quinta-feira, 14 de novembro de 2013

FESTA DE AGOSTO (Publicado no Jornal "O NORTE FLUMINENSE - 23/08/2013)

FESTA DE AGOSTO
                                                                            Vera Maria Viana Borges
   Ao ensejo da festa magna do nosso Município, a nossa adorada Bom Jesus se engalana para receber filhos ausentes e ilustres visitantes que num congraçamento e na mais perfeita comunhão de ideais promovem as emoções do reencontro.
   O colorido das barraquinhas, aguça, entusiasma e alegra a criançada. Pelas ruas cata-ventos, bolas, pirulitos, algodão-doce, maçãs-do-amor graúdas e bem vermelhas. Barracas de Chope com música ao vivo. Exposições! Bandas de Música! Alvoradas! Shows magníficos com festejados artistas do Cenário Nacional. Fogos de Artifício, com grandioso espetáculo pirotécnico...
   No dia 02 começam as procissões da “Coroa” em honra ao Divino Espírito Santo, ao som do “Alva  Pomba”, contribuição do saudoso Padre Antônio Francisco de Mello que aqui chegou em 1899, falecendo em plena Festa de Agosto, a festa que tanto amava, no dia 13, no ano de 1947, pedindo que não fossem interrompidos os festejos... O bom pároco, foi parte integrante de nossa comunidade. Padre Mello ajudou a construir a NOSSA HISTÓRIA, viveu intensamente, lutou, trabalhou muito nestas terras. Não se descuidando da educação religiosa, ensinava, rezava e cantava com o seu rebanho. Milhares de batizados e casamentos foram celebrados por ele. Engenheiro e Arquiteto, remodelou a Igreja, erguendo-lhe uma das torres em 1931. Belíssima a nossa Matriz! De rara sensibilidade, Jornalista e Poeta, deixou o excelente literato, páginas douradas, registrando fatos com fidelidade, depositando-os no repositório fiel da MEMÓRIA! Quem não se lembra de seu Poema “Morrer Sonhando” na voz forte e vibrante do saudoso Salim Tannus, na abertura dos festejos, todos os anos, no dia 13, após o hasteamento das Bandeiras?
   15 de AGOSTO! A Igreja celebra nesta data a Assunção de Maria... Por que então se promove a Festa da Coroa e do Cetro do Divino, nesta época, aqui em Bom Jesus?
   Agucemos nossos ouvidos, no tempo...
   ...Por volta de 1780 chega ao Brasil, vinda de Portugal a Família Teixeira de Siqueira. Um de seus membros, Francisco Teixeira de Siqueira, fixou residência em Rio Pomba, na Província das Minas Gerais. Indo trabalhar na Fazenda de Domingos Gonçalves Magalhães, em 1810 casa-se com a  filha do patrão,  Felicíssima Roza de Oliveira. Após o falecimento de Francisco em 1855, dez de seus quatorze filhos vieram aqui para esta região. A chegada da Família Teixeira de Siqueira marcou o início das Festas do Divino. Quando para cá vieram receberam das mãos da Srª Felicíssima,  as “Relíquias da Coroa e do Cetro do Divino Espírito Santo”, vindas de Portugal, com a autorização do Senhor Bispo de Mariana, Minas Gerais, para serem guardadas na casa da referida família e com a recomendação de trazê-las para a Fazenda  da  Barra    (Barra do Pirapetinga-Bom Jesus), e posteriormente entregá-las à Igreja do Arraial para que se observassem orações, novenários, procissões com visitas às casas de famílias e Oratórios. Continuaram cumprindo a devoção. Faziam procissões entre fazendas onde se mantinham Oratórios. A cada ano se escolhia os Provedores da Festa.
   Transcorria o ano de 1863, era maio, tendo estado gravemente enfermo o menino Pedro Teixeira Reis, neto de Dona Felicíssima, seus pais Joaquim e Jovita, prometeram ao Divino Espírito Santo que se o menino ficasse curado, ele seria vestido a caráter, como Imperador da Guarda da Coroa e do Cetro. Com a sua cura, dirigiu-se o pai  à Corte para comprar as roupas e cumprir a Promessa. Iniciou-se assim a presença de um Imperador à tradição da Festa do Divino.
   Em 1875, foram iniciadas pelo Padre José Guedes Machado, as obras de nossa Igreja, sendo concluídas em 1878. Neste ano os Provedores da Festa foram os casais: Francisco José Borges (bisavô de meu marido) - Anna Roza Teixeira (ela filha de D. Felicíssima) e Antônio José Borges - Bárbara Roza Teixeira, filhos do casal anterior, sendo ele do 1º matrimônio de Francisco e ela do 1º matrimônio de Anna. Com o casamento (segundas núpcias) de seus pais eles também se casaram , com doze e quinze anos respectivamente. São os avós do nosso 1º Prefeito, o ilustre José de Oliveira Borges. Em cumprimento às determinações entregaram  solenemente as “Relíquias” ao Padre José Guedes  Machado, para que a Igreja desse continuidade à devoção. Em maio de 1879 - o 1º Novenário na Matriz.
   Em 1897 D. Francisco do Rego Maia, Bispo Diocesano, nomeia para servir a Bom Jesus o Reverendíssimo Padre Antônio Francisco de Mello. Somente em 1899 chega o referido Vigário à nossa Paróquia, encontrando aqui as mesmas tradições de sua terra, Portugal, quanto às Relíquias. Conservou-as. Devido à colheita do café, ocorrida  no mês de maio (época em que se comemorava a tradição da Coroa), transferiu  a Festa da Coroa ou do Divino para o mês de agosto e assim passou a se chamar FESTA DE AGOSTO.
O padre acrescentou aos ritos  o belíssimo hino Alva Pomba de autoria do Padre Delgado, da Ilha de São Miguel em Portugal. Ainda hoje a Banda o executa enquanto os fiéis cantam nas procissões.
   Em 1956 com a  substituição do Pároco de Bom Jesus, interrompeu-se a celebração por 27 anos. Somente em 1983, quando o Padre Paulo Pedro Seródio Garcia (descendente dos Teixeira de Siqueira) assume a Paróquia do Senhor Bom Jesus é retomada a tradição.
   Que o Divino Espírito Santo como fogo ardente e abrasador ilumine e aqueça com Sua Graça  os corações de todos  os bonjesuenses, abençoando as terras do Senhor Bom Jesus e este seu povo que ama e tem fé.
   Transcorra sempre em paz a NOSSA FESTA!...  

Nenhum comentário:

Postar um comentário