim está feliz porque canta”. Vamos à VIDA!

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