segunda-feira, 13 de junho de 2016

ENVELHECENDO (PUBLICADO NO JORNAL "O NORTE FLUMINENSE" - 29 de fevereiro de 2016)

ENVELHECENDO
                                                                                              Vera Maria Viana Borges
 
                                    Velho? Velho não. Idoso. Tudo a mesma coisa, velho e idoso são sinônimos, assim diz o dicionário. Para suavizar há quem diga IDOSO, assim como para obeso se diz FORTE, para grosseiro é usado ESPONTÂNEO. Não é uma questão de sentido da palavra e sim de preconceito. A palavra velho é rejeitada porque está contaminada do descaso com que são tratadas as pessoas quando se referem a elas: OS VELHOS. Pensando bem se olharmos o sentido ao pé da letra vamos constatar que velho é de época remota, antigo, desusado, antiquado, obsoleto. Ai, é de doer! Verdade que já não se tem a mesma força produtiva e consumista da juventude, mas não se pode chegar a rotulá-los como desusados, antiquados e obsoletos. Os estragos da idade são inevitáveis. Alimentação inadequada, estresse, sedentarismo, álcool, drogas, fumo e até as condições climáticas  aceleram o envelhecimento. Tão ruim quanto viver menos, é viver mal : a memória falha, a estatura encolhe, a pele resseca, a gordura aumenta, os músculos enfraquecem, os reflexos diminuem, o coração cansa, os pulmões enrijecem. Feliz daquele que chega com saúde aos melhores anos, repleto de sabedoria adquirida ao longo do tempo bem vivido. A fluidez do tempo conduz sem distinção pessoas de todas as raças e de todas as classes ao envelhecimento. Começamos a envelhecer no momento em que nascemos. Por que discriminar se todos indistintamente, chegaremos lá? Só não fica velho quem morre cedo. Estamos no mesmo barco. Assim caminha a humanidade. Prova desta sequência são os interessantes versos da música “Velhos e Jovens” da cantora Adriana Calcanhotto : “Antes de mim vieram os velhos/ Os jovens vieram depois de mim/ E estamos todos aqui/ No meio do caminho dessa vida/ Vinda antes de nós/ E estamos todos a sós/ No meio do caminho dessa vida/ E estamos todos no meio/ Quem chegou e quem faz tempo que veio/ Ninguém no início ou no fim/ Antes de mim/ Vieram os velhos/ Os jovens vieram depois de mim/ E estamos todos aí.”
                    A Fonte da Juventude existe? Na corrida pela vida a preocupação com a longevidade deixou em segundo plano o interesse pela qualidade. O importante é viver bem. O melhor é dar mais vida aos anos do que simplesmente dar mais anos de vida.  A alma não tem idade. A mente jamais envelhece, a não ser que se permita. Não é minha intenção fazer apologia ao rejuvenescimento, não se trata de se submeter a tratamentos em clínica luxuosas que prometem apagar os sinais da idade como se passassem uma borracha nos vincos da pele. Claro que se deve manter uma aparência agradável  e saudável. A higiene pessoal, os cuidados com a pele , com os cabelos e com a saúde têm que ser mantidos, pois quem não se ama, por si se enjeita. Cada ruga e cada sinal são LUZES, são sinais de SABEDORIA, são marcas registradas pelo tempo que proporcionaram os SABERES que marcam a vitória. Jamais prefira o transitório ao eterno, nem prefira a beleza à sabedoria.
                         Parar de trabalhar é começar a morrer.  Aposentar?  O pré-aposentado sabe que em futuro bem próximo desfrutará de um “status” bem diferente daquele que costumava ter durante todo  o tempo que esteve trabalhando e teme provavelmente, com muita razão, que dos novos papéis lhe advenham situações menores. A possibilidade de afastamento dos colegas de trabalho, muitas vezes transformados em amigos pessoais, gera uma natural apreensão. E o medo da solidão e da dificuldade financeira? Claro, temos direito à aposentadoria, o que não se deve é acomodar no sofá e só colecionar dores. Há uma infinidade de coisas a serem feitas. Prevenir é o melhor remédio. Enquanto na ativa devemos manter os objetivos, as pretensões, os sonhos e o desejo de sempre aprender coisas novas. As pessoas não entendem que podem prevenir bem cedo a maioria dos males comuns à terceira idade ou “melhor idade” como muitos costumam dizer. Agindo desta forma a oportunidade vai nos encontrar preparados para darmos novo e melhor rumo à nova vida.
                                 A idade biológica não corresponde à idade cronológica. Conheço velhos de vinte anos e jovens de oitenta.  Comparemos pessoas nascidas numa mesma época a carros fabricados no mesmo ano. O carro que foi bem cuidado pelo proprietário terá um desempenho muito maior e melhor do que aquele que sofreu acidentes e não passou por uma boa revisão. Assim, alguém com setenta anos, gozando de perfeita saúde pode perfeitamente sentir-se como se tivesse sessenta, ou quem sabe cinquenta? Mais uma vez a prevenção entra em evidência. Nosso mal é acreditar que o envelhecimento só começa quando pode ser visto no espelho. Uma enxurrada de experiências e fascinantes descobertas entusiasmam velhos e JOVENS. O jogo da longevidade começa a ser decidido na adolescência. A longevidade é algo que se ganha desde cedo. “Tu és o arquiteto do teu próprio destino. Trabalha, espera e ousa.” Wilcox
                               Há um provérbio chinês que diz: “O segredo da longevidade é comer a metade, andar o dobro e rir o triplo.” Machado de Assis em suas obras há mais de cem anos referia-se ao velho de cinquenta anos, hoje, homens de oitenta, noventa e alguns com até mais anos dançam e praticam esporte. Aquela imagem de velho de pijama sentado na cadeira de balanço, sem andar, sem fazer qualquer esforço, sem ir à padaria,  já passou, graças a Deus.
                                  A auto-estima tem que estar sempre em alta. Assim sendo, pessoas que têm objetivos, que correm atrás de seus sonhos, que têm desejo de aprender algo e seguem projetos e expectativas, que gostam de si mesmas e dos demais, terão com certeza um envelhecimento muito mais saudável e independente.
                                 Que a juventude do nosso espírito ilumine o nosso corpo, tenha ele a idade que tiver. Vamos agitar as massas. Vamos em frente que atrás vem gente. Como canta a Adriana Calcanhoto: “Antes de mim vieram os velhos/ Os jovens vieram depois de mim/ E estamos todos aqui/ No meio do caminho dessa vida/...  E estamos todos no meio/ Quem chegou e quem faz tempo que veio/ Ninguém no início ou no fim/ Antes de mim/ Vieram os velhos/ Os jovens vieram depois de mim/ E estamos todos aí.”

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