quinta-feira, 14 de novembro de 2013

CALÇADO DE TANTOS PRIMORES (Publicado no Jornal "O NORTE FLUMINENSE" - 10/11/2013)

CALÇADO DE TANTOS PRIMORES      
                                                                                 Vera Maria Viana Borges

                      Entrando no Facebook deparo-me com postagem de Wender Vinícius Carvalho de Oliveira, calçadense (atualmente residindo no Rio de Janeiro), amigo dileto, um destes meninos de ouro, que ouve Chopin enquanto estuda Direito Penal. Um rapaz inteligente, zeloso, devoto da Virgem Maria, estudante de Direito, Pesquisador do Programa Institucional de Iniciação Científica na  Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ. Amante das Artes e da Literatura, tão empenhado e envolvido, que ainda tão jovem (completará vinte anos no dia 02 de fevereiro de 2014), já é membro da Academia Marataizense de Letras (Confraria de Artes, Cultura e Letras de Marataízes-ES, cadeira número 18, patronímica do Poeta Elmo Elton Santos Zamprogno. 
                 E, no FACE o Wender desabafa: “É uma pena estar tão longe de Calçado. Sem dúvidas, é a cidade mais bela, por ser a minha aldeia, de onde vejo o mundo, como diria o poeta. Só desejo que o frescor de suas montanhas azuladas, oh Calçado, e o doce perfume de suas flores jamais se percam em mim!”  O poeta por ele referido é Fernando Pessoa que assim se expressou: "Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo... Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer. Porque eu sou do tamanho do que vejo e não do tamanho da minha altura..." ("Da Minha Aldeia" In: O Guardador de Rebanhos). Prossegue o Wender com  trecho da “BALADA A SÃO JOSÉ” de autoria de Pedro Caetano: “Eu lhes falo de uma Cidade onde a tranquilidade escolheu para morar. Vive entre montanhas e flores e os trovadores se perdem a sonhar. Eu queria que o meu coração descobrisse a canção mais bonita que há e cantasse prá minha Cidade, com toda saudade que tenho de lá. São José, São José do Calçado! Como eu tenho sonhado com você São José... Como vai essa gente querida qu'inda é minha vida. Como vai São José?”  
                   Berço de gente boa, nobre, hospitaleira, amiga e altaneira.   Cenário de belezas, de encantos naturais, de passado culto e heróico, marcado por filhos ilustres que com galhardia lançaram a semente que caiu em terreno fértil, fato comprovado pela colheita de sazonados frutos,  saboreados pelo povo honrado neste presente  glorioso onde se cultua a FÉ e a CULTURA. No topo da Colina estão os ícones, os quatro pilares guardiões de sua bagagem ética, espiritual e  intelectual:  A Igreja Matriz de São José, a Escola Mercês Garcia Vieira (Colégio de Calçado), a sede da Academia Calçadense de Letras e a tradicional Biblioteca Municipal Homero Mafra.                             De autor desconhecido é sempre repetido o aforismo: “Posso não ter quase nada, mas sou calçadense e basta!” Do  exímio Poeta Edson Lobo Teixeira a encantadora cidade  recebe rica e expressiva declaração de amor: “Debrucei meus sonhos/ em tuas montanhas/ deixei meu amor/ se envolver no perfume/ das flores de teus jardins...” E, finalizando diz  Edson: “Sou teu filho!/ E amo-te tão profundamente/ que me agasalhei/ nos braços de São José/ para jamais abandonar-te, Calçado!” Assim se refere Pedro Teixeira em um de seus livros: "A cidade é pequena, mas gosto muito dela. Tem coisas que talvez não encontre mais em outros lugares. Suas ladeiras, duas praças, seus jardins com palmeiras que quase alcançam os céus e até seus casarões com assoalho de meter medo em qualquer um"(In:"Memórias de um Menino Pobre que Sonhava ser um Grande Escritor"). O Dr. José Carlos da Fonseca, no primeiro quarteto e segundo terceto de seu imarcescível soneto “História de Minha Terra” revela-nos a origem de sua denominação: “Ao colo destas serras verdejantes,/ Nestas paragens ínvias e remotas,/ Trouxeram os antigos viajantes/ Uma imagem calçada em suas botas. ...E assim se transformou a velha aldeia,/ Na cidade feliz, de vida cheia,/ E que hoje é São José e do Calçado.” 
               A “Cidade Simpatia entre Montanhas e Flores” é berço de Geir Campos,  poeta, jornalista e ativista cultural de grande presença e influência na literatura brasileira e de muitos outros vultos ilustres que brilham nos mais variados setores por este mundo afora e que têm demonstrado acendrado amor à terra natal. Berço de notáveis que lhe impulsionaram. Quantas gerações transpuseram os umbrais do COLÉGIO DE CALÇADO, fruto do sonho de Dona Mercês e do empreendorismo de Pedro Vieira,  realidade que frutificou e se multiplicou miríades de vezes!  Neste ano está sendo comemorado o centenário da nobre e generosa Professora e Diretora Mercês  Garcia Vieira. Quantos recebem as benesses da Academia Calçadense de Letras, guardiã da HISTÓRIA e da CULTURA, que se preocupa com a formação de crianças e jovens propiciando-lhes oportunidade de apresentações em todas as solenidades! Incansáveis e profícuos  o Presidente Edson Lobo Teixeira, a Secretária Maria da Penha Borges de Rezende Teixeira, a Diretora Maria Dolores Pimentel Rezende e demais membros, insopitáveis a conduzem, tornando-a uma das mais dignas e atuantes do país. Tem sede própria, fruto do amor e abnegação da família de um dos seus mais ilustres membros, Dr. José Carlos da Fonseca, de saudosa memória, personalidade que desempenhou importantes atribuições, como Deputado Estadual-ES, Deputado Federal, Diretor administrativo do Banestes, Diretor do IBC, Vice-Governador do Estado do Espírito Santo, Procurador do INCRA e Ministro do Tribunal Superior do Trabalho.
                Saindo de Bom Jesus, seguindo a sinuosa rodovia já nos encantamos com as belas flores à beira da estrada, com a florada na serra, com os ramos buliçosos, com a brisa suave, com a amenidade do clima de montanha que nos garante deliciosa temperatura. Ao pisarmos seu  solo enchemo-nos de júbilo. O meu primeiro contato com Calçado foi numa apresentação de acordeonistas no Cine-Teatro São José, devia ter oito ou nove anos, nosso Professor de Música, Sebastião Ferreira, mais conhecido como Maestro Bastião fazia exibições com seus alunos por toda a região, inclusive por vários anos nos apresentamos nas Festas de Agosto, na Praça Governador Portela em Bom Jesus. Sempre visitávamos o tio Elpídio Sá Viana e seus filhos. Tio Elpídio, competente Maestro, formou a filarmônica “Euterpe São José”, hoje “Lira 19 de Março” (composta inicialmente por  seus filhos Luís,  Antônio, Feliciano, Hélio, Geraldo e outros elementos da comunidade),  corporação que manteve o respeito pela tradição musical que a fez respeitada não só pelo povo calçadense mas também por todos que apreciam o gênero e reconhecem a importância da música na formação do cidadão. A música nos enleva e em se tratando de Calçado não posso olvidar o  vozeirão do Antônio João,  não podendo deixar de citar o Luís Fernando Pimentel que tem nos agraciado com louvores e glórias na Matriz do Senhor Bom Jesus. Aos doze anos já frequentava a cidade em visitas à  tia Enói e tio Euclydes , tia Dalva e tio Francisco Glória, tia Rita e tio Manoel Vieira, muito amáveis e mais tarde nossos padrinhos de casamento. Bons tempos aqueles!
                  São José do Calçado esplendorosa e bela, cantada, decantada e exaltada em maviosos versos... Calçado terra de tantos amores, tantas delicadezas e de tantos primores!


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