terça-feira, 9 de julho de 2019

ANTÔNIO MIGUEL (Publicado no Jornal O NORTE FLUMINENSE - 29 de junho de 2019)

 ANTÔNIO MIGUEL
                                                                        Vera Maria Viana Borges
          Fazendo uma limpeza geral aqui no cantinho onde escrevo e que insisto chamar de escritório, remexendo nos livros, revistas e jornais, fiz um circuito da saudade, uma volta ao passado. Encontrei tantas preciosidades e desandei a pensar em tantos que já se foram para a Casa do Pai. Dentre tantas publicações, que lia e relia, parei em páginas do Antônio Miguel que me encantava com suas crônicas publicadas na primeira página do Jornal O NORTE FLUMINENSE e de seus imarcescíveis sonetos. Para mim um Homem de notável capacidade intelectual, um gigante da literatura. 
          Gigante sim, este escritor maior, serafim entre os poetas. No nome tem Miguel, nome de anjo, o príncipe das milícias celestes, e nós, no Universo das Letras o podemos aclamar, não por analogia ao nome, mas pela beleza de sua alma retratada em páginas literárias, o grande serafim.
          Esgrimista do verso, guardião do Soneto, preserva a forma, exercendo técnica perfeita num conteúdo que o eleva ao alto do Parnaso. Talento inconfundível quer nos versos clássicos ou nas expressivas crônicas, sensíveis, que pelo colorido e pela espontânea inspiração agradam e encantam o leitor, dignificando e enaltecendo as letras deste noroeste fluminense e como não afirmar, de todo este imenso Brasil.
           Natural aqui das terras do Senhor Bom Jesus, da nossa adorável Bom Jesus do Itabapoana, descendente de ilustre família libanesa.  Dedicou-se ao Comércio em Santa Maria de Campos. Professor de Ensino Fundamental, Jornalista, Cronista e Poeta de fina sensibilidade, pertencendo a inúmeras entidades culturais e inclusive é um dos fundadores da Academia Bonjesuense de Letras. Entre suas obras destacam-se “SOMBRAS e REFLEXOS” (poesias); “A VIDA E EU” (romance); “ELZA” (romance); “RETALHOS” (crônicas), dentre muitas outras.
           Saudades! Saudades sim, de abrir nossos jornais e poder ouvir a voz deste digno representante da intelectualidade pátria, de nos embrenharmos em seu mundo de palavras que nos fazem sonhar, ou nos sacodem em safanões, fazendo-nos despertar de alguma inércia ou imperfeição do dia a dia.
            Nos temas cotidianos, exalta o desabrochar de uma flor, o nascer de um novo dia, o entardecer, um sorriso descontraído, o amor à musa, sua adorável esposa Letice, mesmo após tantos e tantos anos, como nos arroubos da juventude; o amor aos filhos, e com doces e ternos cantos aos adorados netos, onde está a sua imortalidade, além de ser imortal através da pujante obra literária que permanecerá por todo o sempre, através dos tempos.
        Deixou de publicar, ausentou-se de nossas folhas, aquietou-se, deixando a caravana passar e assim foi por longo período. Escrevi-lhe dizendo: Ainda há muito tempo, assim esperamos que o Deus Pai Todo-Poderoso o queira, e ELE há de querer, de ouvirmos à viva-voz sua encantável prosa e também sua poesia, querido Antônio Miguel! Deleite-nos com seus adoráveis textos, com suas encantáveis poesias, estamos saudosos e a sensibilidade que traz na alma, muito poderá contribuir para elevar a nossa cultura e propiciar dias melhores diante de agruras por que atravessa o nosso país, com hiatos deliciosos através da leitura, deste “GIGANTE” que não pode estar adormecido. Ele permaneceu em silêncio. Residia  em Campos, mas nos finais de semana que passava em Santa Maria de Campos vinha a Bom Jesus aos domingos pela manhã para comprar Jornais e muitas vezes ele e Letice passaram em minha casa. Gostava que eu arranhasse alguns tangos no acordeão. Nossa prosa era poética, falávamos sobre versos e poesias.
          Há alguns anos o Pai do Céu o convocou, mas sua obra continua viva, a encantar-nos. Para matar saudades e para os que não tiveram o prazer de conhecê-lo, registro a seguir dois de seus sempre belíssimos sonetos: “DIVAGANDO// Fui algo no passado. E venho de outras eras./ Cruzados combati; fui cavalheiro errante.../ Estradas percorri montado em Rocinante;/ Fui D. Quixote, sim, o herói de mil quimeras.// Aventureiro infrene eu percorri com Dante/ O Inferno. Exterminei, também, bravias feras;/ E decantei a Vida em muitas primaveras!/ - Fui tudo, enfim: fui poeta, herói, gozei bastante.// Palácios orientais, luxuosos e imponentes,/ Outrora conheci, amei lindas donzelas,/ Filhas de duques e barões tão insolentes.// Nada mais do que fui, nada mais sou agora./ E em mim hoje só resta, após visões tão belas,/ Uma sombra fugaz das ilusões de outrora.”  Mais uma pérola do notável sonetista: “ FASCINAÇÃO// Exerces sobre mim uma atração imensa!/ E sinto que te adoro assim perdidamente.../ És a fascinação que envolve a minha crença/ Na trama de um amor febril, forte, eloquente...// Se longe estás, não sei viver; minh’alma sente/ Uma tortura estranha, uma saudade intensa,/ Que me maltrata, enerva e dolorosamente/ Clama sempre por ti, requer tua presença.// Chega, querida: em mim encontrarás um ser/ Que na atração do teu olhar busca, inspirado,/ O frenesi do amor na taça do prazer.// E delirando assim ante a ilusão sentida,/ Iremos caminhando, unidos, lado a lado,/ Glorificando o sonho, eternizando a vida!”
             Já estando em contato direto com a literatura maior dos anjos e santos, resta-nos dele apenas uma saudade manhosa. A ele rendemos a nossa homenagem de respeito e amizade.
                Descanse em Paz, Antônio Miguel!!!

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