domingo, 28 de dezembro de 2014

ESSA TAL FELICIDADE (Publicado no "JORNAL O NORTE FLUMINENSE" - 16 de dezembro de 2014)

ESSA TAL FELICIDADE
                                                                                            Vera Maria Viana Borges
                É, 2014 passou depressa. Neste 30 de novembro, início do ADVENTO, o domingo está acinzentado e cai uma leve garoa. Bom sinal. Graças a Deus ! Estávamos precisando de chuva e nos dias anteriores já tivemos boas pancadas. A água é fonte de vida, é uma necessidade de todos os seres vivos, animais e vegetais, e um direito e patrimônio dos humanos, devendo cada um de nós zelar pela utilização racional dela no tocante à quantidade e qualidade. Estamos enfrentando a escassez deste precioso líquido, com a destruição incessante de mananciais e poluição das águas dos rios e oceanos que apontam para tempos difíceis. Apesar das benesses da chuvinha gostosa e bem-vinda, o tom cinzento do dia nos deixa nostálgicos e enquanto lavava a louça pus-me a cantar os lindos versos de  Vinícius de Moraes: “Tristeza não tem fim/ Felicidade sim/ A felicidade é como a pluma/ Que o vento vai levando pelo ar/ Voa tão longe/ Mas tem a vida breve/ Precisa que haja vento sem parar...” Mais outras músicas vieram... Se a canção é boa, nós a cantarolamos sem parar e ela não sai do nosso pensamento, volta e meia ela retorna e de novo a entoamos. A voz forte, sempre grave, segura e carregada de Tim Maia, marcada pela rouquidão vinha e ia  neste refrão: “Mas o tempo foi passando e a coisa mudou/ Solidão foi se chegando e se acostumou/ Essa tal felicidade, hei de encontrar/Mesmo se eu tiver que aguardar, se eu tiver que esperar.” Muitos são os artistas, compositores, escritores e poetas que exploraram e exploram o tema num eterno lamento por não encontrarem  este bem tanto desejado. João Carreiro e Capataz, uma dupla da música sertaneja brasileira, formada por cantores mato-grossenses, que fizeram parte da trilha sonora das novelas PARAÍSO e ARAGUAIA exibidas pela REDE GLOBO, em estilo  sertanejo - romântico gravaram: “Buscando a felicidade/ A minha infância perdi/ Já se foi a mocidade/ Tenho que parar aqui/ Só me resta agora a vida/ Que um dia irá também/ Se a felicidade existe/ A minha está com alguém./ Já cansei de procurar, já cansei...”
               Todos nós buscamos essa tal felicidade, mas se a busca é  ferrenha, incessante, parece doença e o sintoma é de INFELICIDADE. A cada amanhecer Deus nos dá muitas e muitas chances para sermos felizes: o ar que respiramos, a água que dessedenta, o sol que nos aquece, a saúde e milhões de outras coisas. Ela não estará no prazer material, em baladas e eventos sociais, nada disto preenche, estas coisas são passageiras, são fáceis conquistas, são prazeres transitórios. Hoje os primeiros desejos são comumente amor, saúde, dinheiro, ser sarado, magro (o padrão atual é ser magérrimo), usar roupas, acessórios de grife e viagens.  ELA SERÁ ENCONTRADA NAS COISAS SIMPLES. Muitos a encontram, mas poucos a conquistam, pois é mais frequentemente buscada no “TER”, às vezes no “SER” e quase nunca no “ESTAR”. Ter, tem pouca duração, é algo transitório que passa muito rápido e nem deixa marcas. Ser, é permanente e duradouro, é essencial, é qualidade, é estado. Ser feliz é o estado de feliz, de ventura, de contentamento, de sorte. O SER é muito mais importante que o TER, mas o “ESTAR”, estar feliz é objetivo alcançado.
                Vale registrar uma trovinha que escrevi e que se encontra em meu livro “DE-VERAS... DI-VERSOS...” : “Felicidade a supomos, Mas nós nem sempre a alcançamos,/ Querendo além nunca a pomos, Nunca a pomos onde estamos.” Na obsessão em busca da tal felicidade muita coisa passa despercebida e o que está tão perto, o óbvio muitas vezes não é notado. O indivíduo fica cego almejando objetivos maiores e deixa de apreciar as grandiosas coisas e brilhantes pessoas que caminham ao seu lado. Sentimento, coração e alma andam juntos ao encontro do sucesso, da sorte, da ventura, do contentamento, do amor e da tal felicidade. Talvez o milagre de ser feliz esteja diante de nossos olhos e deixamos passar a circunstância adequada e favorável. Quando lecionava Língua Portuguesa, trabalhei numa turma de oitava série, um belíssimo texto, soneto alexandrino, versos clássicos do Célebre GUILHERME DE ALMEIDA. Ele comparava a amada ao sol porque ela traria luz e calor à sua alma. Os maviosos versos descreviam seu imenso sonho, mas ele sonhou em demasia afastando-se completamente da realidade não conseguindo conquistar a mulher amada. Apreciem o texto “ESSA QUE EU HEI DE AMAR...” de Guilherme de Almeida que transcrevo na íntegra: “Essa que eu hei de amar perdidamente um dia/ será tão loura, clara, e vagarosa, e bela/ que eu pensarei que é o sol que vem, pela janela,/ trazer luz e calor a esta alma escura e fria./ E, quando ela passar, tudo o que eu sentia/ da vida há de acordar no coração, que vela.../ E ela irá como o sol, e eu irei atrás dela/ como sombra feliz... -Tudo isso eu me dizia,/ quando alguém me chamou. Olhei: um vulto louro,/ e claro, e vagaroso, e belo, na luz de ouro/ do poente, me dizia adeus, como um sol triste.../ E falou-me de longe: “Eu passei a teu lado,/ mas ias tão perdido em teu sonho dourado,/ meu pobre sonhador, que nem sequer me viste!” Muito lindo e real!!!
                    A felicidade reside dentro de cada ser. Ela não pode estar além de nós, ela é Deus e Deus habita em cada coração que se abre a ELE. De nós depende a nossa felicidade, o nosso estado de espírito, estarmos alegres ou tristes. Somos responsáveis por nosso destino. Ela não depende dos outros, mas de nós mesmos. Cuidemos do momento presente para que nosso futuro seja alvissareiro e feliz. “Quem planta vento, colhe tempestade.”  Vamos plantar amor, otimismo, paz e fé, para colhermos os frutos do contentamento, da alegria e da felicidade. Quem sabe se esquecermos um pouco de nós e nos dedicarmos aos outros, não encontraremos a tal felicidade? E, se de mãos dadas seguirmos proferindo palavras de conforto e carinho, tendo um sorriso de bondade, cumprindo eficientemente todas as nossas tarefas sendo constantes para FRENTE e para o ALTO, mantendo-nos firmes na busca do nosso ideal, a verdadeira felicidade será permanente em nossas vidas?
               Nos rituais natalinos e de final de ano, a esperança de dias harmoniosos, plenos de amor e de felicidade completa. É hora da lista de boas intenções, de arrependimentos e de reconciliação. Hora de adotar rotinas e mudar o necessário. Que o NATAL nos ensine a sermos portadores daquela mesma LUZ que brilhou na gruta de Belém, a luz de um mundo mais fraterno e menos violento, mais solidário e menos egoista.
              Um Santo e Feliz Natal, caro leitor, e um Ano Novo repleto de saúde, paz, alegrias e FELICIDADE!!!

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